a sociedade da solidão 2014

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a sociedade da solidão

Crónica 137, (1/2014) 5 julho – a sociedade da solidão

Começo com a constatação do dia: o ateísmo não preclude a aparição de dores nas cruzes. A contestação do dia é a mesma de sempre, fim ao capitalismo selvagem que, aliado ao eugenismo e malthusianismo decidiu estragar ainda mais este mundo em que vivo, vai para 65 anos.
O proverbial otimismo consubstanciado na celebrada frase minha “estou vivo, não me queixo” começa a demonstrar sinais de extrema fadiga, que já não podem ser atribuídos ao inverno rigoroso que se abateu sobre os Açores.
A continuada crise de saúde na família tem minado tal otimismo, já de si abalado pelo “passe-vite” governamental que a todos espreme a fim de proporcionar aos donos do mundo uma paste disforme de carne picada, de escravos sem voz nem querer na qual me não revejo.

Sempre trabalhei, fui criador e produtivo. Creio na justa remuneração e não neste alinhamento pelo menor denominador comum. Creio que os improdutivos e incompetentes deveriam ser obrigados a terem formação pessoal e profissional adequada e só depois disso deveriam ser dispensados, em vez de se manterem gestores, professores e políticos improdutivos e néscios. Perguntará o leitor menos esclarecido por que razão incluo professores nesta citação, pelo que cito, (correndo o risco de repetir a mensagem que deixei nos dois livros ChrónicAçores nascidos destas crónicas): os professores, capazes, bem formados e competentes, são a única base sustentável de um povo democraticamente esclarecido e produtivo. Sem educação não há país. Sem eles criaremos, cada vez mais, ditadurazinhas de países irrelevantes, por mais importantes que aparentem ainda ser no dia-a-dia. Pequenos e irrelevantes países de gente inculta e ignorante predestinada à escravidão.

Uma das razões pela qual deixei a prosa descansar nestes longos meses de hibernação deve-se ao facto de eu não ter digerido bem a constatação de que a realidade virtual em que vivemos há muito excedeu a ficção e os efeitos especiais com que nos bombardeiam diariamente para nos fazerem crer que afinas existimos.

A realidade porém é outra, (seria mesmo cómica se não fosse trágica) vejamos:
MONSANTO ACQUIRES RIGHTS TO THE SUN
CREVE COEUR, MISSOURI, June 30 — in a ground-breaking move, Monsanto, a multi-national biotechnology corporation, acquired rights to the sun in a 5-4 decision by the U.S. Supreme Court. The decision, led by Clarence Thomas, was hailed by Monsanto President and CEO Hugh Grant as “good news for food producers, food consumers, and the future of humanity.”
Monsanto is known worldwide for its Roundup brand, an herbicide that works in conjunction with genetically engineered seeds.
The decision allows solar energy used by Monsanto-crop farmland — including solar panels, wind turbines and the like — to be taxed at a rate of 10% per kilowatt hour. Approved in an unprecedented three months, the law will go into effect January 1, 2013. Companies, organizations and individuals currently using Roundup products will receive one free year of sunlight before the 10% tithe is active. According to the new regulation, any action to “store, reuse or redirect” sunlight will be a prosecutable offense unless authorized by Monsanto. Failure to comply with the law may result in a visit by Monsanto’s secretive “Watt” Police. Monsanto typically uses lawsuits or the threat of lawsuits to bring compliance. “We feed the world,” Grant says, “anyone caught stealing sunlight from us is stealing food from the mouths of millions.”

Falta perguntar a que divindades pagaram eles esse direito universal, depois de terem patenteado a vida, de inserirem genes na nossa cadeia alimentar e agora raptam o sol de que depende toda a vida na Terra, para o calor e a fotossíntese.
Os EUA já se tinham declarado donos da Lua, agora esta companhia que nos mata e geneticamente nos reprograma em todos os cantos do mundo quer tomar conta do sol?

