a unificação dos estados cristãos da Indonésia: o Grande Timor

Um sonho que aparece…: Timor pode ser unificado?

27 Julho 2008 [Internacional]

O Mar de Suva, diante de Kupang, fechado pelas ilhas cristãs da Indonésia, é o espaço de um projecto antigo de um Estado que unifique Timor e o Sudeste do arquipélago malaio.
O sonho da Nação da Terra de Timor, ou Negara Timor Raya, é muito antigo mas eu actualizei-o, afirmou à agência Lusa em Kupang um dos líderes teóricos actuais do movimento por um Estado com as duas metades da ilha.
O projecto de unificação política de Timor está associado a uma outra ideia, o de uma governação cristã nesta região oriental do arquipélago.
A religião é um pretexto, mas no final trata-se de uma questão de justiça porque a parte central da Indonésia nunca se interessa por esta região, disse o mesmo homem, um académico e político indonésio.
Este partidário do Grande Timor prefere manter o anonimato quando fala de um futuro pós-Indonésia.
Já tive problemas com as autoridades, sobretudo com as Forças Armadas Indonésias (TNI), que em 2004 queriam prender-me, contou.
Este académico, um católico das Flores como vários outros adeptos do Grande Timor ouvidos pela Lusa em Kupang, fez uma digressão em Timor-Leste em 2002, para contactos com diferentes sectores sobre o projecto da unificação da ilha.
No regresso a Kupang foi interrogado pela actividade subversiva.
Mário Viegas Carrascalão, ex-governador de Timor-Leste sob a ocupação indonésia, recorda ter recebido uma mensagem de alguém do lado ocidental, em 2001, quando a liderança timorense redigia a Constituição da República, para que o novo Estado se chamasse apenas República de Timor.
A razão do pedido deles era acreditarem que, um dia, toda a ilha será apenas um Estado, recorda o actual presidente do Partido Social Democrata.
O recado chegou a Díli através do ex-secretário do general Eltari, governador de 1968 a 1978 da província do Sudeste indonésio (NTT), que tem capital em Kupang e inclui ilhas de tradição cristã, como as Flores, Solor, Sumba, Adonara e Alor.
Sabe-se que o general Eltari partilhava o sonho do Grande Timor, como realça José Ramos-Horta no seu livro Funu. É voz corrente em Kupang que morreu envenenado porque ter-se-ia oposto à invasão de Timor-Leste pelas TNI em 1975.
Outras fontes sugerem que uma das razões para a invasão de Timor-Leste era inviabilizar o projecto unificador e secessionista de Eltari.
Alguns académicos especialistas na Indonésia têm salientado que as elites militares de Jacarta, dominadas por oficiais superiores na maioria originários da grande ilha de Java, têm sido um factor de desestabilização e favorecem, na prática, projectos secessionistas ou irredentistas.
As TNI têm seguido a tradição da guerrilha anti-colonial de actuar à margem de direcção política, salientava, em 2004, Rod Nixon, da Faculdade de Direito da Universidade de Darwin (Austrália), ao analisar o impacto da regionalização na Indonésia e as novas dinâmicas centro-periferia na NTT.
Rod Nixon constatava o fortalecimento de um movimento etno-nacionalista pelo Grande Timor, favorecido pelo isolamento de Timor ocidental e pela sentimento de negligência do poder central face à degradação da economia regional.
A Indonésia é um país frágil. Eu ouço e até discuto com os generais das TNI a unidade de República, disse à Lusa, em Kupang, o académico do Grande Timor.
Mas a Indonésia é passado. O futuro será uma série de novos Estados no arquipélago. Incluindo o Grande Timor. Espero ver isso em vida, concluiu.

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