ADOLESCENTES DEPRIMIDOS IN CHRONICAÇORES 2006

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ADOLESCENTES, 19 MAIO 2006 CRÓNICA 20.

 

A maioria dos pais de jovens e adolescentes costuma enfrentar a situação desconcertante de terem filhos que, por um lado, se comportam irresponsavelmente sem dar importância às coisas que teoricamente lhes deveriam interessar e, por outro lado, se manifestam devastados pelo peso dos estudos, pela incerteza do futuro ou por pequenos reveses. Em vários aspetos da vida parece que nasceram sabendo tudo mas são incapazes de enfrentarem minúsculos contratempos. Estou deprimido, é uma das expressões mais constantes nesta geração paradoxal. Inconsciência crónica com um excesso de preocupações. Da banalidade despreocupada à angústia paralisante. Como é possível, que jovens tão pouco dados a levar a vida a sério se tornem em vítimas quando veem as coisas malparadas. Estarão a exagerar? Não se tratará dum estratagema de autodesculpa, um recurso para obterem compaixão e evitarem terem de atuar como é costume? Tudo leva a crer que não é assim. Poucas vezes se trata de excesso de birras e de espavento de crianças malcriadas tentando comover os adultos assustadiços a fim de conseguirem levar a sua avante.

Aumentou substancialmente na última década o número de consultas de adolescentes nos serviços de urgência psiquiátrica. Num hospital de Barcelona as estatísticas indicam em primeiro lugar as alterações de conduta, seguidas das crises de ansiedade com quase 25% do total de casos. Se a estes acrescentarmos os 15% de tentativas de suicídio teremos de admitir que se trata dum problema grave e crescente.

Trata-se, de facto, de intolerância à frustração. Muitos jovens não aguentam os revezes pois não foram treinados para os enfrentarem. Nasceram sobreprotegidos, acostumados a conseguirem da família mais próxima tudo o que querem, falta-lhes a experiência de sentirem necessidades ou de passarem pela penúria, carecendo de defesas face às dificuldades. Já se disse e redisse à saciedade, e com um certo fundamento, que os pais das últimas décadas criaram inválidos sem recursos para enfrentarem um mundo, regido pela competitividade e elevados padrões de exigência, quer a nível laboral quer profissional, nas relações interpessoais e integração social. Os adolescentes naufragam no trajeto entre a infância almofadada que nada lhes exigiu e um futuro eriçado de obstáculos. A geração paterna apenas tem a perpetuação desse estereótipo. A sobreproteção e a permissividade excessivas criaram jovens dependentes, sem autonomia quando se trata de fazer planos, de tomar decisões maduras e de confrontarem os próprios problemas.

Não será totalmente justo adotar o discurso de serem os pais culpados como acontece com os diagnósticos sobre o mal-estar da juventude e a desventura da adolescência. As famílias apenas em parte são culpadas da irresponsabilidade dos filhos que pagam com angústias a sua vida mole e não adianta colocar mais esse peso nos ombros dos pais. Eles atuaram movidos pelo carinho mesmo que revestido de formas erradas. A maioria dos jovens deprimidos deixou de buscar apoio e cumplicidade nos amigos como acontecia, quando se refugiavam dos pais cheios de defeitos, mas mais eficazes a gerirem a segurança emocional que é necessária nesses momentos.

Muitos especialistas concordam, as causas da intolerância e da frustração nos jovens estão intimamente ligadas aos valores propugnados pelos meios de comunicação. Quando, desde a nascença, um jovem recebe através da TV, mensagens, não é descabido pensar que alguém os incapacitou para enfrentar a dura realidade e esse alguém não foi nem o pai nem a mãe, incapazes de negarem os seus caprichos, mas os meios de comunicação capazes de enganar e de manipular as mentes dos recetores consumidores.