A IA ANALISA ISTO ASSIM:

Quais são as principais críticas sociais expressas em “A Sociedade da Solidão”
Sources
[PDF] Avessos do prazer – SciELO Livros

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Museu do Pico acolhe obras de Chrys Chrystello

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a sociedade da solidão – Diário de Trás-os-Montes

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Em “A Sociedade da Solidão”, Chrys Chrystello expressa várias críticas sociais importantes:

Críticas ao Sistema Econômico e Político

Capitalismo Selvagem

  • O autor condena veementemente o capitalismo selvagem, que ele vê como responsável por “estragar ainda mais este mundo”
    3

    .

Governança Ineficaz

  • Chrystello critica os políticos, descrevendo-os como “sem escrúpulos e mentirosos congenitamente compulsivos”
    3

    .

Degradação Social

Isolamento e Solidão

  • O texto destaca a crescente solidão na sociedade moderna, mencionando casos de idosos encontrados mortos em suas casas meses após seu falecimento
    3

    .

Erosão dos Valores Familiares

  • O autor lamenta a perda dos valores familiares tradicionais, questionando se sua geração será “os últimos dos que ainda se preocupam, amam e cuidam dos seus”
    3

    .

Crítica à Passividade Social

Inércia do Povo

  • Chrystello critica duramente a passividade do povo português, descrevendo-o como “cretinizado, obtuso, que se arrasta subjugado, sem lamúrias”
    3

    .

Falta de Rebeldia

  • Ele aponta a ausência de reação popular contra as injustiças, notando a falta de “um gesto de rebeldia, tão pouco de raiva”
    3

    .

Estas críticas refletem a visão de Chrystello sobre uma sociedade em declínio moral e social, marcada pela solidão, pela perda de valores tradicionais e pela apatia diante de sistemas políticos e econômicos opressivos.

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Há dias, António Quintela transcreveu um texto que adaptei:

A DOR DO ABANDONO…
Era uma manhã de sol quente e céu azul, quando o caixão contendo um corpo sem vida foi baixado à sepultura. De quem se trata? Quase ninguém sabe. Poucas pessoas acompanham o féretro. Ninguém chora. Ninguém sentirá a falta dela. Ninguém para dizer um adeus ou até breve.
Depois de o corpo desocupar o quarto do asilo, onde aquela mulher passou boa parte da sua vida, a responsável pela limpeza encontrou numa gaveta ao lado da cama, umas anotações. Um diário sobre a dor…a dor que sentiu por ter sido abandonada pela família num lar para idosos… Talvez o sofrimento fosse muito maior, mas as palavras só permitiram extravasar uma parte desses sentimentos, gravados em algumas frases:
Onde andarão meus filhos? Aquelas crianças sorridentes que embalei no meu colo, que alimentei com o meu leite, de que cuidei com tanto desvelo, onde andarão? Estarão tão ocupadas? Talvez não me possam visitar, nem ao menos para me dizerem olá, mãe? Ah! … Se soubessem como é triste sentir a dor do abandono… A mais deprimente solidão… Se ao menos pudesse caminhar…Mas dependo das mãos generosas destas moças que me levam todos os dias para tomar sol no jardim… Jardim que já conheço como a palma da minha mão.
Os anos passam e os meus filhos não entram por aquela porta, de braços abertos, para me envolver com carinho…
Os dias passam… E com eles é a esperança que se vai… No começo, era a esperança que me alimentava, ou eu a alimentava, não sei… Mas, agora… Como esquecer que fui esquecida? Como engolir esse nó que teima em ficar na minha garganta, dia após dia? … Todas as lágrimas que chorei não foram suficientes para desfazê-lo… Sinto que o crepúsculo desta existência se aproxima… Queria saber dos meus filhos… Dos meus netos… Será que ao menos se lembram de mim?… A esperança, agora, parece estar atrelada aos minutos… Que a arrastam sem misericórdia…para longe de mim…
Às vezes, em sonhos, vejo um lindo jardim, que transcende os muros deste albergue e se abre em caminhos floridos que levam a outra realidade, onde braços afetuosos me esperam com amor e alegria… Mas, quando acordo, é a minha realidade que vejo… Que vivo… Que sinto… Um dia alguém me disse que a vida não se acaba num túmulo escuro e silencioso… Que a vida continua após a morte, de uma outra forma… Mas com certeza a minha matéria, a minha mente, o meu eu dessa vida que vivo agora, com o nome que tenho… Nunca mais existirá!… E quando a morte chegar, só restará a saudade que com o passar do tempo se ameniza… (se é que alguém vai sentir saudade de mim, já que não sentem enquanto ainda estou viva neste asilo…)
Sinto que a minha hora está chegando… Depois de partir, gostaria que alguém encontrasse estas minhas anotações e as divulgasse. E que elas pudessem tocar os corações dos filhos que internam seus pais em asilos, e jamais os visitam… Que eles possam saber um pouco sobre a dor de alguém que sente o que é ser abandonado… Pensai que a cada pai e a cada mãe Deus perguntará: O que fizestes do filho confiado à vossa guarda? … E aos filhos: O que fizestes aos vossos pais?.. AMO OS IDOSOS.

