AÇORIANIDADE 4 LIVROS MUITO ANTIGOS

4 LIVROS MUITO ANTIGOS
Entrei há dias na Papelaria Ricardo. Até parece que o José Ricardo estava à minha espera. Veio logo ter comigo com quatro pequenos livros para me mostrar. Achei piada. Eram livros que lá estavam à venda em lugares quase escondidos nas prateleiras. Vou-me referir a eles por ordem alfabética.
ANDRADE, JOSÉ – “SEMENTE”
Este é o primeiro livro escrito e publicado por José Maria de Medeiros Andrade. O escritor nasceu em Ponta Delgada, em 1966 e aquele seu primeiro livro foi publicado em 1982, tinha ele então apenas dezoito anos de idade. Nesse tempo já provara ser um cidadão estudioso e participativo na sociedade. Ainda não havia televisão nos Açores mas isso não era nenhum impeditivo: colaborava no programa radiofónico “Ponto de Encontro” e tinha fundado e co-dirigido os jornais, já extintos, “O Alvo ” e “O Informático” Neste momento, José Andrade é licenciado em Ciências Sociais e integra o quadro de pessoal da RTP/Açores desde 1988. No exercício de sucessivas responsabilidades políticas, tem integrado o Governo Regional e dedicado especial atenção à diáspora açoriana.
Este pequeno livro é dedicado aos pais, aos irmãos, a Victor Cruz (o seu pai na música), a Gustavo Moura, (o pai no jornalismo) e a Cícero de Medeiros, o avô que não conheceu, que foi diretor do jornal “Açores”, então o principal diário do arquipélago.
Nas suas 48 páginas inclui alguns textos e poesias. O texto, “Vidas Salgadas”, já ganhara o primeiro prémio no concurso literário do “Açoriano Oriental”, em outubro de 1981, tinha o autor 15 anos de idade. Outros escritos também tinham merecido menções honrosas e prémios em jogos florais, que testemunham o apego do autor às artes literárias desde muito cedo.
ARAÚJO, JOSÉ MARIA LOPES DE – “OUTONO DA VIDA”
Este livro de poesias foi publicado em 1985, tinha o escritor 66 anos de idade. Ainda era mais novo do que eu e já o “Outono da Vida” se lhe fazia sentir:
“Ai, quanto custa viver,
Contando horas, uma a uma,
Não querendo perecer
Numa esperança que se esfuma!”
É um livro de “lamentos”, sob a forma de quadras, sonetos e outras formas de poemas, que incomoda muito quem também está a passar por esta etapa da vida. Aliás, só a partir de certa idade é que o leitor consegue interiorizar o pensamento do poeta que, em “Nada sei!, diz:
“E nada sei, nada sei!…
Ai quem pudesse saber
Isto tudo, que não sei,
Anos antes de morrer!…”
O livro ainda tem o preço marcado, 350 escudos, e um autógrafo do autor.
BENTO, CARLOS MELO – “HORAS AMARGAS”
Este é um livro quase obrigatório para o estudo da autonomia dos Açores. Foi um tempo em que eu estava em Lisboa a tirar um curso de cultura geral e bibliotecas, idealizado pela Fundação Gulbenkian. Parte desses acontecimentos nos Açores passaram-me um pouco ao o largo e só tive conhecimento deles pelas notícias. É claro que, também para mim, que tinha a minha mulher grávida, as notícias não eram as melhores. A Gulbenkian poderia desligar-se das bibliotecas dos Açores e eu comecei de imediato a magicar alguma alternativa para suprir a falta do emprego, no caso de tudo isso se concretizar. Parte da população do arquipélago só queria a independência e a FLA (Frente de Libertação dos Açores) estava na ordem do dia. A dar mais força a essa reivindicação estava um elemento da CIA, um tal Frank Carlucci, anti-comunista que apoiava Mário Soares contra toda a extrema esquerda portuguesa. Foi mesmo um verão quente, esse de 1975, onde eu fui metido num carro para integrar uma manifestação em Belém. “O Cesto está roto”, referindo-se ao VI Governo, era a palavra de ordem, acompanhada de um autêntico caos que originou até o incêndio de pelo menos um carro elétrico. Altura em que Pinheiro de Azevedo, o Primeiro Ministro, também ameaçou fazer greve. No restaurante da Gulbenkian, que fica no terraço do edifício da sede na Avenida Gulbenkian, acompanhei parte da movimentação que se fazia sentir por ali, porque na traseira da Gulbenkian estava situado um importante aquartelamento do exército. E uma vez fiquei sem jantar, no Lisboa Penta Hotel, por causa do recolher obrigatório até às 21 horas…
Mas, falando do livro, é um retrato do que se passou no seguimento das manifestações de 6 de Junho de 1975. Culminou com a prisão dos “responsáveis” pelas manifestações, detidos na prisão de Angra do Heroísmo no dia 9. Melo Bento faz um relato diário dessas “horas amargas”, depois de uma exaustiva introdução aos antecedentes autonómicos nos Açores. Há duas fotografias incluídas no livro com Almeida e Sousa, Álvaro Moreira, Aguinaldo Almeida, Luis Franco, João Manuel Rodrigues, Manuel de Brum, Reis Índio, José Manuel, Guinod de Castro e Gualberto Cabral, no pátio da prisão à espera de serem libertados, após 15 dias de clausura. Noutra foto estão Carlos Melo Bento, Almeida e Sousa e Vitor Cruz (filho).
FRIAS JÚNIOR, ANTÓNIO JOAQUIM – “LUZ QUE ANOITECE”
António Joaquim Frias Júnior, nascido em 1909, é aquilo que se pode chamar de “poeta popular”. Neste livro publicado pela Nova Gráfica em Novembro de 1982, já lá vão quase quarenta anos, vasa todas as suas criações poéticas, do tipo das cantorias que ainda são muito populares nas festas das freguesias. Emigrou para os Estados Unidos com a sua grande família. em 1955 Um dos filhos, pelo menos, veio a tornar-se rico e famoso: o senhor Frias da Maia.
O livro tem uma introdução de Manuel Cândido, de Vila Franca do Campo, em que deixa algumas reflexões importantes sobre a vida e a obra do autor. “Ao longo dos seus versos o poeta traça a sua biografia. Fala-nos do adeus à terra e da sua vida dentro e fora do torrão natal. E vemos surgir figuras como o Tavares folião, o padre João, a tia Maria Filomena, José da Luz – o amigo que comia chicharro cru, o Covaneiro – vígaro – etc. E lugares, além da Maia e da Lapa [onde nasceu]: a baía, o Pico Alto, o Porto de Cura, o Penedo da Caixa…” – refere Manuel Cândido.
Estes quatro livros vou entregá-los na Biblioteca Pùblica de Vila do Porto, para os eventuais interessados poderem consultar.
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