AÇORES PATRIMÓNIO AO ABANDONO

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Os raros gigantes de Ponta Delgada
No dia 17 de Novembro de 1981 a BBC anunciava no programa “Today” que tinha sido feita uma importante descoberta histórica nos Açores. Mais exactamente, duas locomotivas a vapor construídas para a bitola larga do engenheiro Isambard Kingdom Brunel, com 2,140 mm de distância entre carris. Na altura, muitos ouvintes acharam que era uma piada, pois a bitola larga de Brunel tinha acabado há mais de um Século, não havia caminho-de-ferro nos Açores, as ilhas eram pequenas e situadas no meio do Atlântico. Em teoria o local mais improvável para haver uma linha com essa bitola XXL.
O autor da “descoberta” era o fotógrafo, viajante e historiador ferroviário Colin Garratt e as duas locomotivas estavam de facto nos Açores, tendo servido para as obras de construção do porto de Ponta Delgada, que contou com uma ferrovia de apoio logo a partir de 1861. Na realidade chegaram a ser três máquinas, mas apenas chegaram aos nossos dias duas delas, ambas com o mesmo tipo de rodado 0-4-0, ou seja, com dois eixos motrizes. Uma construída pela Falcon Works de Loughborough em 1888 e a outra construída em Gateshead pela Black Hawthorn, na década de 1880. A terceira ainda existia no início dos anos 1960, mas foi desmantelada em data que desconheço
A linha ligava o Porto de Ponta Delgada à pedreira da Pranchinha, situada sensivelmente onde agora está o aeroporto local e a última vez que as locomotivas foram usadas terá sido em 1973.
O interesse dos britânicos alertou as autoridades portuárias portuguesas para o valor extremo das peças únicas que tinham à sua guarda. Numa primeira fase expuseram as locomotivas ao ar livre e, rejeitando uma proposta britânica de recuperar uma em troca de outra, tentaram em seguida restaurar a Falcon com os recursos disponíveis. No entanto, os trabalhos foram suspensos após desmontarem parcialmente a locomotiva. Hoje encontram-se ambas convenientemente resguardadas nas instalações do porto de Ponta Delgada, aguardando um futuro restauro, assim haja orçamento e vontade para o fazer.
O que seria até um investimento relativamente modesto e muito sensato, pois as duas locomotivas restauradas e a sua antiga e bem conservada cocheira transformada em museu, constituiriam uma atracção irresistível para milhares de entusiastas britânicos visitarem a ilha e verem ao vivo as duas últimas locomotivas originais para a via larga de Brunel que existem no planeta.
Um dia, talvez.
Maria Das Neves Baptista, Luis Filipe Franco and 8 others
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