Também recentemente escrevia Miguel Gameiro:
Vejo muita gente só. Nas ruas, nos cafés, nos supermercados…gente anónima, discreta, que se esconde nos cantos do silêncio porque simplesmente já não está lá ninguém para as ouvir. Gente que ansiosamente procura um olhar direto, apenas para uma conversa de circunstância…um minuto de companhia…pode ser sobre o tempo, o futebol ou sobre a reforma que desapareceu…gente que se tornou fria, rude, porque a vida se encarregou de lhes tirar o resto. Os filhos que tiveram de partir à procura de um futuro, os outros que ficaram mas que não querem saber…a solidão é uma merda.

A verdade escamoteada é que andamos todos sós e olhando em volta não há mais ninguém, só a nossa imensa solidão, que nos consome até darmos conta de que a história narrada podia bem ser a nossa própria autobiografia. E não é única, nem um caso isolado. Repete-se em todos os pontos do globo com uma cadência, cada vez mais ritmada, pontuada, aqui e ali, pelo telejornal que dá conta de mais um/a idoso/a descoberto apodrecido no seu lar, meses após a sua morte. Que sociedade injusta e impiedosa vi eu crescer enquanto mantinha os princípios sagrados de família que os meus pais me inculcaram, tal como antes os meus avós, bisavós e trisavós tinham feito. Será que os esforços de séculos de todos os meus antecessores na família vão terminar com esta geração. Seremos nós os últimos dos que ainda se preocupam, amam e cuidam dos seus?
Onde teremos falhado se inculcamos os mesmos valores com que fomos criados? Agora que já ninguém os segue nem lhes presta atenção…

Escrevi num dos livros ChrónicAçores:
Animais de hábitos, repetimos percursos e tradições que nos permitam qualificar na classe em vias de extinção, a dita família. Já na Austrália se queixava de desgostar de 3% do que o rodeava, que era a falta de vínculos familiares da maioria das pessoas, mas depara-se hoje, em Portugal, com idêntica evolução, o dito progresso, que a todos consome e derrama gotas de ácido corrosivo em tecidos centenários que gerações perpetuaram, umas atrás das outras sem se questionarem. Portugal sempre teve esta tendência suicida de copiar tudo o que de mau vem de fora.

