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O Governo dos Açores manifestou o desejo de encerrar os seus aeroportos de forma a defender as populações destas ilhas de uma possível exposição ao vírus Covid 19.
No dia seguinte o primeiro ministro de Portugal defendeu que era impossível porque assim não podia assegurar a evacuação dos não residentes, revelando que mais importante que a saúde dos açorianos era a mobilidade dos não açorianos.
Numa atitude a que já estamos acostumados os constitucionalistas vieram logo dizer que o Governo dos Açores não tinha poderes para tal. Mais tarde, Lisboa voltou ao ataque defendendo que as ligações com os Açores eram importantes para garantir o princípio do Estado unitário e a continuidade territorial.
Como se não bastasse, o Presidente da República de Portugal, manda o seu avião buscar o seu representante para dar-lhe ordens na primeira pessoa, investindo este ato de particular significado simbólico, uma vez que podia fazer uma video-conferência tal como fez no Conselho de Estado, mas não, optou por investir o ato de solenidade.
Entretanto os episódios foram acontecendo e Lisboa foi entrando em consecutivas contradições dando o dito por não dito e fazendo o que disse que não devíamos fazer. Fechou fronteiras, criou barreiras, implementou uma política de imobilidade e agora manda encerrar os aeroportos e proíbe as deslocações para fora do concelho de residência, entre os dias 9 e 13 de Abril.
O que é que fez mudar a vontade de Lisboa?
Que valores se apresentam que não existiam aquando da pretensão do Governo dos Açores?
Agora é a saúde dos portugueses que está em causa, então tudo é possível.
Agora as decisões vêm de Lisboa, então são todas legítimas.
Mais uma vez se confirma a ideia de que existem vidas de primeira e vidas de segunda. Quando os açorianos quiseram defender a sua vida, todos os entraves se levantam. Agora que se trata de defender a vida dos portugueses, nada o pode impedir.
Considero que é legítimo que tudo deva ser feito para que se salvem vidas, e apoio veementemente as decisões de Lisboa que permitam salvaguardar a vida dos seus, só lamento que, numa atitude de demonstração de poder, nos tenham negado a possibilidade de termos adoptado estas mesmas posições quando elas podiam ter tido um efeito bastante eficaz sobre os açorianos, porque estes vivem em ilhas.
Hesitei em escrever estas linhas, mas muitos são os artigos que tenho lido sobre o tema e não me pareceram despropositados. Por outro lado, acho que quem não quer mudar nada é que diz que o momento só é de tratar os doentes. Não, o momento é de tratar os doentes, mas, também é de reflexão sobre a ação, porque é no momento em que sentimos a dor que devemos interrogar-nos sobre a sua causa.
