alojamento para estudantes paula cabral

Views: 0

Vejo uma reportagem sobre a angústia dos pais e jovens estudantes que ingressam agora no ensino superior. Os preços dos alojamentos são incomportáveis para uma família portuguesa de rendimento médio. Para além da escassez da oferta, dado que o mercado de arrendamento está consignado, na sua maioria, ao turismo, o controlo sobre a regulamentação do mercado é inexistente. Esta constatação é válida tanto para arrendamento para estudantes, para o sector imobiliário em geral como para toda a dinâmica económica da sociedade em roda livre. A especulação tomou conta das nossas vidas e o governo olha para o lado, o que, bem comparado, poderia equivaler a um crime de omissão de ajuda, quando – mais grave ainda – está em causa a alimentação de famílias, cuja despesa implica opções alimentares que podem pôr em causa a saúde. O acesso à saúde é outro luxo. Resumindo: prosseguir estudos é cada vez mais um privilégio e viver saudavelmente neste país é, mais dia, menos dia, uma prerrogativa de elite.
Para os açorianos, acresce ainda o preço dos transportes, quando as colocações são em universidades do continente e as deslocações por motivos de saúde, por exemplo, decorrem da falta de resposta do sistema regional.
Ponho-me a pensar na acomodação dos cidadãos a tanta sevícia. De onde vem esta capacidade de encaixar tanto? Por que razão se deixa passivamente subverter o princípio básico da democracia?
Afinal, quem detém o poder? É uma reflexão coletiva que temos de fazer novamente? Passados cinquenta anos sobre o 25 de abril, pergunta-se: quem é que confere o poder ou o que confere o poder a alguém? Para que serve o poder?
Numa democracia, as respostas são óbvias. Em teoria. Na prática, o poder é bastante volúvel, manipulável e até, de certo modo, subjetivo, se pensarmos no factor que confere poder a alguém. Será a força física, a força da lei, a riqueza, o conhecimento?
Nenhum deles. É a outorgação do povo.
É o coletivo que transfere este poder a um indivíduo, a um grupo, a um sistema. É só o coletivo que este serve, independentemente da proveniência da sua força. Desde que, ao olhar do povo, este indivíduo, este grupo ou este sistema seja soberano, a submissão pode ser a forma de vida escolhida, se assim o aprouver. É por isso que ‘só há ditaduras onde há cobardes’. As revoltas transformaram o mundo e nenhuma cabeça coroada escapou quando o coletivo se ergueu contra a injustiça.
Temos os governos que merecemos, a corrupção que admitimos, a injustiça que queremos, a sociedade que aguentamos nas costas largas ou curvadas.
Andar erguido é uma grande despesa para a saúde nos tempos corcundos que atravessamos… um luxo.
Like

Comment

Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
Esta entrada foi publicada em ensino professores educação sports desportos. ligação permanente.