Enquanto isto os países da lusofonia (CPLP) sempre sedentos de protagonismo pelas piores razões avançam para admitir no seio de observadores a Guiné Equatorial (ex-espanhola) em troca do seus petrodólares, esquecendo décadas de tortura. Que importam as torturas se eles prometem falar Português? Esta a mensagem subjacente sem jamais mencionarem a pátria galega de onde nasceu a língua que falamos, para não ofenderem os reizinhos de Espanha e o seu projeto aglutinador de nacionalidades, naquilo a que se convencionou chamar o Reino de Espanha e mais não é do que o feudal castelo de Castela? Os galegos não podem entrar na CPLP, ainda não descobriram petróleo embora já falem português.
De nada serviram os esforços da AICL e dos seus colóquios da Lusofonia desde 2010? Vejamos
AICL REPUDIA EXCLUSÃO DA AGLP NA CPLP, 5 DE OUTUBRO 2011
BREVE HISTORIAL
EXTRATO DAS CONCLUSÕES – XIII COLÓQUIO ANUAL DA LUSOFONIA “AÇORIANÓPOLIS” EM FLORIANÓPOLIS, SANTA CATARINA, BRASIL 26 março a 11 de abril 2010
Os Colóquios da Lusofonia lançaram o repto à Academia Brasileira de Letras, à Academia das Ciências de Lisboa e a todas as entidades que apoiem a imediata inclusão da AGLP – ACADEMIA GALEGA DA LÍNGUA PORTUGUESA – com o estatuto de observador na CPLP, e comprometeram-se a envidar todos os esforços para a consecução de tal desiderato.
Concha Rousia comprometeu-se a enviar à CPLP os objetivos da Academia Galega para fundamentar o seu pedido de adesão com o apoio da sociedade civil aqui representada pelos Colóquios da Lusofonia, salientando que Goa e Galiza fazem falta à CPLP e que seria profícuo vir a criar um canal de televisão lusófono abrangendo todos os países, mas que seria necessária muita vontade política para tal se concretizar.
ESTE PONTO FOI REITERADO NAS CONCLUSÕES DO XIV COLÓQUIO ANUAL DA LUSOFONIA DE Bragança EM OUTUBRO 2010.
Pareciam bem encaminhadas as negociações resultantes do repto que os Colóquios da Lusofonia lançaram à Academia Brasileira de Letras e a todas as outras entidades para apoiarem a imediata inclusão da ACADEMIA GALEGA DA LÍNGUA PORTUGUESA com o estatuto de observador na CPLP até dia 22 de julho quando a CPLP anunciou a admissão da AGLP sob proposta do país anfitrião (Angola). A mesma admissão surpreendentemente foi retirada da página oficial da CPLP umas horas depois sem qualquer explicação, pelo que as celebrações de júbilo na Galiza e no resto do mundo duraram apenas oito horas. Veio, posteriormente a saber-se que fora Portugal que sempre apoiara esta proposta da AGLP integrar a CPLP com o estatuto de observador fora vetada no último momento por Portugal. A AICL em concertação com o MIL Movimento Internacional Lusófono de que faz parte tomou algumas medidas sendo a mais visível a da Petição ao Ministro dos Estrangeiros de Portugal Dr Paulo Portas:
2. Petição-Carta Aberta a Paulo Portas, Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal
Preâmbulo:
Temos apreciado a importância que tem dado às relações com os restantes países lusófonos, numa aparente reorientação estratégica de Portugal que o MIL sempre defendeu, dado o seu Horizonte ser, precisamente, o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço da lusofonia – no plano cultural, mas também social, económico e político.
Esta carta prende-se, tão-só, com a posição de Portugal relativamente à Galiza, a nosso ver uma dessas regiões integrantes do espaço lusófono – daí a nossa reiterada defesa da sua especificidade linguística e cultural. Com efeito, no Conselho de Ministros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, na sua XVI reunião, realizada em Luanda no passado dia 22 de Julho, soubemos que Portugal foi o único país a não apoiar a concessão da categoria de Observador Consultivo à Fundação Academia Galega da Língua Portuguesa, entidade que, como sabe, tem já um histórico muito apreciável, tendo sido por isso reconhecida para nossa Academia das Ciências, sendo ainda membro do Conselho das Academias de Língua Portuguesa.
Petição:
Ainda mais recentemente, também soubemos que o novo Governo Português tem expressado as suas dúvidas sobre a presença de observadores da Galiza no Instituto Internacional de Língua Portuguesa, assim como pela inclusão do seu Léxico no Vocabulário Ortográfico Comum que está a ser preparado por essa instituição, quando é sabido que uma Delegação de Observadores da Galiza participou nesse processo desde o princípio.
Face a isto, perguntamos apenas até que ponto houve uma inflexão da posição do Estado Português relativamente à Galiza, já que, desde que foi apresentada a candidatura da Fundação Academia Galega da Língua Portuguesa, Portugal sempre deu o seu apoio expresso a essa candidatura nos diversos órgãos da CPLP. Muito cordialmente
MIL: Movimento Internacional Lusófono www.movimentolusofono.org


