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Duas perguntas
Há algumas semanas que se tem vindo a notar um acréscimo de participações de pessoas ligadas ao PS nos jornais. São muitos, a publicar quase todos os dias.
Artigos sobre Educação, sobre Saúde, sobre Solidariedade Social, outros pura e simplesmente a deitar abaixo pessoas ligadas ao actual governo regional, crescem as opiniões, sobretudo de deputados socialistas.
Gente que nunca escreveu antes para os jornais, ou que participou muito esporadicamente nos mesmos, surge agora impulsionada por uma febre de protagonismo, por uma necessidade inadiável de marcar presença.
Nunca acreditei em acasos. Tudo na vida tem uma razão para acontecer. E esta torrente de opinião ou maledicência é certamente estratégica. Concertaram, entre eles, que louvar a governação de 24 anos e deitar abaixo a governação que nem tem dois meses é a melhor táctica para derrotar o inimigo. Eles faziam tudo bem, os outros fazem tudo mal. Eles eram muito bons, nalguns casos até os melhores, os outros são muito maus.
Tratando-se de estratégia, só mais tarde será possível concluir se é boa ou não. Como teria sido a Batalha de Aljubarrota se tivesse falhado a táctica do quadrado? Se antes da peleja alguém tivesse perguntado ao próprio Nuno Álvares Pereira se aquilo ia dar resultado, ele certamente não confessaria as suas dúvidas, mas não deixaria de as sentir.
Será que o povo vai apreciar os socialistas a malhar constantemente nos ora governantes? Ou, pelo contrário, não vai gostar de tanta azia e ódio?
Só o futuro o dirá. Mas a estes cronistas de um reino com punho fechado, gostaria de fazer duas perguntas simples. O que queríeis? O que quereis?
Queríeis em outubro nova maioria absoluta, para continuardes a ser os donos disto tudo? Tendo mandado durante vinte e quatro anos, metade do que durou a ditadura em Portugal e um terço da esperança de vida de um cidadão, queríeis ficar no poder eternamente?
Se era esse o desejo, tenho de vos informar que há uma coisa chamada democracia. E a verdade é que a maioria do povo estava cansada da vossa forma de governar, dos vossos processos, abandonos e clientelas. A democracia, a alternância no poder, a necessidade de mudança, não são boas apenas quando vos dá jeito. Portanto, se queríeis mandar nestas ilhas para sempre, temos pena, mas não é possível.
Quanto ao que quereis, a resposta será igualmente simples. Quereis instabilidade política, a queda do governo o mais depressa possível, para terdes de novo o que tivestes durante praticamente um quarto de século.
Por que não deixais este governo fazer o seu trabalho em paz, sem estardes a minar constantemente, em público ou na sombra? Por que não esperais para criticar políticas, demonstrardes que estão erradas, apresentardes propostas na vossa opinião certas, e depois deixardes o povo decidir? Tendes assim tanto medo de que a mudança traga políticas certas, ou que se vá descobrindo com o tempo o quanto as vossas eram erradas e os custos desses erros? Temeis tanto pelo vosso futuro, se tiverdes de voltar às vossas vidas, muitos de vós procurardes emprego, porque nunca trabalharam na vida?
Não espero que me respondam. Durante 24 anos escrevi cartas, fiz perguntas, sem que qualquer de vós tivesse o espírito democrático (ou a coragem) de responder. Talvez fosse estratégia, ignorar o Bulcão. Mas agora que mudastes de estratégia e passastes a fazer das páginas dos jornais receptáculos de propaganda, talvez venha algum, quem sabe todos, explicar o que queríeis, o que quereis.
Não estará nas minhas mãos satisfazer os vossos desejos de poder. Mas estará nas mãos do povo, o soberano julgador. E, pelo que ouço por aí, o povo começa a ficar muito cansado das vossas birras…
António Bulcão
(publicada hoje no Diário Insular)
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