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Meu artigo de opinião publicado ontem no diário local: Incentivo
A NOVA GOVERNAÇÃO E O TESTE DA BATALHA COVID
Na passada semana, os Açores viram tomar posse, pela primeira vez, um Governo Regional de coligação de vários partidos perante a Assembleia Legislativa do Arquipélago mais plural de sempre. É muita diversidade a exigir entendimentos, o que pode ser fonte de esperança para a transição de um modelo de democracia autoritária de poder tentacular para um modelo de diálogo e entendimento entre partes diferentes de que é constituída uma sociedade saudável.
Além da pluralidade, o elenco mostra ainda o peso das geografias do arquipélago, tanta diversidade acarreta receios precisamente nesta época onde a radicalização de cada grupo tende a resistir à cedência – a ferramenta base de qualquer acordo entre partes distintas com visões e interesses diversificados – o que pode levar à divisão e desagregação do próprio Governo. Para já, o novo Presidente mostrou a sua capacidade de diálogo e veremos como resiste ao cansaço da necessidade de negociações permanentes. Vendo as redes sociais e jornais, concluo que José Manuel Bolieiro não encontrará uma sociedade acomodada à espera de ver as suas virtudes, mas sim uma resistência significativa, reativa e preparada para provocar a divisão e a não perdoar qualquer inexperiência.
O primeiro embate será mesmo o modo como, com engenho ou sorte, este executivo irá superar o problema da pandemia, não só em São Miguel e Terceira onde já está instalado de forma grave, mas também como travará o contágio do vírus para as outras terras dos Açores, e neste caso, a rapidez para suspender uma medida mal implementada vinda detrás não se compadece com uma eventual lentidão ou resolução tardia na questão dos testes de quem sai daquelas duas ilhas para as outras sete da Região.
A evidenciar a sensibilidade do problema para a credibilização inicial deste executivo está o facto de que muitos dos que criticaram o novo Secretário Regional por não ser da área da saúde serem os mesmos que criticam por se ter convidado para a resolução do COVID-19 um especialista nacional disponível. A urgência do ex-Diretor Regional da Saúde em ir para deputado em vez da prioridade a uma transição tranquila a bem da saúde pública, mostra bem que o atual governo não gozará de um estado de graça e que todas as farpas já lhe estão apontadas no terreno.
A questão do SARS-Cov2 é a fonte atual de maiores receios para a sobrevivência dos nossos idosos e efeitos negativos da nossa economia, medos que superam em muito a esperanças na vacinação. Aqui, o confronto entre humanistas e economicistas e interesses individuais, que variam do bom-senso ao egoísmo, não é só uma questão técnica, é sobretudo um problema político e ético.
Não sei se por estratégia comercial, facilidade em implementar os ensaios das farmacêuticas ou por desatenção ao problema humano, tudo indica que, em matéria de tentar descobrir vacinas para terminar com a pandemia, os laboratórios envolvidos no ocidente optaram por ver o sucesso e a eficácia nos grupos que na generalidades são imunes à doença (mas que transmitem o vírus de forma assintomática) e deixaram de fora os grupos de risco que era necessário proteger pela elevada taxa de mortalidade quando contaminados, com destaque para os mais idosos. Um mal ocidental, onde a maioria das medidas políticas de controlo da doença atacam mais o normal funcionamento da sociedade do que protegem os grupos de riscos e os que com eles contactam.
Assim, não me admira que em Portugal a equipa técnica para a vacinação tenha precisamente excluído do seu plano a tentativa de imunizar a faixa etária mais necessária a ficar imune, mostrando como nos tempos atuais o humanismo anda muito arredado do pensamento social, e nem viu o problema humano ao propor a exclusão dos mais vulneráveis, que geraria uma eutanásia etária, não a pedido das pessoas em risco, mas sim, por imposição duma estratégica pouco solidária.
Esteve bem o Primeiro-ministro em condenar esta estratégia desumana, nem discuto argumentos técnicos. Veremos como a situação será corrigida e como nos Açores o novo Governo se lembrará dos idosos em lares e em casa de familiares que têm de estar em contacto com a sociedade.
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