apicultora nos açores

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“Os Açores são um local privilegiado por serem
o único lugar no mundo que produz mel de incenso
e por haver poucas doenças ligadas às abelhas”
trocou o Porto, a sua terra natal, pela tranquilidade de São Miguel e não se arrepende de o ter feito, pois confessa que gosta imenso de viver nos Açores. Todavia, a paixão pelas abelhas germinou mais tarde, em 2014, quando foi desafiada por uma amiga a adquirir uma colmeia. Carolina Ferraz abraçou o desafio e, além de adquirir a colmeia, fez um curso de apicultura.
Sendo Ciências do Ambiente a sua área de formação, trabalhava na área da divulgação científica e, a par disso, tratava da sua colmeia, de forma casual, mas cedo percebeu, conforme refere que “era algo de que gostava imenso e que alia também a questão das plantas. Sou da área de Ciências do Ambiente e achei que podia aliar as duas coisas, criando um projecto na área da apicultura com uma vertente pedagógica.”
Assim, o que era um passatempo tornou-se num trabalho a tempo inteiro, pois Carolina Ferraz decidiu dedicar-se inteiramente a este projecto.
“O ano passado fiz um curso de empreendedorismo, onde expliquei a minha ideia de negócio. Como ganhei o primeiro lugar num pitch, tive a oportunidade de integrar a Incubadora da Universidade dos Açores e resolvi, este ano, dedicar-me a este projecto a tempo inteiro”.
A portuense explicou que, no ano passado, o projecto não passava de uma ideia de aliar a apicultura, à educação e ao meio-ambiente, ideia esta que começou a ser implementada, já este ano, com a preparação dos terrenos para receber as colmeias.
“No final do ano passado, comecei a desenvolver a ideia e este ano estou pô-la em prática, de modo a desenvolver o meu negócio”, afirma a apicultora.
Quanto à escolha do nome, Carolina Ferraz revelou que a quinta onde pôs a sua primeira colmeia chamava-se Quinta Margaridas e, a partir daí, decidiu que todas as suas colmeias teriam nomes de mulheres, além de ter confessado gostar muito do substantivo Margarida, bem como das flores com o mesmo nome, as quais são melíferas e importantes para as abelhas.
O Apiário Margaridas é um negócio familiar, de Carolina Ferraz, do marido e do filho em que todos participam, de alguma forma, neste projecto: “Neste momento, dedico-me a tempo inteiro, o meu marido ajuda-me quando é possível e o meu filho vai participando nas tarefas mais fáceis. Tentamos incluí-lo para que ganhe o gosto pela apicultura, abelhas e meio-ambiente”, avançou Carolina Ferraz.
Em jeito de brincadeira, a apicultora contou que o filho de seis anos, é que controla e atesta a qualidade do apiário, tendo em conta que ele prova todos os méis.
Tendo em conta o trabalho que tem desenvolvido, no dia 15 de Janeiro, o Apiário Margaridas abriu as suas portas a todos os que quisessem participar na plantação de árvores melíferas nativas da Região. Além disso, o evento contou com a participação de três apicultores, nomeadamente José Gomes, Gerbrand Michielsen e Manuel Moniz da Ponte, onde houve espaço para se conversar, em mesa redonda, sobre a apicultura, em diferentes vertentes. Os mais novos não foram excluídos, tendo havido também actividades direccionadas a crianças, com a leitura da história “A Abelha”, uma actividade de exploração intitulada “Quem se esconde no Apiário Margaridas”, entre outras actividades.
“No Domingo passado foi um dia aberto no Apiário Margaridas. Abri o Apiário a quem quisesse participar para me ajudar a plantar plantas melíferas nativas dos Açores. Além disso, como quero incluir um carácter pedagógico, tivemos umas conversas em torno da apicultura com três apicultores e houve actividades para crianças também” recordou Carolina Ferraz.
O balanço que a apicultora faz do evento é muito positivo e superou todas as suas expectativas. Com cerca de 70 pessoas presentes, foram plantadas 320 plantas nativas melíferas, conversou-se sobre apicultura e os mais pequenos exploraram a biodiversidade do apiário.
Uma vez que a sua área está muito ligada à parte ambiental, a apicultora almeja que o mel produzido no Apiário Margaridas tenha uma grande componente de espécies nativas dos Açores: “Pretendo que o meu apiário seja um lugar de aprendizagem que as pessoas possam visitar, aprender e desfrutar da natureza. Ou seja, o objectivo é incluir uma componente pedagógica, não só de produção, mas também de aprendizagem.
Apesar de se encontrar numa fase piloto, o projecto conta já com 52 colmeias. Pode parecer um número elevado, mas, segundo Carolina Ferraz, para quem quer ser apicultor profissional “ainda são poucas colmeias.”
A mentora do Apiário Margaridas esclarece ainda que, neste momento, está a preparar os terrenos, isto é, a plantar nos apiários para poder transferir as colmeias.
“De momento, estou a trabalhar nos terrenos para poder receber as colmeias e prepará-las para a florada de incenso que aí vem, em Fevereiro e Março. Para, futuramente, ter mel é preciso preparar os terrenos onde as abelhas vão estar.”
Quanto ao facto de a apicultura representar uma importante actividade agrícola na Região, Carolina Ferraz considera que não há muitos apicultores profissionais nos Açores. Aliás, a apicultora referiu que são poucos e que se contam pelos dedos de uma mão aqueles que se dedicam profissionalmente à apicultura. “Há muitas pessoas que têm colmeias, mas poucas, e que se dedicam à actividade como um hobby, tal como eu fazia antes.”
Na opinião da apicultora, o mel dos Açores é diferenciador, por ser o único lugar do mundo onde se produz mel de incenso. Aliado a isto, a apicultora considera que o arquipélago é um local privilegiado para a produção de mel, na medida em que existem poucas doenças ligadas às abelhas.
“Os Açores são uma Região imune a determinadas doenças, as quais são muito graves no continente e na Europa, por exemplo, além de que não temos a vespa asiática e espero que não venhamos a ter”, elucidou Carolina Ferraz.
A produtora de mel concluiu a entrevista satisfeita, por entender que “finalmente as pessoas estão a perceber que as abelhas são um animal muito importante, que temos que cuidar e preservar”, alertando que “as pessoas não precisam de ser apicultoras para terem plantas em casa que são importantes para as abelhas, o que faz diferença para toda a gente.”
Carlota Pimentel

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