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José Soares
A Comissão
Atingem as três centenas, as queixas à Comissão Independente aos Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa. Esta Comissão iniciou um período de recolha de denúncias de vítimas de casos ocorridos desde 1950, suscetíveis de serem remetidos às autoridades judiciais e serem investigados.
Segundo o coordenador da comissão, o pedopsiquiatra Pedro Strecht, existem depoimentos de pessoas entre os 30 e os 80 anos, “todas abusadas enquanto crianças” e a comissão já tem “situações agendadas para contacto pessoal. As histórias de abuso e trauma ouvidas e/ou registadas contêm momentos de profunda dor e sofrimento e, claro está, décadas de silenciamento de cada pessoa, todos merecem a nossa profunda empatia e respeito”, disse ainda aquele coordenador.
Já escrevi inúmeros trabalhos sobre o assunto, sendo um deles a 30 de abril de 2002, no jornal Açoriano Oriental, com o título “Muro das Lamentações” e ainda recentemente neste jornal uma crónica sob o título “Holocausto católico”, onde falava do relatório, resultado das investigações em França, bem como dos números assustadores que tal relatório revelou e ainda uma das últimas crónicas intitulada “As lágrimas de Deus”.
Há mais de cinquenta anos que tenho conhecimento de vários casos, tanto por investigação feita sobre o assunto, como por queixas recebidas de muitas pessoas que me abordavam para confidenciarem os seus dramas. O Papa Francisco há muito que sabe destas situações. No seu país de origem, Argentina, o problema atinge proporções escandalosas, como, de resto, por toda a América Latina. No Brasil a situação é calamitosa.
A Comissão demonstra já que irá ter muito trabalho em Portugal. No final dos seus trabalhos, a comissão vai elaborar um relatório a ser entregue à Conferência Episcopal Portuguesa, que decidirá as ações a tomar. O trabalho desta comissão independente vai decorrer até 31 de dezembro, num espaço físico “descaracterizado” e “autónomo” da Igreja.
Além de Pedro Strecht, a comissão integra o psiquiatra Daniel Sampaio, o antigo ministro da Justiça e representante da República para os Açores, Álvaro Laborinho Lúcio, a socióloga Ana Nunes de Almeida, a assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e a realizadora Catarina Vasconcelos.
As denúncias e testemunhos podem chegar à comissão através do preenchimento de um inquérito “online” em darvozaosilencio.org, através do número de telemóvel +351917110000 (diariamente entre as 10:00 e as 20:00) e por correio eletrónico, em: geral@darvozaosilencio.org.