açores ROBERTO Y. CARREIRO · A REVOLTA DAS «ILHAS PEQUENAS»

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A REVOLTA DAS «ILHAS PEQUENAS»

A recusa do Conselho de Ilha de S. Jorge em reunir-se com os secretários regionais é mais um sintoma da doença que está corroendo a nossa «autonomia».

Ainda recentemente tivemos o abandono e o isolamento atroz das ilhas ocidentais – Flores e Corvo – por parte da administração «central» regional, e que, apesar da severidade meteorológica, ficou bem demonstrado que o mau tempo não pode justificar tudo.

Pior do que alguma inépcia e sobranceria das entidades políticas e operacionais responsáveis, as quais têm a obrigação de resolverem os problemas em tempo útil e terem planos de contingência para os diversos cenários de crise, foi alguma «opinião pública» e até publicada que ao longo destes últimos dois meses foi sendo divulgada e comentada, quer em orgãos de comunicação, quer principalmente nas famigeradas redes sociais.

Quase todas essas «opiniões» e «comentários» produzidos tinham origem nas «ilhas grandes» – não as «maiores», cujo cognome «Ilha Maior» pertence ao Pico – e feriram a dignidade dos habitantes das ilhas do Grupo Ocidental, sujeitas a uma dupla e até tripla insularidade.

É preciso lembrar que um dos fundamentos da actual «autonomia» – e quiçá duma auto-determinação plena já equacionada – é a nossa unidade geográfica como arquipélago e como comunidade social e política. E essa unidade pressupõe solidariedade entre as diversas partes (ilhas).

Da mesma forma que alguns políticos regionais e respectivos partidos apregoam para os Açores a tão badalada «solidariedade nacional» por parte de Lisboa, é preciso lembrar-lhes que a solidariedade entre as ilhas é também um dever de quem administra a «região».

Infelizmente está cada vez mais difícil a vida nas chamadas «ilhas pequenas» – Corvo, Flores, S. Jorge, Graciosa e até Santa Maria – quer em termos de acessibilidades marítimas e aéreas, quer em termos de programas de infra-estruturação e fixação das populações.

Esta indiferença – e até arrogância – dalgumas entidades públicas e empresas regionais para com as ilhas ditas «pequenas» põe em risco o ambicionado «desenvolvimento harmónico» e até os fundamentos da autonomia.

Assiste-se a uma desertificação crescente dessas ilhas, ao envelhecimento das suas populações e até a um bairrismo doentio e serôdio entre ilhas, fomentado sempre a partir das «ilhas grandes».

Se não houver travão a estes desvios anti-democráticos e anti-autonómicos devemos recear o pior e esta geração que está «escanchada» no cavalo do poder – de todos os orgãos e partidos – ficará na nossa História como aquela que destruiu a autonomia e o sonho dos Açores serem uma Comunidade emancipada, próspera e justa entre as suas diversas parcelas.

Pode ser que nas próximas eleições as «ilhas pequenas» se vinguem (democraticamente) e inviabilizem no parlamento qualquer plano de maiorias absolutas, seja de que partido for…pois já se viu que quem tem o poder total está se «maribando» para os que estão mais afastados ou nas periferias. Esses não contam nem nunca contaram….

@ Ryc

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Comments
  • Rui Alberto Cabral Medeiros Muito bem Roberto Y. Carreiro. É isso mesmo que está a acontecer e este texto, no fundo um alerta para que o bom senso prevaleça não só na cabeça de quem manda mas também de nós todos, não podia ter vindo em melhor altura. Abraço.
  • David Rodrigues Realmente aquando os comentários acerca da falta de bens nas Flores e Corvo foram do mais imaginativo que já ouvi ….então aqueles de mandarem a malta cavar batatas foram do melhor 😀 😀 😀
  • Paulo Bettencourt Um texto que traduz a realidade das ilhas mais pequenas e a solidariedade, triste que houve por parte do GRA e as ilhas maiores e os comentários sem nexo que por aqui andaram.
  • Luis Filipe Franco Só uma nota, que tal voltarmos para os antigos Distritos Autónomos, é que a “solidariedade” ao contrário de um só sentido , deve ter dois.