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Escrevi este poema para a antologia “9 Poetas, 9 Línguas”, organizada pela Helena Chrystello. Foi sobre os desafios da sua tradução que falámos num dos últimos emails que trocámos. Dedico-lho, neste dia em que nos deixou, e ao Chrys, homem de janelas, imensas, para o mar.
UM HOMEM IMPERFEITO JUNTO AO MAR
Contas-me que perdeste a casa
Mas estou quase certo
de que foi a casa que te perdeu.
As casas perdem muita gente
É o problema das boas construções
Agora eu
Suspeito dessa perfeição de postal
Confio mais nas rugas dos arrependimentos
Nas ruas com inacabamentos de primeira
Pode ser um dia destes pode ser
Que nos encontremos num anúncio
Escrita a fazer-se passar por vida, vida
A passar-se proscrita entre a perfeição
Dos anúncios e a renúncia
Hás-de encontrá-lo
E talvez ainda lhe saibas o nome
E ainda te saiba a salvação
Ás de encontrar
Um homem com janelas para o mar
O trunfo prometido, naipe escondido
renúncia anunciada
Uma escada por onde descer à verdade
E subir por ti acima
como um desses horizontes arrumados ao alto
É a nossa segunda primeira vez
Acredito em ti como nas minhas rugas
Tenho ressalga nas teclas
A espuma dos homens-a-dias
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Inês Assis
Muito bonito