AÇORES PRR A ARDER

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Ainda a procissão vai no adro e nos Açores um dossier como o do Plano de Recuperação e Resiliência, que exigiria total transparência, diálogo e rigor, surge toldado por demasiadas dúvidas, críticas e perguntas para que mereça uma ampla discussão pública. Discussão que já deveria ter ocorrido e que, por certo, teria evitado chegarmos ao ponto a que chegamos com empresários a pedirem meças à Câmara do Comércio de Ponta Delgada, PS e BE a acusarem o governo açoriano de “favoritismos ilegítimos” e de “jogo viciado”, em suma, de “falta de transparência” na gestão das verbas afetas às chamadas Agendas Mobilizadoras.
A resposta do Executivo Regional, em comunicado publicado no portal do governo, procura deitar água na fervura, mas o fogo já lavra e não será um mero balde de água que o irá extinguir. Este é o primeiro facto político de relevo que deixa o Governo dos Açores numa situação de potencial fragilidade e a oposição com o naipe mais forte.
Um facto político que poderia ter sido evitado, tivesse o governo regional promovido uma campanha alargada a todas as ilhas, recorrendo a todas as plataformas, inclusive, e de forma intensiva, à comunicação social açoriana, para divulgar as regras, as verbas e os prazos. Depois poderia ficar sentado a aguardar, munido de um plano B que em caso de sonolência dos empresários seria posto em prática.
A lei até pode estar toda do lado do governo, mas faltou transparência, visibilidade a um processo que nunca deveria ter ficado restrito a comunicados lacónicos no portal do governo e newsletters das Câmaras do Comércio.
Agora que o fogo já arde, o presidente do Governo Regional dos Açores veio clarificar as águas e revelar que a “responsabilidade” e o “percurso” no acesso às verbas das Agendas Mobilizadoras “foi feito pela Secretaria Regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública”. Uma declaração que deixa o secretário regional da tutela isolado na luta contra as chamas que o ameaçam queimar. E quando questionado pelos jornalistas sobre se mantinha a confiança política em Joaquim Bastos e Silva, José Manuel Bolieiro responde com um enigmático “tudo será esclarecido” e “tudo será potenciado para a informação”. Não se percebe o alcance das palavras do presidente do governo, mas percebe-se que não defende inequivocamente Joaquim Bastos e Silva.
Já ontem à tarde a CCIPD emitiu um comunicado onde afirma que “não teve qualquer intervenção na decisão sobre os valores das agendas nem tão pouco sobre as empresas e entidades que as integram” e que “colaborou com uma iniciativa que considerou ser relevante e de interesse para a economia regional, sem poder de decisão sobre os aspetos relevantes do processo. Também do lado da maior câmara do comércio dos Açores chega o afastamento do fogo. Ninguém se quer queimar.
O secretário regional das Finanças vai ter a oportunidade de clarificar tudo esta semana perante os deputados e ainda antes perante o presidente do CESA. O fogo alastra e ameaça não apenas as Finanças, mas todo o edifício governativo que ainda procura consolidar alicerces.
(Paulo Simões – Açoriano Oriental de 17/10/2021)
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