António Bulcão · Não vale tudo

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Não vale tudo
Há oito dias, numa página deste mesmo jornal, Alexandra Manes publicou um artigo intitulado “Dona Sofia e seus dois Duartes”.
É clara a alusão a uma das mais conhecidas obras do brilhante escritor brasileiro Jorge Amado, “Dona Flor e seus dois maridos”. Como é evidente que um dos Duartes é Duarte Freitas, Secretário Regional das Finanças, e o outro é Duarte Chaves, o Diretor Regional dos Assuntos Culturais.
Não analisarei o escrito da dirigente do BE. Quem quiser que o leia. Vivemos tempos em que toda a gente tem opinião, mesmo aqueles que não sabem bem do que falam. Não se informam, não estudam, mas têm “opinião”… E não se trata de não gostar que tenham opiniões diferentes das minhas. Até prezo e respeito quem as tem. Mas que sejam fundamentadas e bem argumentadas.
Imaginemos, então, que Alexandra Manes tinha escrito o que escreveu, mas sem aquele título. E sem começar o artigo desta maneira: “Vivemos tempos em que a realidade é mais estranha do que a ficção. As narrativas vendidas por quem nos governa são muitas vezes dignas da mais cómica e trágica novela de Jorge Amado, que até assusta.”.
Quem leu o livro do conceituado escritor brasileiro fica sem entender o que quer Alexandra Manes. Quem não leu, ficará ainda mais confuso. Qual a intenção da ex-deputada, agora adjunta, mas que prefere assinar como dirigente do BE?
Assegurando nós, que lemos o livro, que Sofia Ribeiro nada tem a ver com Florípedes (Dona Flor), que Duarte Freitas em nada se assemelha a Vadinho, defunto marido da Dona, e que Duarte Chaves será tudo menos parecido com Teodoro Madureira, que vem a casar com a viúva, o que quer Manes? Acrescentando nós que o desenvolvimento do romance não encontra nenhuma ressonância na forma como aqueles governantes exercem a sua actividade política, qual a intenção da dirigente do BE? Sem sabermos, resta-nos imaginar.
1ª hipótese – Alexandra Manes não leu o romance. Mas quis fazer um exercício de humor. Que, como sabemos, sai sempre mal a quem não tem esse dom. Os autores dessas tentativas frustradas de fazer rir, são aqueles que têm de explicar a anedota no fim, na vã esperança de que alguém ria. Sem entenderem que era a anedota que não tinha graça nenhuma…
2ª hipótese – Alexandra Manes leu o livro, sabe que nada tem a ver com os políticos nos quais quer zurzir, mas, mesmo assim, segue em frente. Querendo ofender, tendo o propósito de denegrir, desrespeitando de forma grosseira e leviana.
Não tem desculpa, Alexandra Manes. Quem conhece Sofia Ribeiro, a principal visada no seu escrito, sabe da sua seriedade, da sua competência, do seu conhecimento e experiência. Sobretudo, da sua capacidade de trabalho e espírito incansável para dar o seu melhor em prol da Educação e da Cultura nos Açores. Não merecia este ataque soez. Não vale tudo.
Sobretudo vinda tal ferocidade de uma mulher, que enche a boca em defesa do empoderamento e emancipação das mesmas. Só na teoria, portanto, Porque, na prática, o que fica é uma incompreensível misoginia.
António Bulcão
(publicada hoje no Diário Insular)
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Santos Narciso

Magnífico texto com o refinado humor de sempre
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  • 2 h