O motim de Lamego» (20 de Julho de 1915) – VALDIGEM

Fonte: Aconteceu há 100 anos em Lamego: «O motim de Lamego» (20 de Julho de 1915) – VALDIGEM

Aconteceu há 100 anos em Lamego: «O motim de Lamego» (20 de Julho de 1915)

Francisco Duarte, em 15.06.16
Posted by lamecum in Chronicon Lamecensis

Motim Lamego

O tiroteio à nossa volta dificulta-nos a audição

Mas a voz humana é diferente dos outros sons

Pode ser ouvida sobre outros sons que abafam tudo o resto

Até mesmo quando não há gritos

Até mesmo quando é só um murmúrio

Até mesmo o mais leve murmúrio pode ser ouvido sobre o

barulho dos exércitos quando diz a verdade.

Jornaleiros do Douro – (Emílio Biel)

Poema retirado do filme “The Interpreter”

A 20 de Julho de 1915, o povo das aldeias de Cambres, Valdigem, Sande e Figueira, cerca de 5000 pessoas, dirigiu-se à cidade de Lamego, manifestando-se em frente ao edifício da Câmara. De acordo com os relatos dos jornais, no momento em que a comissão de representantes se encontrava reunida com a Comissão Executiva da Câmara de Lamego, de repente, a população foi atacada com bombas, caindo, mortos ou feridos, vários manifestantes e debandando a maioria. Com a população em fuga, mais nove pessoas seriam atingidas, mortalmente, pelas costas, por tiros disparados das janelas traseiras da câmara. O balanço trágico do motim de Lamego somou 11 mortos e 19 feridos.

Na noite do dia 19 começou a correr pela cidade que os sinos das aldeias tocavam a rebate, convidando o povo a dirigir-se a Lamego para pedir à Câmara o seu apoio à sagrada questão do Douro. Na manhã do dia 20 de abril de 1915, umas 4 ou 5 mil pessoas das freguesias vinhateiras do concelho armadas de varapaus, foices, machados, etc., entraram na cidade, obrigando todo o comércio a fechar as suas portas e obrigando também os principais proprietários a acompanhá-los ao edifício dos Paços do Concelho nessa romaria que depois tão triste e tão fúnebre se tornou (1).

A liderar essa multidão ia um popular a empunhar uma bandeira negra com a seguinte frase: “O Sul mata-nos à fome!”. Todos se dirigiram ao Município e aí foi nomeada uma comissão para se reunir com a vereação e autoridade administrativa sobre a atitude a tomar perante a gravíssima questão do Douro. Durante a tal reunião tudo correu dentro da ordem. Depois…

“Duma das varandas um soldado arremessou sobre a multidão a barretina onde reluzia um 9 metálico. Os lídimos e brilhantes esteios da ordem, todos com larga folha de baixos serviços políticos […] supuseram a República em perigo… iam cambalear as instituições políticas da terreola e lugubremente, com gesto carniceiro, despejaram bombas sobre a multidão inerme e de cabeça descoberta. Na multidão abriram-se grandes clareiras sangrentas e gritos agudos encheram os ares. Civis, no mais aceso orgulho de cidadãos livres, arrancaram as espingardas aos soldados e visaram os fugitivos, atingindo-os pelas costas. ” (in Sangue Plebeu de Pina de Morais).

Em jeito de singela homenagem, aqui fica a relação dos mortos no “Motim de Lamego”:

– Franscisco dos Santos Araújo (jornaleiro de Portelo de Cambres)

– Manuel Carneiro (sapateiro de Britiande)

– Francisco Guedes (jornaleiro de Pomarelhe de Cambres)

– Maximiano da Silva (proprietário de Valdigem)

– Bernardo Pinto (casado, Riobom de Cambres)

– João Cardozo (casado, Parada do Bispo)

– José Gomes Rabito (casado, do Ladario de Cambres)

– Pedro da Silva (casado, de Quintião Cambres)

– José da Rede (casado, feitor da Quinta dos Sequeiros)

– António Ribeiro (casado, de Riobom de Cambres)

– Ana Faininha (de Valdigem)

(1) JORNAL “A FRATERNIDADE”. V ANO, N.º 241, DE 24 DE JULHO 1915