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Encontros imediatos que perduram
A Antena 1 decidiu, de forma incompreensível, pôr termo ao programa que, durante vários anos, nos fez companhia, todos os sábados, entre as dez e o meia-dia, os Encontros Imediatos, conduzidos pelo João Gobern e a Margarida Pinto Correia.
Tive o privilégio de ser uma das vozes deste programa.
Curiosamente, naquela que foi uma das melhores conversas que já tive, entre muitas outras coisas que couberam em 2 horas, falámos também de Jornalismo (uma paixão comum dos três), do que o move, de como é necessário, mas também dos seus desafios e constrangimentos e de como o Jornalismo (e, no caso, o serviço público de rádio) precisa de saber ocupar o espaço que lhe cabe no mundo de hoje.
Na altura, não tinha como prever que aquela troca de ideias era quase premonitória, mas algumas das hipóteses que avançámos naquela conversa fazem, agora, ainda mais sentido.
Não é, certamente, por falta de ouvintes que o programa termina: as audiências falavam por si e somos muitos a lamentar que a voz do João, da Margarida e das suas sempre surpreendentes e enriquecedoras companhias deixe de se ouvir.
Não sendo um programa de Jornalismo, puro e duro, os Encontros Imediatos cumpriam uma das mais importantes missões das redações: ouvir.
Parar, respirar, conversar e ouvir – uma raridade, num mundo de ruído, que só foi possível porque os mentores do programa nunca se deixaram engolir, nem atropelar, pela voracidade e a sofreguidão que regem as lógicas editoriais e redatoriais dos nossos dias.
Saber respeitar o tempo, e os tempos, é um ato de inteligência – mas também de resistência, nos dias de hoje.
Fruto da generosidade do João, que me convidou para ir aos Encontros, apesar de eu pouco ou nada ter a dizer, tive a honra e o privilégio de ser uma das 158 mulheres convidadas (entre 335 convidados) deste programa, que esteve no ar durante 14 anos.
No último episódio, que passou no fim de semana passado, o João leu um texto comovente, triste e sentido, no qual – entre muitas coisas bonitas e verdadeiras – disse que todos os que o visitaram no Encontros fizeram dele alguém melhor.
Para quem conhece o João, é fácil reconhecer nestas palavras a sua generosidade e entrega.
Mas sejamos justos: é ele que melhora todos aqueles com quem se cruza.
Como ouvinte assídua da Antena1, fico mesmo triste com esta decisão, que nos rouba um dos espaços mais interessantes da rádio portuguesa – e, especialmente, do serviço público de rádio que, pela sua natureza, tem uma responsabilidade acrescida, que devia honrar.
Ao João Gobern Sotto-Mayor e à Margarida Pinto Correia: um abraço muito amigo, apertado e solidário, na certeza de que as vossas vozes não se calarão.
Melhor do que os encontros imediatos, só os encontros que perduram.
Naquele dia, para além de uma excelente conversa, ganhei dois amigos.
E coisa mais preciosa, no mundo, não há.
(da página do Facebook de Martha Mendes).
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