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Normalidade?
Esteve muito bem o Presidente do Governo Regional dos Açores, esta semana, ao retirar o tapete ao Director Regional da Saúde.
Em apenas cinco dias o executivo açoriano contrariou o que tinha dito Tiago Lopes, mandando distribuir 270 mil máscaras pela população. Excelente medida.
Vai seguir-se, com toda a certeza, mais uma contrariedade à teimosia da Autoridade de Saúde: a massificação de testes.
A encomenda de 400 mil testes, anunciada pelo Presidente do Governo, é sinal de que Vasco Cordeiro pretende – e muito bem – realizar testes em larga escala.
Poderá começar por S. Miguel, onde a propagação está mais descontrolada. Daí que também tenha estado muito bem em prolongar as cercas sanitárias.
Há teimosias na Autoridade de Saúde que são incompreensíveis.
Dizer que nada falhou no Hospital de Ponta Delgada é viver num estado de negação completamente absurdo.
Está à vista de toda a gente que o Hospital de Ponta Delgada falhou, tornando-o num dos focos mais perigosos de contágio.
De tal modo que, só agora, é que estão a realizar testes a todos os profissionais de saúde que lá trabalham, tenham ou não sintomas.
É uma reacção que se louva, mas muito tardia.
O maior hospital da região teve e, pelos vistos, continua a ter, um problema grave: falta voz de comando. Não há liderança.
Parece ser gerido à distância, é tal a desorientação que se vive internamente.
Basta ouvir os relatos de quem lá trabalha e de quem está na linha da frente.
Se a Autoridade de Saúde acha que nada está a falhar, fale com essa gente. Ou então verifique no gabinete de gestão de risco do HDES a quantidade de notificações de risco, da autoria de vários profissionais de saúde, sem resposta.
Em resumo, há algumas decisões contraditórias e muitas com uma lentidão incompreensível.
Não é isso que vemos aqui mesmo ao lado, nos nossos vizinhos da Madeira, um caso exemplar na tomada de medidas atempadas. Talvez esteja aí o segredo para, numa ilha com quase o dobro da população de S. Miguel, ter apenas metade do número de infectados, nenhuma morte, nenhum lar infectado e nenhum hospital com o problema do nosso.
Temos copiado algumas das medidas, o que é sinal de humildade, mas devíamos ser mais rápidos e não esperar pelos outros.
Noutro plano, o discurso de Vasco Cordeiro, quinta-feira, foi de uma serenidade e ponderação assinaláveis, ao contrário da euforia tonta e desaconselhada do Presidente da República e do Primeiro-Ministro relativamente à retoma da normalidade.
Notou-se o seu desconforto em relação ao caso dos estudantes retidos no continente.
Se, inicialmente, o critério de os manter em Lisboa era o mais aconselhável, agora os estudantes e respectivas famílias têm razão para se sentirem revoltados com o critério adoptado para os presos, transportados em aviões da Força Aérea. São critérios das autoridades políticas que não se entendem.
S. Miguel ainda não tem condições para retomar alguma normalidade enquanto não se controlar, na totalidade, a propagação, mas já se devia pensar o contrário nas ilhas onde a doença não chegou ou mesmo nas outras que não registam há mais de duas semanas qualquer caso.
Claro que, seja qual for a forma da retoma da normalidade, terá de ser sempre controlada e nunca de forma desordenada.
Seria um bom sinal para as outras ilhas e para o exterior, como motivação e exemplo de esperança.
Que bem precisamos.
Osvaldo Cabral
(Editorial do Diário dos Açores 19-04-2020)
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