ainda a inépcia, a inércia e a trapalhada (mais uma) na cultura

É isto!
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OPINIÃO
O Diretor Regional da Cultura, uma saga mal engendrada
A saída de cena do diretor regional da cultura foi anunciada ainda antes da sua tomada de posse. Os relatos de quem trabalha na direção regional e sobre o que lá se vai passando são escabrosos, do domínio do insólito. As estórias com quem tem de lidar com os serviços, também. O que não se percebe é a razão da sua anunciada exoneração ainda não ter sido oficializada. O que não se percebe é a razão desta saída, que se espera venha a efetivar-se, não ter acontecido mais cedo.
Sabemos bem os difíceis equilíbrios a serem feitos no interior da coligação. Este é, segundo vem sendo difundido, um cargo da responsabilidade do PPM, o partido do governo que representa pouco mais do que dois por cento dos votos e que, ainda assim, assume um poder totalmente desproporcionado aos resultados eleitorais. Logo, por aí, tudo começa mal. Os cargos não devem ser ocupados por partidos, mas por pessoas capazes e com o perfil adequado para os ocupar. A excessiva dependência de um partido monárquico, por natureza ultraconservador, não é de todo adequada, muito menos numa pasta como é a da cultura. Embora permanentemente secunda ou terciarizada, a cultura e a sua gestão são o espelho da forma como a governação entende a sociedade, os seus valores, a sua capacidade de inovar, de crescer, de provocar mudanças de mentalidades e de se abrir a novas linguagens, a novos projetos e à diferença, algo essencial nos dias que correm. Infelizmente, o espetáculo não tem sido bonito.
Nem que servisse como elemento de distração em relação ao resto. Não beneficia ninguém, para além do próprio que, entretanto, pretende transformar-se em vítima.
É incompreensível a nota enviada à comunicação social em jeito de “direito de resposta”. Nessa missiva, o diretor regional “demitido” dá-se a liberdades pouco comuns num regime organizado como é o nosso em que a Lei define hierarquias, competências e responsabilidades. O diretor regional exonera a sua superior hierárquica das suas funções. E tudo isto se passa sem que ninguém leve um público puxão de orelhas por quem o deve fazer. É incompreensível que Paulo Estevão nada diga em relação a esta novela de mau enredo. Para quem foi tão lesto a retirar a confiança política a um secretário regional, esperava-se mais. Para quem se arroga detentor supremo da ética e da defesa dos bons costumes, da tradição e dos valores da santa madre, exigia-se o mínimo. O poder subiu-lhes à cabeça. Em seu nome, tudo vale. A fome, a ânsia e o deslumbre pelo poder. É incompreensível a posição de José Manuel Bolieiro que deixa uma secretária regional arder na fogueira da praça pública. Apesar da inabilidade revelada na gestão deste processo, ninguém merece.
Diz-se por aí, à boca pequena, mas audível até ao mais sustenido decibel, que forças ocultas se apropriaram do processo. Em bom rigor, isso nem será o mais importante. Todos sabemos que os grupos de interesse se movimentam nas sombras na ânsia de se verem satisfeitos. Uns estão mais ou menos organizados em grupos com designações conhecidas, outros em agremiações sem líder, e outros, em fações em que só o líder interessa, embora os seus membros julguem que também importam. É para o lado que melhor durmo. O que para mim é verdadeiramente relevante é que a coisa resulte. Que o movimento funcione no sentido do bem coletivo e do desenvolvimento comum, seja ele dominado por altos, baixos, gordos, magros, trolhas ou acólitos. Infelizmente, tal não está a acontecer e a cultura, em vez de se tornar um espaço de unidade, apesar das diferentes sensibilidades e visões (que se deseja existirem), está transformada num campo de batalha onde, como acontece nas guerras, a máquina emperra e todos perdem, principalmente os que dela fazem a sua forma de vida.
Um diretor regional da cultura não deve ser alguém sem pensamento, sem convicções. Indivíduos cinzentos, que balançam ao sabor dos interesses do momento, dos seus próprios interesses do momento, não são desejáveis em cargos de direção ou gestão. Infelizmente, é do que mais se vai vendo por aí. Querem-se pessoas com iniciativa, com ideias, com vontade própria, com pensamento, mas que saibam e tenham a capacidade para dialogar, ouvir, ouvir, dialogar, trabalhar em equipa e tomar decisões.
Felizmente, existem soluções. Infelizmente, tardam em aparecer.
in, Diário Insular, 08 de Março / 2022
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