ARSÉNIO CHAVES PUIM

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Sobre a justiça e reconhecimento que a ilha, deve a este ilustre mariense, reforço o que escrevo, no final desta minha investigação, em jeito de singela homenagem, por amizade e gratidão.
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Rubrica: PATRIMÓNIO HUMANO DE SANTA MARIA
A figura do ARSÉNIO PUIM
“O apaixonado por Sta Maria, o relevante investigador cultural, o jornalista, o escritor, o humanista e o lutador anti-fascismo”
ARSÉNIO CHAVES PUIM, filho de António Carvalho Puim e de Maria da Encarnaçao Chaves, é um ilustre mariense de gema, que nasceu no dia 8 de maio de 1936, na Freguesia de Santo Espírito, tendo passado a sua infância no lugar da Calheta, onde fez a instrução primária. Faz parte de uma família numerosa de 9 irmãos (4 raparigas e 5 rapazes), sendo ele o único filho ainda vivo, assim como três das irmãs.
Ainda adolescente, ingressou no Seminário de Angra, onde completou o Curso de Teologia em 1960. Exerceu a função de sacerdote durante 15 anos, sendo mais de metade desse termpo na Igreja de S.Pedro, na ilha de Sta Maria. Aquando das Comemorações dos 400 anos daquele templo, em 2011, Arsénio Puim expressou assim: “Não sou natural desta freguesia, mas tendo com ela uma indelével ligação, que me deram 8 anos de vivência aqui na década de 60, como pároco, é com alegria e emoção que recordo tão significativa efeméride e expresso o meu carinho à sua comunidade”.
Em paralelo com as funções sacerdotais, ainda foi professor de História e Português no Externato do Aeroporto, Santa Maria, na década de 60.
O humanista e defensor da liberdade Arsénio Puim, foi ativista pela democracia e opositor político ao Estado Novo, tendo participado em movimentos contra o regime antes do 25 de Abril. Foi signatário da Declaração de Ponta Delgada, manifesto da candidatura à então Assembleia Nacional do Major Melo Antunes, pela oposição democrática, em 1969
Em 1970, foi mobilizado para a Guiné Bissau, como Capelão Militar e patente de Alferes, tendo lá desenvolvido, além das suas funções sacerdotais, uma luta pela liberdade e de combate a injustiças decorrentes dos ideais e ações fascistas, o que lhe valeu a detenção pela PIDE e a expulsão do Batalhão e do CTIG, em Maio de 1971.
Luís graça, um camarada militar do Arsénio Puim na Guiné, no seu Blogue, escreve assim uma das lutas/insurgimento dele, assim como as consequências do seu arrojo:
“O Puim, enquanto português, capelão de justiças e corajoso oficial do Exército Português, insurgiu-se, protestou ou chamou a atenção para a situação desumana, degradante, em que viviam, numa espécie de galinheiro, em Bambadinca, velhos, mulheres e crianças que foram “recuperados” de uma tabanca no mato, sob controlo do PAIGC (que “eles” chamavam, pomposamente, “áreas libertadas”, na famigerada áera do Poindon / Ponta do Inglês onde levámos muita porrada ao longo da guerra…)!
(…)Alguém, discreto, fez-me chegar a nova de que algo de grave se passava com o Puim. Fui ver. Encontro o Puim sentado na cama, nervoso mas determinado, olhando uns sujeitos que impiedosamente lhe desmantelavam o quarto descarnado, de asceta, à cata de … Abriam, fechavam gavetas, apressados … Acabei expulso do quarto. (…) O que fizeram depois ao Puim, os seus comandantes, os do BART 2917, o AC e o BB, foi de uma grande pulhice humana.”
Regressado aos Açores, ainda exerceu alguns anos de sacerdócio, opondo-se sempre à ligação “promíscua” entre a Igreja e o Estado Novo, participando ativamente em movimentos contra o Regime Fascista e lutando pela democracia. A sua ficha da PIDE, existente nos arquivos da torre do Tombo, atesta o quanto ele incomodava o Regime Fascista.
Mais tarde, enveredou por outros caminhos e concluiu o curso de enfermagem, em 1976, profissão que, de forma competente, exerceu até ao ano de 1995, quando se aposentou. Casou-se com Maria Leonor Garoupa Albergaria Bicudo, em 1979 (sendo a constituição de uma família um dos móbis que o fez sair do clero), teve dois filhos (Pedro e Miguel) e já é avô de outras tantas netas (Maria Emília e Maria Margarida).
