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Faz hoje 77 anos que faleceu Alice Moderno. Recordamos a data com um poema que escreveu dedicado ao médico dos pobres, Dr. José Pereira Botelho.
O dia em que a Razão, baseada na Justiça,
Vitoriosa campear na pedregosa liça,
No dia em que o Direito, o Prometeu sangrento,
Tiver em cada peito erguido um monumento,
No dia em que o forçado, o rude, o proletário,
Não regar com o seu sangue a estrada do calvário,
Irão desaparecendo os dogmas doutras eras
Como os gelos do inverno ao vir das primaveras,
E o homem do futuro, atlético, sem jugo,
Terá então por Deus, o Deus de Victor Hugo!
O Deus de Victor Hugo é feito de harmonias,
Não tem rancores vis, nem cóleras doentias,
Não tem caprichos maus, ilógicos, insanos,
Que o tornam semelhante aos Césares romanos,
Nem o fazem tremer da inteligência os brilhos,
Nem faz cair dos pais as culpas para os filhos,
Nem quer igrejas de oiro e altares de granito,
Nem fecha Galileu num cárcere maldito,
Nem queima João Huss, nem martiriza a ciência,
Nem torna obtuso o crânio, injusta a consciência,
Nem tem para castigo os pélagos do inferno,
Nem arremessa à chama o pensador moderno,
Nem lança a maldição a quem não crê Jesus,
É um Deus todo o amor, um Deus feito de luz!
No dia em que esse Deus, invulnerável, franco,
Tiver em cada peito um santuário branco,
No dia em que a Justiça, a luz que não se empana,
Reinar com altivez na consciência humana,
Oh! nesse dia então, a velha humanidade
Terá subido ao céu da solidariedade!
Admiro, reverente, os pensadores de hoje,
Os crentes num ideal que inda por vezes foge
Expulso pelo horror da turva obscuridade
Em que jaz agrilhoada a mártir-Liberdade!

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