ADELINO GOMES E A TRANSIÇÃO GERACIONAL EM TIMOR

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Timor-Leste/20 anos: Jornalista lamenta falta de transição geracional – Adelino Gomes
Lisboa, 17 mai 2022 (Lusa) – O jornalista português Adelino Gomes, que há décadas acompanha e se interessa pela situação em Timor-Leste, lamentou, em declarações à Lusa, que a geração que lidera os destinos do país desde a independência em 2022, não assegurou a transição geracional.
“Eu considero inexplicável, por um lado, e inaceitável, por outro, porque essa geração deita fora a continuação do seu legado extraordinário e por isso mesmo é que eu digo que eles deviam dar todos as mãos”, afirmou Adelino Gomes.
Ressalvando que ninguém lhe pediu conselhos e o que afirma resulta do interesse e ligação a um povo que classifica como “extraordinário”, Adelino Gomes deixa um desafio ao Presidente eleito José Ramos-Horta, que toma posse no cargo em 19 de maio, véspera da passagem do 20.º aniversário da declaração de independência.
“Eu ao Presidente José Ramos-Horta dizia assim: ponha como prioridade do seu último mandato fazer aquilo que não fez até agora. Certamente fez muita coisa, mas então fazer isso com eficácia para que realmente venha uma nova geração. Falo de outros que já têm também uns anos, já vão nos seus 50 anos”.
Esse é o balanço negativo que Adelino Gomes faz de 20 anos de independência.
“Quer dizer, então os timorenses só deram uma geração? Não, de certeza que não. Eles provavelmente, como nós dizemos aqui em Portugal em relação a nós, esta é a melhor geração que os timorenses tiveram, esta agora que está a crescer, porque eles devem fazer que não seja por culpa deles que a mensagem, que o facho não passou. Essa era para mim a prioridade primeira de um Presidente da República, e de todos os outros que continuam a ser responsáveis do país”, reitera.
“Então essa geração extraordinária e que deixa esse legado, parece voraz e nunca mais quer passar o testemunho”, acrescenta.
Adelino Gomes admite que “haja culpas também dos que vieram a seguir”, mas o conselho que deixa a José Ramos-Horta – “e dando a ele dava a todos os heróis da resistência, os mais velhos dessa geração, e que é fazerem o que “nunca fizeram até agora”.
“Dediquem-se a passar o testemunho, dediquem-se a passr tudo aquilo que aprenderam e tudo aquilo que viram que fizeram mal e tudo aquilo que gostavam de ter feito bem. Passem aos jovens, passem à outra geração e sairão, penso eu, como a geração das duas grandes conquistas, a conquista da Independência e a conquista da sustentação da Independência”.
Adelino Gomes permaneceu 40 dias em Timor-Leste logo a seguir à declaração de independência, período que classificou como “os dias da lua de mel”, e regressou em várias ocasiões, designadamente em 2006, quando o país quase se precipitou numa guerra fratricida, em que as forças armadas se dividiram e se registaram confrontos entre polícias e militares, levando o então primeiro-ministro, Mari Alkatiri, a pedir a Portugal e à Austrália, e às Nações Unidas, o envio de efetivos para ajudarem a repor a ordem pública.
Agora, no próximo dia 20 de maio, Adelino Gomes considera que vai ser “mais uma celebração da independência”.
“Houve eleições livres, há uma democracia formal que funciona e então parece que eles vão falhar por aquilo que parecia mais fácil e por isso é que eu não me consigo conformar, sinceramente, como cidadão e amigo de Timor”, conclui.
EL // PJA
Lusa/Fim
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