açores riscos e desafios Carlos Faria

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Meu artigo de opinião quinzenal publicado hoje no diário Incentivo:
UMA LEGISLATURA DE RISCOS E DESAFIOS
As eleições do passado domingo surpreenderam por terem resultado numa inesperada perda, de dimensão significativa, da maioria absoluta do PS no Parlamento Regional. Não foi apenas por um, mas por quatro e com a redução em cinco deputados deste grupo parlamentar que passou de 30 para 25 eleitos. No Faial, passada mais uma legislatura sem o PS ter deputados ao lado das reivindicações dos Faialenses, mas apenas a servirem de defesa do Governo na recusa em atender aos principais anseios da população desta ilha, eis que o partido da rosa viu o PSD, que já vinha vitorioso das anteriores legislativas regionais, cada vez mais adiantado.
Assim, após décadas de um modelo de governação que parasitou à sombra dos fundos da União Europeia a implementar uma política de subsídios sem criar crescimento económico significativo sustentado que nos retirasse da cauda da Europa, onde nas legislaturas sucessivas o executivo foi, sobretudo, um intermediário que pouco mais fez do que dar a cara para colher louros ao distribuir verbas que não eram suas e mesmo assim sem nunca retirar os pobres da situação de miséria subordinada à ação social para os ter na mão; que, além disso, aprisionou os jovens a empregos precários e mal pagos no setor público para os ter sob o seu controlo e ainda não criou condições para que as empresas de empreendedores privados das ilhas mais pequenas se libertassem das amarras dos apoios financeiros comunitários que ele controlava para assegurar a dependência destes investidores… eis que, no segredo da urna, pela calada e sem o assumir antes, mais de 60% dos Açorianos disseram não a este PS que os tem tornado reféns da sua máquina de poder.
Apesar desta recusa maioritária dos Açorianos ao PS, a verdade é que o quadro parlamentar e a situação económica dos Açores não perspetivam tempos fáceis. Penso que na Região houve mais votos de protesto ao PS do que votos ideológicos, foram votos para se libertarem do jugo implantado e ampliado ao longo dos anos pelo poder socialista que, como um polvo, tem estendido os seus tentáculos a todos os setores da sociedade e procurado controlar tudo o que nela se mexia. Contudo, alerto: romper com vícios e mudar tende a gerar instabilidade, dor e insatisfação.
No protesto a votação dispersou-se por quase uma dezena de partidos no parlamento e que faz agora com que nem o PS obtenha uma maioria com um único aliado, nem o PSD encontre uma maioria consistente na diversidade dos opositores. Conciliar mais do que duas forças adversárias e concorrentes é um risco para a coerência de uma estratégica estável de governação com perspetiva de longo-prazo. É verdade que pode haver um Governo minoritário, mas aqui repete-se o risco: conseguirá um executivo assim implementar uma estratégia que não seja destruída pela diferença de objetivos de tantos partidos no Parlamento, uns mais ideológicos, outros mais pragmáticos, uns com interesses de curto-prazo e outros com uma estratégica de longo-prazo?
Esta legislatura tem enormes desafios como: criar um modelo de desenvolvimento económico e social sustentado que não torne as pessoas reféns do próprio governo; quebrar os vícios e as cadeias montadas por 24 anos de governação hegemónica do PS; e descobrir a realidade escondida em empresas públicas regionais estratégicas: destaco a SATA.
Conseguirá o Parlamento com um governo do PS, maioritário ou minoritário, em simultâneo destruir as manhas praticadas ao longo de décadas por este partido? Será capaz de assim quebrar as correntes estabelecidas pelos socialistas que subjugam o setor público e privado à máquina do poder rosa? Será ainda competente para libertar tantos Açorianos da dependência e limpar o abuso de boys estrategicamente distribuídos na administração regional? Ou, para se conseguir corrigir todas estas disfunções e assegurar uma economia saudável, tem de se optar por um executivo estável na diversidade da oposição, maioritário ou minoritário, mas presidido por esta?
Neste quadro parlamentar, é no caminhar para estes objetivos que os Açorianos poderão dizer se esta legislatura valeu a pena. Há muitos riscos, mas muitos mais desafios, eliminar os primeiros e ultrapassar os segundos depende o sucesso da próxima governação e legislatura e será a forma de a classe política mostrar que respeitou o voto de mudança desafiador dos Açorianos.
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