Views: 5
á çã à
Foi a 1 de outubro de 1994 que Amália Rodrigues pisou o Pico, mais propriamente o salão da freguesia da Criação Velha, na Madalena.
O convite foi de Manuel Fernando Bettencourt Nunes, um emigrante madalenense, radicado nos Estados Unidos da América (EUA), com quem a fadista tinha uma amizade, contando este ao Jornal do Pico que “tudo começou quando conseguiu levar a sua irmã, também fadista, Celeste Rodrigues”, numa digressão à América”, pois esta “ficou hospedada na sua residência durante duas semanas”.
“A grande Amália ia, nesse ano, dar um concerto no Teatro Zeithren contratada por uma empresa de Nova Iorque, e foi no final desse mesmo concerto, mais propriamente num restaurante que tivemos a nossa primeira conversa”, conta-nos Fernando Nunes.
Desse primeiro encontro resultaram vários projetos de promoção e produção musical, e conforme nos destaca este emigrante “de coração sempre picaroto e açoriano”, um dos momentos altos “foi, sem dúvida, a realização de um dos maiores concertos entre a diaspóra: em Providence, onde a sala estava completamente lotada”.
De Portugal, para acompanhar Amália Rodrigues, viajaram também
para os EUA, a apresentadora Ana Zanatti e os músicos José Cid, Paulo Bragança e Toy. “Sempre fui um apaixonado pela minha ilha e, por isso, não hesitei em organizar um grande evento na ilha do Pico e recordo-me, com emoção, que a grande Amália, actuou, na Criação Velha, com um vestido verde, o que no mundo do fado não era muito normal”, enfatiza o produtor.
Hospedada no Hotel Pico e visitou Santuário do Bom Jesus em S. Mateus
Ao JP, confessou que a fadista adorou o Pico, e conta-nos um bonito momento: “ A Amália Rodrigues estava hospedada no Hotel Pico e já era final de tarde quando a Lili, secretária pessoal da fadista, me ligou a dizer que ela estava nervosa e queria ir dar uma volta. Fui rapidamente ao Hotel, e fomos passear para a estrada do mato”.
“Nunca mais me esquecerei – a Amália estava de robe, saiu do carro, saudou os lavradores, apanhou bonitas hortênsias, levando-as depois para Lisboa”, refere.
Na ilha montanha, a “aclamada como a voz de Portugal”, visitou o Santuário do Bom Jesus, em São Mateus, ajoelhando-se perante a imagem, ficando em silêncio e rezando durante alguns minutos. Ela que, contam os mais próximos, nunca entrava em palco sem os seus santinhos ao lado, sendo muito devota.
“Lembro-me do jantar em casa do meu tio Fernando Bettencourt. Lembro-me da conversa e dos serões que tivemos na minha residência ou de familiares, onde participaram o senhor Francisco Pessanha e senhor Quaresma da Madalena, tendo Amália adorado visitar sua a famosa coleção de whiskeys.
A amizade com Fernando Machado Soares
Fernando Nunes apesar de “não ter convivido muito” com outra voz enorme do fado – Fernando Machado Soares, recorda-se que Amália e ele “eram muito amigos, muito próximos”.
Recorde-se que em 2006, Fernando Machado Soares, recebeu o “Prémio Tributo Amália Rodrigues”, como reconhecimento da importância do seu percurso musical como autor e intérprete, tendo este fadista feito parte dos órgãos sociais da Fundação Amália Rodrigues.
Fernando Machado Soares nasceu em São Roque do Pico, a 3 de Setembro de 1930, onde viveu até aos 16 anos. Faleceu em Almada, a 7 de dezembro de 2014.
Foi um poeta, cantor, intérprete e compositor no âmbito da Canção de Coimbra, jurista e juiz jubilado, mais conhecido pela sua Balada da Despedida (1958), intitulada “Coimbra tem mais encanto”, sendo sempre referido “como um dos grandes nomes da música portuguesa do século XX, designadamente pela sua qualidade interpretativa. Manteve sempre a voz potente, bem timbrada e com um timbre inconfundível”.
Outro dado curioso desta ligação era o facto de Fernando Machado Soares ser, à data da morte, Vice-presidente da Administração da Fundação Amália Rodrigues, sendo esta mesma instituição que fez o anúncio público do seu falecimento com 84 anos.
(Rómulo Ávila – Exclusivo Jornal do Pico / Diário dos Açores de 22/08/2021)



1 comment
2 shares
Like
Comment
Share