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Gente que se julga III
Na última crónica, analisámos a existência de parasitas no nosso sistema político.
Identificámos duas espécies: os parasitas sedentários e os chicos espertos. Uns e outros têm uma característica em comum – quando se apanham no poleiro, nunca mais querem sair dele. O que será compreensível, do ponto de vista deles. A verdade é que, sem a política, nunca ganhariam tanto, quer materialmente, quer na importância social que julgam ter.
Perante esta triste realidade, o povo em geral parece ter-se resignado, assentando a indiferença com que deixa as coisas rolar numa ilusória crença: a de que eles podem encher-se, mas o prejuízo para as comunidades serão inexistentes ou de pouca monta. Nada mais errado.
Até poderia assim ser, se falássemos de gente com honra. Gente que, apesar da sua impreparação para nos representar ou governar, apesar da ambição desmedida, pelo menos assumisse o mandato que recebeu e defendesse quem a pôs lá. Só que não é assim. Pelo contrário.
Chegaram onde chegaram e por lá ficam por lamberem as botas a quem manda e decide. E tudo farão para não caírem nas más graças desse que pode pô-los em casa. Sacrificando princípios, se é que alguma vez os tiveram. Mas sacrificando uma coisa muito mais sagrada: os interesses do povo que os elegeu.
Quem me conhece sabe que gosto mais de factos que de opiniões. Porque os factos provam. E o que aconteceu com o serviço de radioterapia e com o extrator de RNA são factos que não deixam qualquer dúvida sobre o que afirmei acima.
O Hospital de Angra foi construído de forma a poder ter um serviço de radioterapia. Mas tal serviço acabou por ser instalado no Hospital de… Ponta Delgada.
Perguntas óbvias:
1 – Por que construíram as instalações para receber o serviço de radioterapia no Hospital de Angra, se não tinham a real intenção de ele vir a funcionar aqui?
2 – Qual foi o custo adicional da obra de construção civil? Por outras palavras, o que teria custado construir o Hospital sem as ditas inúteis instalações, sendo que terá sido dinheiro deitado fora?
Estas são perguntas que deveriam ser feitas pelos deputados eleitos pelo PS na Terceira. Seis. Mas nenhum deles as fez. Pelo contrário, veio um chico esperto, este mesmo chico e da ilha maior, tentar explicar o inexplicável. Como o papá já tinha feito em relação a tanta coisa…
O extrator de RNA deveria ter vindo para o Hospital de Angra. Mas também foi “desviado” pra o Hospital de Ponta Delgada.
Pergunta óbvia: Por quê?
Na altura em que chegou o aparelho ao Hospital de Ponta Delgada, o laboratório deste era o único certificado para fazer análises ao SARSCOV2? Não. Nem era certificado, ao tempo. O de Angra é que era e estava a cumprir a sua função. Então, por que é que o Governo decide privilegiar um hospital que tem um laboratório não certificado em relação a um hospital cujo laboratório já está certificado e a analisar os testes que, se não fossem efectuados na Terceira, teriam de ir para Lisboa?
Mais uma vez, perguntas que deveriam ter sido feitas pelos deputados do PS eleitos pela Terceira. Mas, neste caso, não só não as fizeram como entraram na defesa inflamada da decisão do Governo Regional.
Triste povo, que elege representantes que, depois, não cumprem a sua nobre missão. Que preferem perpetuar-se nos seus tachos a defenderem os interesses da sua terra. Que são mais fiéis a quem neles manda do que a quem os elegeu.
Vivem num permanente louvor a todas as decisões do Governo. Nada merece a mais pequena crítica. Pelo contrário, tudo merece aplauso inflamado, seja na Assembleia, seja em pobres escritos que vão publicando nos jornais para mostrar serviço.
A ausência de honra que funda tal postura, como já vimos, é natural da parte de quem apenas deseja ser eleito eternamente.
Mas será honrado da parte de quem elege?
António Bulcão