António Bulcão · A mudança na gente, tão precisa e urgente

A mudança na gente, tão precisa e urgente
No fim da passada semana, várias associações de pais e encarregados de educação reuniram com a Secretária da Educação, Sofia Ribeiro.
Representando escolas de várias ilhas, estiveram presencialmente alguns deles, outros on line, mas juntos em vários propósitos: constituírem uma federação, apresentarem propostas relativas a vários aspectos da educação dos seus filhos, contribuírem activamente para a mudança.
Não vieram de mão estendida, e foram recebidos com braços abertos. E o desejo de serem parte da mudança emocionou-me, como professor que o sou há trinta e bastantes anos.
Sobretudo nestes tempos de tecnologias, de excesso de informação e de existência de novos agentes de socialização, como a internet, os motores de busca e as redes sociais, os agentes tradicionais têm de se unir e desenharem rumos e orientações. A família e a escola não podem deixar os seus filhos e alunos perdidos numa “solidão povoada”, como dizia Jorge de Sena.
Serem parte da mudança, frisaram. Conceito que sempre me atraiu, desde jovem. Cantei-a, juntando-me a Camões e a José Mário Branco. Recitei-a, unindo-me a todos os poetas. Tentei ajudar a construí-la, em muitos projectos que criei ou aos quais me juntei. “E se todo o mundo é composto de mudança, troquemos-lhe as voltas que ainda o dia é uma criança”.
Em poucos meses, o diálogo já se impôs como uma necessidade incontornável. Sofia Ribeiro fez questão disso. Com a sua postura humilde, com as aprendizagens de vida que foi colhendo, na sua profissão de professora, no Parlamento Europeu, na actividade sindical, passou a mensagem: estamos juntos nesta missão e só falando uns com os outros poderemos levar a bom porto o futuro dos nossos filhos.
E a semente pegou, em terra sedenta para dar vida. Conselhos Executivos de todas as escolas da Região, professores das mesmas, sindicatos, pais e encarregados de educação, pessoal não docente, funcionários da Secretaria e das Direcções Regionais, todos querem ser ouvidos e são-no, de facto. Propondo, criticando, reivindicando, ajudando. Antes não era assim, dizem… Como poderia não ser, pergunto eu.
Mas não era. Entre as cúpulas não havia diálogo. E menos o havia dos governantes com as escolas, nas suas variadas estruturas. As ordens chegavam e eram cumpridas. Sem discussão. Mandava quem podia, obedecia quem devia. Havia insucesso escolar? A culpa era dos professores. Acções de formação obrigatórias para cima desses incompetentes. Projectos uns atrás dos outros. Continuava a haver insucesso e abandono escolar? Pois paciência, o que se podia fazer?
Ainda hoje, quem esteve no poder 24 anos continua a criticar cada medida, a deitar abaixo, mesmo sabendo no íntimo da sua bondade. Estranha forma de fazer política. Não reconhecer a positividade de certas decisões. Como se houvesse má-fé em quem as toma. Como se quem tem a Educação a seu cargo não quisesse o melhor para as crianças e jovens destas ilhas.
Ficarão, assim, estes velhos do Restelo, fora do comboio da mudança. Mas só porque assim querem. Porque se quiserem fazer parte desse processo, serão certamente bem-vindos. Porque a Educação dos nossos filhos não tem cor. E os nossos filhos ainda menos.
“Seja bem-vindo quem vier por bem”.
António Bulcão
(publicada hoje no Diário Insular)
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  • Samuel Quedas

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    Companheiro e cantautor Bulcão… como já (te) disse noutro lado e citando o poeta, “toda a esperança é legítima”.
    Abraço
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    • 51 m
    • António Bulcão

      Meu Amigo Samuel, sem a menor dúvida. Sobretudo quando é construída, dia-a-dia. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Não me limito a esperar. Carrego os blocos com que se faz a esperança. O maior e sentido abraço.
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      • 48 m
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