ANTÓNIO BARRETO UMA DESILUSÃO

Views: 0

POSTAL DO DIA
António Barreto, uma desilusão
1.
Nos últimos largos anos percebeu-se para onde foi caminhando.
Mas ainda assim nunca fora tão longe como nesta última entrevista ao Sol.
O título fez-me comprar o jornal.
“A justiça do antigo regime era mais séria do que a de agora”
Fiquei aterrado, mas era apenas o início.
2.
Confessou não gostar da gestão que os políticos portugueses têm feito da pandemia.
Disse na primeira parte da entrevista que achava ser imprudente e demasiado rápida a abertura destas últimas semanas.
Mas depois remendou dizendo também que a forma como a pandemia limitou direitos lhe pareceu excessiva, o que certamente daria maus resultados.
3.
Fiquei contente quando afirmou ter gostado do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa nas comemorações do 25 de Abril.
Ah, mas logo criticou o Presidente por ter sido pouco incisivo.
Pena, pois o discurso era bom e foi um bocadinho estragado pela falta de energia.
E claro que Marcelo não falou dos verdadeiros problemas
(Afinal não gostara do discurso que dizia ter gostado)
Ao contrário de outras entrevistas no passado, considerou Afonso Costa ou António José de Almeida duas das maiores pragas dos últimos 120 anos.
Alertou para o crescimento da pobreza e da desigualdade social.
Acha terrível o politicamente correto de pôr os negros na América a ganharem óscares apenas por serem negros.
Chamou tolo a Macron.
Disse não sentir culpa pelas atrocidades na Guerra Colonial por não ter estado lá.
Afirmou que nos Estados Unidos a polícia mata mais brancos do que negros.
E que só se fala disso por eles serem pretos e fazerem um enorme barulho.
Se for um branco a morrer ninguém dá por isso.
4,
Depois a constatação de que não temos indústria.
Que o turismo é frágil pois basta ver o que aconteceu com a pandemia.
Que não temos quem invista.
Que não temos capitalistas.
Que não temos estrutura bancária.
Não temos ciência, não temos tecnologia.
Não temos empresas e as maiores que temos (Sonae, Galp, EDP, PT) estão destruídas.
Depois não gosta de Rosa ou Alexandre.
Detesta os despachos de um e do outro.
Concorda com as propostas da ministra da Justiça, mas acha-as insuficientes.
Jurou que se fosse um capitalista americano, ou inglês ou francês nunca investiria em Portugal.
Diz que nos vendemos a Angola e à China.
Proclama que temos estufas a mais
Estrangeiros sem papéis a mais.
Trabalho escravo, miséria, podridão, caos, polícias que não sabem fazer o seu trabalho…
Detesta o nome bazuca.
E acusa por antecipação o governo pois o PRR não vai desenvolver nada, apenas alimentará a corrupção.
Aliás, se a União Europeia não nos fiscalizar aquilo vai ser uma desbunda ou como ele diz um “piparote”, uma orgia.
Ah, maldito PRR que não tem dinheiro para o investimento privado.
Ah, maldito PRR que está cheio de boas intenções, mas nunca terá instrumentos para realizar nada.
E esses eram os assuntos que deveriam estar a ser tratados pelo parlamento que está mais preocupado em discutir a eutanásia.
Por fim, cansado, extenuado, confessa que não vê nenhuma saída.
E confessa que acha muito bem que o PSD assine acordos com o Chega pois assim mete-os no sistema.
Claro que António Barreto também critica o Chega.
Mas coloca-o ao nível do PCP, igualmente nefasto.
Detesta os partidos dos extremos.
E detesta os partidos de poder.
Todos corruptos.
Mesmo no final da entrevista António Barreto tem um elogio.
Portugal forma bons jogadores e treinadores de futebol…
Mas atenção…
No futebol estão as pessoas mais ordinárias que existem em Portugal.
Só fazemos disparates no Alentejo.
Rebentámos com a indústria têxtil.
Em poucos anos vamos destruir a água, a terra e tudo com tantos olivais.
Também não gosta do cinema que se faz agora, muito mecânico.
E ainda menos das séries, previsíveis
5.
Meu Deus!
Até parece mentira o que aqui escrevi, mas limitei-me a reproduzir algumas das suas respostas.
Não há nada bom em Portugal?
É tudo mau?
Tendo em conta o trabalho que fez na Pordata – onde são visíveis as diferenças esmagadoras entre o que somos e o que éramos – não há nada que lhe apeteça destacar de positivo?
Uma coisa pequenina que seja?
Nada?
É tudo horrível?
É tudo ordinário, decadente, feio, corrupto?
Não há esperança e caminho possíveis?
6.
Caro António
Sinceramente não sei o que lhe dizer.
O senhor foi um privilegiado nestes 50 anos.
Teve todas as oportunidades, todos os convites, todas as mordomias, todo o conforto, todas as condecorações, todos os privilégios e salamaleques.
Não me parece justo que desaproveite a sua experiência, os livros que leu, as pessoas que conheceu e o que o país lhe permitiu que fosse,
não me parece justo dizia que se tenha transformado numa espécie de populista chique que diz todas as banalidades com uma gravidade (e um estilo) que faz crer que não existe mais nenhuma verdade para lá da sua.
Ao ler o que respondeu quase faz parecer André Ventura um menino de coro.
Fiquei triste por si.
E gostaria muito que se iluminasse e nos iluminasse com ideias que contribuíssem para construir alguma coisa.
Uma que fosse.
Não o fazendo é apenas um diletante.
Fica muito bem nos retratos, mas infelizmente traiu-se a si próprio o que é verdadeiramente uma pena.
LO
(da página do Facebook de Luís Osório.
May be an image of 1 person
6
5 comments
Like

Comment
Share
5 comments
View 3 more comments

Mais artigos