açores e o espaço, falhanço ou não?

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Publicado no Correio dos Açores, 21 Dezembro 2021
A era das tecnologias espaciais nos Açores
Está difundida a ideia de que é recente a entrada dos Açores nas tecnologias espaciais. Nada mais errado.
A aventura espacial dos Açores teve início em 1977 com a inauguração da Estação Terrena de Satélites de Ponta Delgada, propriedade da Companhia Portuguesa Rádio Marconi. Esta estação operou até 2004, tendo sido desactivada com a entrada em funcionamento do anel CAM de Cabos Submarinos Ópticos.
A Estação de Ponta Delgada foi complementada em 1990 com a Estação Terrena da Terra Chã, na Ilha Terceira, e com a Estação Terrena da Ilha das Flores em 2000. De todas elas só resta a primeira, num estado de muita degradação. É um desperdício que não se compreende e muito menos se aceita. É todo um complexo sistema de infra-estruturas únicas na região que está ao abandono. Nos Açores ainda está por construir um edifício que apresente maior resistência anti-sísmica.
A Estação Terrena de Ponta Delgada está dotada de várias antenas parabólicas, incluindo uma Standard A de 32 metros de diâmetro e outra Standard C de 12 metros. Inicialmente de tecnologia analógica, as transmissões foram actualizadas para digital em 1990, operando com satélites quer da rede Eutelsat, quer Intelsat.
O conjunto de estações dos Açores eram operados a partir de Ponta Delgada, na Estação Terrena, que dispunha de um corpo de engenheiros e técnicos especializados.
Em 1976, contratados em São Miguel, a maioria dos técnicos frequentaram cursos especializados de telecomunicações, ministrados pela Marconi, complementados com formação continua interna, e outra facultada pelos fornecedores de equipamentos e tecnologia.
Desde 1938 as precárias ligações telefónicas eram asseguradas via rádio, com antenas rômbicas em São Gonçalo, Ponta Delgada (onde está actualmente construída a Urbe Oceanus).
Em 1977 os Açores deram um decisivo salto tecnológico com o início das ligações ao exterior via satélite, só comparável ao que ocorreu em 2000, com a entrada em funcionamento da rede de cabos submarinos ópticos.
Estes avanços tecnológicos que beneficiaram os Açores só foram possíveis com o envolvimento de uma empresa privada (Marconi), que detinha uma concessão pública. Foi uma conjugação de vontades, em que a técnica, mais do que a política, teve um enorme desempenho. Foi assim na implementação da tecnologia via satélite, como posteriormente também o foi nos cabos submarinos ópticos.
Ao contrário do presente tudo isto ocorreu longe do espaço mediático permanente, para o qual a política tudo arrasta, muitas vezes, com resultados no mínimo questionáveis.
Não foram necessárias Estruturas de Missão Governamentais, Agências e outras burocracias, que mais não fazem do que gastar tempo e recursos. Unicamente uma empresa privada meteu mãos à obra em nome do Estado.
Se o Governo Regional dos Açores quer efectivamente desenvolver a área espacial dos Açores, pois então que efectue a concessão do assunto a uma empresa privada, num exigente e credível caderno de encargos. De outro modo, iremos de anúncio em anúncio, numa série de oportunidades perdidas.
O que falta em trabalho especializado sobra em declarações.
Ponta Delgada, 18 de Dezembro 2021
João Quental Mota Vieira
Eng. Electrotécnico (IST) e MBA (UAç)
Ex-Quadro Superior da Marconi/PT
Ex-Chefe da Estação de Cabos Submarinos dos Açores
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