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Fonte: Açores querem recuperar locomotivas únicas no mundo – PÚBLICO
Açores querem recuperar locomotivas únicas no mundo
Duas locomotivas de alto valor museológico estão a apodrecer num armazém em Ponta Delgada e correm o risco de se desfazer em ferrugem, se não forem entretanto alvo de um processo de recuperação que trave a sua degradação ou as consiga mesmo pôr a funcionar, para fins turísticos. Duzentos mil euros é quanto as autoridades açorianas precisam de juntar para preservar pelo menos uma desta raras máquinas, únicas no mundo devido à sua bitola (distância entre carris), invulgarmente larga.O caminho-de-ferro dos Açores é praticamente tão antigo como as primeiras vias férreas construídas no continente. O caminho-de-ferro de Ponta Delgada nunca transportou passageiros e não chegou à dezena de quilómetros, mas teve um papel decisivo na construção do seu porto, na década de 60 do séc. XIX.Nessa altura, S. Miguel era escala obrigatória para os transatlânticos que ali se abasteciam de combustível. Perante a necessidade de dotar Ponta Delgada de um verdadeiro porto marítimo, as autoridades mandaram vir de Inglaterra duas locomotivas a vapor sobreviventes da via larga do sistema de Brunel – um engenheiro inglês que tentou, sem êxito, implantar um bitola excessivamente larga em todos os caminhos-de-ferro. A linha açoriana partia da Mata da Doca – onde é hoje o aeroporto, e onde existiam então as pedreiras para a construção do porto – e seguia pela orla marítima, até ao molhe de Ponta Delgada. As duas máquinas rebocaram, entre 1862 e 1888, comboios carregados de pedra, mas não foram logo desafectadas após o fim dos trabalhos. Depois da II Grande Guerra, numa nova fase de recrudescimento da economia de S. Miguel, as locomotivas voltam ao activo, desta vez para colaborarem na construção da avenida marginal desde o forte de S. Brás até à Calheta, obras que se desenrolaram entre 1948 e 1954.Nos fins da década de 60 Ponta Delgada voltaria a ouvir o silvo das locomotivas, desta vez para os trabalhos de prolongamento do molhe do porto. A aventura ferroviária insular morreria em 1973, quando as velhas máquinas, já então centenárias, apitaram pela última vez ao recolher aos depósitos. Durante 20 anos as locomotivas estiveram em exposição no jardim do Museu Carlos Machado, mas como se encontravam ao ar livre foram mudadas, no ano passado, para um armazém da Junta Autónoma dos Portos de Ponta Delgada.Em 1994, um especialista da empresa British Engineerium viaja aos Açores, a convite da Direcção Regional dos Assuntos Culturais, para estudar a recuperação das máquinas, já únicas no mundo devido aos sete pés de largura de bitola. Mesmo Inglaterra, berço dos caminhos-de-ferro, apenas dispõe hoje de uma reconstituição de uma máquina deste tipo.As autoridades dos Açores recusam a proposta inglesa de recuperar as duas máquinas com a condição de uma delas ficar em Inglaterra. E pedem um orçamento à Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (EMEF), filial da CP, que fala em 200 mil euros para a recuperação de uma delas.”Queremos assumir a responsabilidade de um património que reflecte um período áureo de Ponta Delgada”, declara José Rego Costa, responsável da Junta Autónoma dos Portos da região, que se debate agora com o problema do financiamento para recuperação das máquinas. “Se dependesse de mim, faria um pequeno caminho-de-ferro com uma carruagem da CP para exploração turística no porto”.António Manuel Oliveira, director do museu Carlos Machado, de Ponta Delgada, defende também a “recolocação da via férrea ao longo do pontão, para os visitantes poderem viajar utilizando as locomotivas de forma alternada, exactamente onde funcionavam outrora”. O projecto deveria ser articulado com um futuro museu da História do Comércio, para o qual é necessário ainda unir as vontades dos vários departamentos do governo regional.