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Hoje, há 130 anos, morreu Antero, o Santo Antero que resumiu com desusado brilho o tipo do académico revolucionário e racionalista.
Podemos clamar por poderes, gritar por reformas, fazer correr nas guelras o grito de revoluções desejadas. Continuamos, no entanto, por cumprir quase tudo. Principalmente não cumprimos Antero. Fazemos-lhe bustos e damos o seu nome a artérias urbanos. Somos uma geração de trastes.
Na Mão de Deus
Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.
Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depois do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.
Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,
Selvas, mares, areias do deserto…
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!
Antero de Quental, in “Sonetos”

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