Para além da sua nobre riqueza humana e coragem de não se calar e de se insurgir perante ditames políticos e religiosos errados, injustiças e opressões, aprecio, RELEVADAMENTE, o amigo Arsénio Puim, pela sua fina iteligência, vasta cultura, capacidade discursiva, competência de investigação histórico-etnográfica e patrimonial, assim como pela sua produção de escrita jornalística e de livros de suma importância para a memória coletiva e registo documental dos costumes, tradições, história e património físico de Santa Maria.
A acesa paixão, ligação estreita e colada identificação com as suas raízes e “ilha-berço” sempre foram constantes na vida de Arsénio Puim, expressas nas suas bastas vindas e longas estadas na ilha, mas sobretudo nos seus muitos escritos de investigação, defesa, valorização e de promoção da identidade cultural e humana de Santa Maria, não sendo de descurar também a sua ação/contribuição política como vereador e depois Presidente da Câmara Municipal de Vila do Porto, na década de oitenta.
Durante uma cerimónia pública de apresentação de uma das suas obras em S.Miguel, Arsénio Puim expressou que com os seus escritos, para além do contributo documental que possam constituir, “Pretendo manter viva a chama de Santa Maria no seu coração, pois é daquela Ilha que brota o sangue das minhas veias e e a terra que sinto nas batidas do meu coração.” Actualmente, a residir em Vila Franca do Campo, Arsénio Puim diz que “jamais me esquecerei do meu amor à Ilha, que foi meu berço, primeiro agasalhou e me vinculou a alma.” (Correio dos Açores, 2008)
Nas áreas da investigação, da escrita documental e do jornalismo, apresento abaixo alguns dos seus brilhantes e inestimáveis trabalhos:
– Lançamento do desafio/convite a um grupo de marienses, para o avanço da II Série do Jornal “O Baluarte”, tendo sido co-fundador junto com os também reputados marienses João de Braga e José Dinis Resendes. Foi diretor deste mensário entre 1977 e 1982.
– Publicação de articulados jornalísticos em diversos jornais de S.Miguel e de Sta Maria, relevando as muitas publicações, durante mais de 40 anos, no “seu” (nosso) “Baluarte”, de trabalhos resultantes das suas investigações histórico-etnográficas e do património de Sta Maria, assim como das idiossincrasias e modus vivendi do seu povo, tais como: tecelagem (lã, linho, retalhos..) trajes típicos, folclore e folias, trabalhos e alfaias agrícolas (carro de bois, vindimas, debulhas…), festividades religiosas (Natal, impérios e outras), linguajar mariense, baleação, olaria, ermidas e Igrejas, moinhos de vento e azenhas, ribeiras e grutas, tendo sido também um grande companheiro de causas comuns, nomeadamente na defesa e valorização da nossa singular e identitária “casa típica mariense”, que urge de um elenco camarário com sensibilidade e responsabilidade para avançar com um Plano de Salvaguarda.
– Publicação do livro «A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria» (2001). Edição do Museu de Sta Maria e da junta de Freguesia de Sto Espírito.
Trata-se de um livro-documento sobre a baleação na Ilha de Sta Maria, com a imagem de capa da “Foto Pepe”, tendo o autor o dedicado “ A todos aqueles que, com as suas vidas, o seu saber e a sua bravura, e na busca do pão de cada dia, realizaram a história baleeira da ilha de Santa Maria”.
– Publicaçao do livro «O Povo de Santa Maria – Seu Falar e Suas Vivências» (2008). Edição da Câmara Municipal de Vila do Porto.
O livro foi lançado no dia 10 de agosto, de 2008, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, com a apresentação do Senhor João de Braga, que sobre sobre o seu conteúdo expressou o seguinte:
“ Santa Maria passou a dispôr de um documento que será a memória viva, através dos tempos, da nossa índole de povo, que povoou e desbravou com muito esforço e coragem este “naco de terra”, assim como das árduas labutas para nele sobreviver. O Livro reflete toda esta realidade de vida, sendo um autêntico monumento descritivo e etnográfico do linguajar e “modus vivendi” marienses que estabelece uma ligação entre as gerações antigas e as novas.”
No dia 12 de dezembro de 2009, a obra teve relançamentos em Vila Franca do Campo, Vila irmã de Vila do Porto, desde 1984 e localidade onde o Arsénio Puim se radicou, a partir de 1982. Neste Concelho foi colaborador regular do Jornal “A Crença”, vereador e membro da Assembleia Municipal de Vila Franca do Campo e Presidente das Assembleias das Freguesias da Ribeira das Tainhas e da Ribeira Seca. Ainda exerceu as funções de Presidente da Associação de Pais na Escola Secundária de Vila Franca do Campo e de Lagoa, membro da Comissão de Protecção de Menores, membro da Mesa da Santa Casa da Misericórdia, Delegado Sindical (Sindicato dos Enfermeiros Portugueses).
