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O Governo Regional dos Açores activou um plano de contingência e, entre várias medidas, cancelou as aulas. Julgo ser uma medida extrema, mas necessária. Antes remediar no futuro, do que nos arrependermos dentro de dias, se o COVID-19, de facto, não for contido. O grande defeito do GRA, contudo, através da DRE, foi achar que, de um dia para o outro, seria possível mudar o paradigma da aprendizagem presencial para a aprendizagem à distância. Não é possível por dois motivos: um é óbvio – não deu simplesmente tempo de avisar os alunos nem de organizar o processo; outro, menos óbvio, é sintomático do falhanço das políticas de educação do GRA – os alunos não dominam as ferramentas de tecnologia da informação e comunicação. Ou seja, os alunos são analfabetos tecnológicos. Sim, todos têm um smartphone ou um tablet e muitos têm um portátil, mas é o equivalente a um carteiro distribuir cartas num Ferrari. Estes dispositivos são apenas utilizados, diria quase exclusivamente, para redes sociais: facebook, WhatsApp, TIKTOK, etc. A maior parte dos alunos não tem sequer uma conta de email e muitos não sabem como obter uma. A maior parte dos alunos não sabe utilizar o word, o powerpoint ou o excel: e serão raros, portanto, os que sabem o que significa CTRL+ALT+DEL, CTRL+J… no mínimo, sabem ir a um browser pesquisar no google (embora não saibam como aperfeiçoar uma pesquisa) um tópico e depois copiar essa informação para o word – mas depois não sabem formatar o texto devidamente.
Querem, então, que estes alunos sejam capazes de dominar ferramentas de trabalho à distância? A nossa escola, até há bem poucos meses, esteve anos seguidos sem computadores nas salas de aula. Neste momento melhorou um pouco, mas ainda assim, por exemplo, a minha turma do 11ºA tem aulas em salas onde NÃO HÁ COMPUTADORES… Para lhes dar uma aula mais dinâmica tenho de usar o meu portátil e a minha internet móvel porque nessas mesmas salas NÃO HÁ INTERNET! E não há mês, portanto, em que não tenha de pagar pelo excesso de tráfego de internet móvel: pago para dar aulas, sim…
O COVID-19 há-de despertar, em cada um de nós, o melhor da nossa humanidade, se formos capazes de respeitar as regras básicas de saúde pública, mas também está a servir para pôr a descoberto as consequências da incompetência de quem nos tem governado. Certamente, posso estar a ser injusto com alguma situação onde isto não seja bem assim, mas infelizmente, na região autónoma dos Açores, há escolas que são filhas e outras são enteadas.
