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UM ESTADO DE BEM NÃO FAZ O MAL (PARTE II)
Passaram cinco dias desde que publiquei o texto que partilho.
Cinco dias e nada aconteceu.
Excepto ter-se o MAI (o Ministério) enredado em contradições, depois de ter acusado o trabalhador morto de ser o culpado do acidente. De ter afirmado não estarem as obras sinalizadas, o que a Brisa desmentiu.
Excepto ter o Presidente da República dito claramente que o essencial é apurar a matéria de facto sobre o acidente de 18 de junho e que se investigue “quem quer que seja que vá dentro do veículo automóvel”. O MAI (o ainda ministro) ouviu, calou e, quando convidado pelo Presidente da República a comentar o acidente, entendeu que não.
13 dias depois do acidente e nada aconteceu.
É certo que, entretanto, se disse ter a GNR sido impedida de fazer perícias ao BMW, para tentar determinar a velocidade do carro no momento do embate. Inquirido, o MAI (o Ministério) não esclareceu. A GNR, que o MAI tutela, desmente ter sido impedida de investigar.
E há especulações, que de especulação não passam, sobre a velocidade média do veículo na sua circulação na A6, até ao momento do acidente. Diz-se que são dados do Núcleo de Investigação Criminal de Acidentes de Viação da GNR de Évora. Inquirido, o MAI não esclarece.
A verdade é que não aconteceu nada.
Dou o benefício da dúvida ao MAI (o ainda ministro). Dou sempre, como a qualquer pessoa suspeita, indiciada ou acusada de felonia, até prova feita pelos meios adequados. Afinal, o ministro nem sequer ia ao volante. Talvez não se tenha apercebido do excesso de velocidade (quão em excesso cabe à GNR determinar, periciado o carro que diz não estar impedida de periciar). Talvez o acidente fosse inevitável e a morte do Nuno Santos também. Ou talvez não, um talvez do tamanho do Mundo…
(a esse propósito, recordo algumas comitivas oficiais em que estive ao longo da minha vida, limitando-se a “entidade” principal transportada a dizer “senhor efigénio, temos de estar no sítio tal às 16h” e o senhor efigénio a responder, “esteja descansado senhor ministro/diretor/whatever” e lá íamos, a voar baixinho, e eu a rezar aos deuses dos viajantes).
Nada aconteceu nos últimos 5 dias, nada nos últimos 13.
Pode nem sequer haver crime; ou pode haver. Pode ter sido tudo um terrível infortúnio; ou pode ter sido um abuso de poder, de autoridade, de tudo. Pode o MAI (o para já ministro), sentado no carro a aguardar o resgate, ter dado ordens para negar responsabilidades, responsabilizar o trabalhador, silenciar o caso; ou pode não ter feito nada disso.
Mas quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Se, perante as dúvidas, as acusações, as notícias, a especulação, o clamor público, se perante o facto objectivo de um veículo do Estado ter matado um cidadão, o MAI e o MAI (ministério e ministro)
preferiram calar, não ir ao nem se fazer representar no funeral, acusar a vítima, ignorar a dor e o desespero da família, não aceitar a sugestão do PR e manter o silêncio sob pretexto de que “decorre o inquérito”, então
é porque não aconteceu nada.
E é verdade: nada aconteceu. O ministro ainda é ministro, o primeiro-ministro está de quarentena e o país indigna-se em vão.
Só mais uma pergunta, a latejar-me no coração: como é que alguém cujo sangue não é de gelatina consegue ignorar o alarme público, sem entender que o seu tempo se esgotou e é tempo de acontecer alguma coisa?
Há coisas que são mais fortes do que eu.
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