– Publicação do livro «As Ribeiras de Santa Maria – Seus Percursos e História» (2009). Edição do Jornal “O Baluarte”.
A obra foi lançada no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Vila do Porto, no dia 14 de agosto de 2009. Na apresentação do livro, Arsénio Puim expressou que: “A importância das ribeiras de Sta Maria, vai muito para além da realidade física e geográfica, tendo uma relação estreita com a vida das pessoas, apontando alguns dos seus préstimos, tais como o lavar da roupa, colocar o linho de “infusão”, plantação de inhames nas margens, saciar a sede ao gado, força motriz das azenhas, etc.” Relevou também o autor que “As ribeiras também encerram uma marcante vertente histórica. E essa história começou no séc. XV, à altura do povoamento, tendo os cursos de água sido determinantes para a fixação das pessoas e para a sua sobrevivência.”
Quero agradecer novamente “de coração”, ao grande Arsénio Puim pelo reconhecimento público que ele me fez, pelo fato de ter colaborado neste livro e fornecido as fotos das ribeiras que ele descreveu na obra, tendo ficado emocionado quando expressou que “Além de agradecer à Foto Pepe pela imagem da capa, extendo uma gratidão especial ao Professor José de Melo, homem que conhece como ninguém as ribeiras e os recantos naturais de Sta Maria e a quem a ilha deve um trabalho invulgar a favor da etnografia e na defesa abnegada dos fósseis, da geologia, dos animais e do ambiente da mesma”. Vindo de uma ilustre figura, que muito aprecio e me proporcionou referências, suas palavras constituiram (ainda constituem), sobretudo, incentivo para continuar na luta e ação na defesa, valorização e divulgação do património natural e cultural da nossa ilha de paixão.
Relevo, ainda, que este livro e outras obras suas foram apresentadas junto da “diáspora”, no dia 10 de outubro de 2010, no Clube Português de Hudson, tendo recebido grande apreciação e alegria junto dos nossos emigrantes, com os quais ele sempre teve um carinho e ligação especiais.
O distinto investigador cultural, jornalista e escritor Arsénio Puim já recebeu bastos reconhecimentos públicos em S.Miguel (nomeadamente em Vila Franca), junto da diáspora e, por maioria de razão, em Sta Maria, tendo o seu amigo e companheiro do Baluarte, João de Braga, conjugado os eventos das apresentações dos seus livros, na Câmara Municipal de Vila do Porto, com pequenas homenagens ao autor. “Arsénio Puim, é um homem de sentimentos e emoções fortes, muito ligado à sua Calheta e a Sta Maria, atuando sempre nos cargos que ocupou, no Baluarte, na Câmara Municipal e na sua vida profissional, com muita competência e de forma sensata e inteligente. Além de nos presentear com seus escritos fabulosos, tem sempre uma historinha para contar, de pessoas e acontecimentos ligados a Sta Maria, o que faz com graça, humor cativante e uma ternura filantrópica”. (Extrato do discurso do J.Braga, na apresentuação do Livro “O Povo de Sta Maria o Seu Falar”, (10/08/2008)
Outra faceta marcante na vida do Arsénio Puim foi ter sobrevivido ao naugrágio do Arnel, onde faleceu, infelizmente, a sua mãe, Maria da Encarnação Chaves, e também o meu avô Joaquim Soares de Melo, em 19 de setembro de 1958. Três anos mais tarde, o meu pai também faleceu num acidente no mar, tendo ele para mim e para o Arsénio um sabor “agri-doce”, que tanto dá e também tira, “tendo muito do seu sal lágrimas nossas e de Portugal”.
Arsénio Puim é um dos mais eminentes e ilustres filhos de Sta Maria da contemporaneidade, constituindo a sua vasta obra histórico-etnográfica, as bastas funções/ações políticas e sócio-culturais que desempenhou e a sua abnegada luta pela liberdade préstimos inestimáveis e uma honra para Sta Maria e para os Açores.
Defendo que seja alvo de uma homenagem pública, por parte do Município de Vila do Porto, em parceria com a Edilidade de Vila Franca do Campo, no decorrer da Festas do Concelho (15 de agosto); que seja proposto pelos nossos deputados para ser condecorado com a Insígnia Autonómica de Reconhecimento, no dia da Autonomia e que venha a ter uma rua com o seu nome, na Freguesia de Sto Espírito, atribuído pela Junta e Freguesia da sua naturalidade.
– José de Andrade Melo
CADEP-CN* de Sta Maria
(Clube dos Amigos e Defensores do Património-Cultural e Natural)

 

 

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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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