AÇORES TRATAR DEPENDÊNCIAS, ADIÇÕES

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Casa de Saúde de São Rafael vai reforçar tratamento a novas dependências como compras online, jogos, apostas com dinheiro, pornografia e adição às redes sociais e vai reforçar a aposta nesta nova Unidade
Actualmente em regime de substituição da coordenadora da Unidade, o enfermeiro José Gomes começa por salientar que a equipa da Unidade de Alcoologia e Novas Dependências Comportamentais é composta, para além de si, por uma psiquiatra, duas psicólogas e por uma licenciada em ciências sociais. José Gomes de 39 anos e há 16 anos a exercer na Casa de Saúde de São Rafael, explica depois como surgiu esta nova valência.
“Apresentamos à tutela este projecto inovador porque sentimos que esta era uma necessidade na Região (…) na Unidade de Alcoologia utilizamos a terapia cognitiva comportamental e faz todo o sentido que se fizesse este caminho para deixar de dar enfoque à substância (álcool) e mais ao comportamento associado. Este projecto foi apresentado publicamente a 28 de Abril de 2021”, refere.
Apesar disso, o coordenador interino deste Unidade revela que “anteriormente já recebíamos alguns casos”.
“Muitos deles em comorbilidade, ou seja, apresentavam consumo de álcool em comorbilidade com o jogo, raspadinhas, apostas online, Placard ou outros com o vício do sexo. Isto sempre em comorbilidade, mas agora já passamos a receber em exclusividade”, explica.
José Gomes admite que “ainda temos poucos casos e precisamos de uma maior divulgação”. Este enfermeiro da Casa de Saúde de São Rafael realça que apesar da maior área de intervenção continuar a ser o álcool, “tivemos recentemente o caso de um jovem que comia compulsivamente. Recebemos casos de pessoas que gastam muito dinheiro nas raspadinhas, no Placard, no jogo online ou em compras. Recebemos também uma mulher que realizava compras de forma compulsiva”, recorda.
Relativamente à dependência relacionada com o jogo, José Gomes revela que este problema começa a ser “notado cada vez mais e os dados estatísticos assim o demonstram”.
“Há mais jovens a dedicar mais tempo ao jogo online ou às apostas a dinheiro. O último relatório do SICAD referia que cerca de 50% dos jovens de 18 anos jogava mais de 6 horas online. Estima-se também que 2 em cada 10 jovens faça apostas a dinheiro”, afirma antes de avançar algumas explicações para o crescimento deste fenómeno.
“Com a evolução das novas tecnologias o jogo está mais presente. Enquanto antes os jovens precisavam de socializar, de estar em grupo, ir ao café, de se encontrarem à porta de casa, de ter os jogos de tabuleiro, os jogos de rua, hoje em dia os jovens já podem jogar sozinhos à frente de um ecrã e isso inibe a socialização. Embora muitos joguem online e conversem uns com os outros, não é a mesma coisa”, considera.
Apesar de a vertente do jogo a dinheiro não se encontrar discriminado nos relatórios, este enfermeiro não tem dúvidas de que “existe um incremento muito grande dos jogos a dinheiro, quer no caso do Placard quer no caso das raspadinhas”.
Esta Unidade que tem neste momento uma capacidade instalada de 9 camas encontra-se presentemente numa fase de remodelação.
“A nova Unidade de Alcoologia e Novas Dependências Comportamentais terá 12 camas e será mista (…) As 9 camas estão cheias e actualmente não temos ninguém com internamento relacionado com estas novas dependências”, destaca.
José Gomes admite que “as pessoas não sabem muito bem como chegar até nós” e, nessa medida, avança algumas das medidas que a Casa de Saúde de São Rafael gostaria de implementar.
“Uma das propostas que já submetemos à tutela passa pela realização de acções de formação e de divulgação da Unidade a nível regional. Outra medida que também já propusemos é a abertura da Consulta Externa em Psicologia para intervir no âmbito destas novas dependências comportamentais, sobretudo junto dos mais jovens e acerca do uso da internet e do jogo. Mais sobre o gamming, jogo sem apostas, e não tanto sobre o gambling”, realça.
Para este enfermeiro especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica a sociedade ainda não está devidamente desperta para estas problemáticas.
“Consideram normal que um jovem passe a vida à frente da televisão. Não tem maus comportamentos, mas muitas vezes não se controla aquilo que tem acesso na televisão, nos jogos, na internet ou em sites de consulta. Há muitos perigos escondidos”, avisa.
José Gomes avança que em todos os casos de novas dependências comportamentais tratadas nesta unidade “as pessoas mudaram o seu comportamento”. O actual coordenador entende que “é necessário um maior reconhecimento destas problemáticas” e considera que uma das maiores dificuldades para uma melhor implementação desta nova valência prende-se, desde logo, “no encaminhamento desta problemática para tratamento. Para além disso são as mesmas dificuldades de muitos outros lugares; somos poucos para fazer muito”.
Relativamente ao aumento de regulamentação no acesso a jogos online, José Gomes vê essa realidade “com muita dificuldade”, entendendo por isso que a aposta deve passar “por ensinar os nossos jovens a conviver de forma saudável com isso”.
“O segredo está na prevenção e é aí que temos de apostar para que as pessoas não cheguem a uma situação de dependência e possam conviver saudavelmente com o uso do computador, do telemóvel ou do jogo”, afirma.
A terminar, o coordenador interino deste Unidade reforça que “somos agora a resposta oficial para estas situações”.
“É preciso que os casos cheguem para que possamos trabalhar com essas pessoas”, realça.
Luís Lobão
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