A televisão (ou a publicidade que dirige como soberana implacável os conteúdos e as formas das mensagens) é o agente principal da frustração. Que capacidades de enfrentar os problemas terão os que nos anos mais recetivos da vida foram metralhados com promessas de felicidade virtual, de satisfação através do consumo, de êxito imediato, com visões da vida pintada como um show de diversões que nunca termina? O discurso mediático e mercantil alimenta uma falta de maturidade que só se revela quando a realidade nua e crua mostra a sua face e o jovem constata que nada é como lhe disseram, criando um desajustamento causador de insatisfação e ansiedade extrema.

Assim como nos anos 60 e 70 se falava da geração rebelde, nos anos 90 foi a geração Prozac, agora podemos ter chegado à da frustração. Nem poderia ser doutra forma, mas a evidência não resolve o problema nem serve de consolo. Quando os adolescentes dizem que estão agoniados e deprimidos estão a falar a sério, sofrendo mais do que possamos imaginar. E convém fazer constatações mais comezinhas. A atual geração não passou em termos de privações familiares como a geração de “baby boomers” no pós-guerra (entenda-se 2ª Grande Guerra) a que pertenço. A geração rebelde que no fim dos anos 60 se revoltava contra o status quo na França e a guerra colonial em Portugal tinha algo contra que lutar. Vivia melhor que a geração dos pais em termos de conforto e de posses económicas, mas era arrastada para projetos militares que nada lhes diziam e aos quais se opunham. Queriam tomar parte na construção da História em vez de serem arrastados como nota de rodapé para ela tal como acontecera aos seus pais.

Depois chegou o 25 de abril e as liberdades misturaram-se com as libertinagens e os jovens dos anos 70 e 80 nasceram com o rei na barriga, tudo era permitido e nada era proibido, podiam almejar a uma sociedade sem classes com acesso ilimitado a todos os bens e seriam felizes para todo o sempre. As crises económicas que atravessaram o mundo não se fizeram sentir na Europa Ocidental (exceção feita à crise do petróleo de 1972) e a máquina da publicidade assenhoreou-se da televisão e demais órgãos de comunicação social moldando aquilo que hoje temos em casa ou que dela saíram há pouco. Por mais que lhes tenhamos dito que a vida era feita de sacrifícios eles não passaram pelas nossas experiências dolorosas, nem as viram nem as sentiram. Frequentar uma universidade não era um apanágio de elites, nem mesmo frequentar universidades privadas era já considerado elitista. Os cursos facilitaram o acesso a canudos que tinham a fama de servirem para distinguir entre os que vencem na vida e os outros, embora na prática começasse a ser diferente.

Numa conferência sobre educação e conflitos de gerações, o médico inglês Ronald Gibson começou citando quatro frases:

1) A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, troça da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais e são simplesmente maus.

2) Não tenho nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque essa juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível.

3) O nosso mundo atingiu o ponto crítico. Os filhos não ouvem os seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe.

4) Esta juventude está estragada até ao fundo do coração. Os jovens são malfeitores e preguiçosos. Jamais serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura.

Após ter lido as citações, ficou satisfeito com a aprovação dos espetadores. Então, revelou a origem:

  • A primeira é de Sócrates (470-399 a.C.)
  • A segunda é de Hesíodo (720 a.C.)

  • A terceira é de um sacerdote do ano 2.000 a.C.

  • E a quarta foi escrita num vaso de argila nas ruínas da Babilónia (atual Bagdad) com mais de 4.000 anos de existência.

Aos que são pais: RELAXEM, POIS SEMPRE FOI ASSIM… GRAÇAS A DEUS!

As classes sociais esbateram-se e o grande fosso, entre os que tinham e os que não tinham, passou a ser uma memória do passado. Claro que como pais fizemos o que nos competia dando o máximo de bens materiais aos filhos, já que no nosso tempo não tínhamos tido livre acesso aos mesmos. Aproveitámos também para nos rodearmos desses mesmos bens e deixamos de poder viver sem eles. Parecia uma sociedade de abundância e não haver limite ao que os nossos filhos podiam aspirar a ter, a pressão dos pares a nível social e movida pela insaciável máquina da publicidade ajudou a comprar tudo e mais alguma coisa. Só que quando a árvore das patacas seca, i.e., quando os filhos saem de casa dão-se conta que as pequenas coisas têm um custo e a vida está feita de pequenas coisas, o que os irrita profundamente porque quando chega a altura das grandes coisas já não há dinheiro para nada.

Como crianças mimadas em vez de lutarem por trabalhar mais e ganhar mais, queixam-se, entram em depressão apática e sofrem na inação e deprimem-se anda mais. Para eles tudo é um direito divino que compete aos pais satisfazer e quando estes não podem ou não continuam a alimentar a ilusória vida fácil, sentem-se traídos pela sociedade e pela família. Mas o que eles não sabem é que um dia irão ter de pagar pelas dívidas que o mundo e a sociedade dos seus pais lhes deixaram, porque só então teriam razão para se sentirem deprimidos, mas ainda não chegaram lá e não se preocupam. Parece a história deste país que habito, mas não é.

ADOLESCENTES DEPRIMIDOS

 

“Estou deprimido” é uma expressão recorrente nesta geração paradoxal. Inconsciência crónica com um excesso de preocupações. Da banalidade despreocupada à angústia paralisante. A propósito convirá recordar que a atual geração não passou por nada em termos de privações familiares comparado com a geração de “baby boomers” a que pertenço, nascida no pós-guerra (2ª Grande Guerra). A geração rebelde que, no fim dos anos 60, se revoltava contra o status quo na França e contra a guerra colonial em Portugal tinha algo contra que lutar. Vivia melhor que a geração dos pais, em conforto e posses económicas, mas era arrastada para projetos militares alienígenas aos quais se opunham. Queria tomar parte na construção da História e não ser arrastada como nota de rodapé como acontecera aos pais.

Depois chegou o 25 de abril e as liberdades misturaram-se inicialmente com as libertinagens em que tudo era permitido. Os jovens dos anos 70 e 80 nasceram já com o rei na barriga. Nada era proibido, tudo era permitido e podiam almejar a uma sociedade sem classes em que todos tinham acesso ilimitado a todos os bens, sendo felizes até todo o sempre.

As crises não se fizeram sentir severamente na Europa Ocidental (exceção à crise do petróleo 1972-1974) e a máquina da publicidade assenhoreou-se da televisão e órgãos de comunicação social moldando os jovens que temos em casa ou os que dela saíram há pouco. Por mais que se lhes tenha dito que a vida era feita de sacrifícios, não passaram pelas suas experiências dolorosas, nem as viram nem as sentiram.

Frequentar a universidade não era um apanágio de elites, nem mesmo as universidades privadas. Os cursos facilitaram o acesso a canudos com a fama de distinguir entre os que vencem na vida e os outros, embora na prática começasse a ser diferente. As classes sociais esbateram-se e o grande fosso educacional, passou a ser memória do passado.

Claro que como pais fizeram o que lhes competia dando o máximo de bens materiais aos filhos, pois no tempo deles não tinham tido esse acesso. Aproveitaram, também, para se rodearem desses bens e não podiam viver sem eles. Parecia uma sociedade de abundância sem limites. A pressão dos pares a nível social, e engendrada pela insaciável máquina da publicidade, ajudou-os a que lhes comprassem tudo e mais alguma coisa. Quando a árvore das patacas seca, i.e. só quando saem de casa é que se dão conta de que até as mais pequenas coisas têm um custo.

A vida está feita de pequenas coisas, o que os irrita profundamente e quando chega a altura das grandes coisas já não há dinheiro. Como crianças mimadas, em vez de lutarem por trabalhar e ganhar mais, queixam-se, entram em depressão, sofrem, apáticos (na inação em vez da ação) e deprimem-se mais. Para eles tudo é um direito divino que compete aos pais satisfazer. Quando os progenitores não podem ou não querem alimentar a ilusão, sentem-se obviamente traídos pela sociedade e família. Mas o que não sabem é que um dia pagarão as dívidas que o mundo e a sociedade lhes deixaram. Então, sim, terão razão.

Parece a história deste país que habitamos, mas não é. Foi tudo inventado numa deprimente tarde chuvosa de inverno aqui na ilha de S. Miguel.