  1. AICL REPUDIA EXCLUSÃO DA AGLP
    Na ilha de Santa Maria, em Vila do Porto entre 30 de setembro e 5 de outubro, o XVI Colóquio da Lusofonia aprovou uma declaração de repúdio pela atitude de PORTUGAL OLVIDANDO SÉCULOS DE HISTÓRIA COMUM DA LÍNGUA, AO EXCLUIR A GALIZA – REPRESENTADA PELA AGLP – DO SEIO DAS COMUNIDADES DE FALA LUSÓFONA.
    A GALIZA ESTEVE SEMPRE REPRESENTADA DESDE 1986 EM TODAS AS REUNIÕES RELATIVAS AO NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO E O SEU LÉXICO ESTÁ JÁ INTEGRADO EM VÁRIOS DICIONÁRIOS E CORRETORES ORTOGRÁFICOS.
    A SUA EXCLUSÃO À ÚLTIMA HORA DO SEIO DA CPLP REPRESENTA UM GRAVE ERRO HISTÓRICO, POLÍTICO E LINGUÍSTICO QUE URGE CORRIGIR URGENTEMENTE.
    A AICL entende que não faz sentido aceitar como observadores países sem afinidades diretas ou indiretas à Lusofonia, a Portugal e sua língua e deixar de fora a região onde nasceu a língua portuguesa há mais de dez séculos.
    É um crime de lesa língua de todos nós.
    A Língua que se fala na Galiza é uma variante do Português como a do Brasil, Angola, Moçambique e tantas outras, com a peculiaridade de ter sido o berço da mesma língua comum, e jamais houve exclusão por parte da CPLP das regiões lusofalantes do mundo.
    Trata-se de uma medida obviamente ditada por preconceitos políticos e contra a qual a AICL se manifesta veementemente não só apoiando a subscrição da Petição como encorajando todos os seus associados e participantes nas suas iniciativas a protestarem publicamente contra esta injustiça feita à língua portuguesa e à AGLP.
    Iremos manifestar o nosso desacordo de todas as formas possíveis e ao nosso alcance até ver reposta a equidade da proposta de admissão da Galiza através da AGLP no seio da CPLP.
    ass. Chrys Chrystello, Presidente da Direção da AICL
    VILA DO PORTO, 5 DE OUTUBRO 2011

Como republicano australiano resta-me repetir «God “Shave” the Queen» e esperar o mesmo desta CPLP que repudio e à qual não quero pertencer. Não serei só eu, mas somos poucos, insuficientemente poucos, capazes de se orgulharem das suas raízes ancestrais de língua e cultura. O dólar (ou outra qualquer divisa) fala sempre mais alto.

E enquanto me preocupava com este problema, capaz de acelerar o crescimento de cãs na minha fronte, cada vez mais desnuda de apêndices capilares, descobriu-se por todo o país que as bananas do hipermercado Lidl estavam embaladas com enormes doses de cocaína, o que provocou enorme frémito e genica na afamada Dona Firmina
Sinto-me cheia de energia hoje, cacete! Fui ao Lidl cedinho, trouxe bananas porque estava tudo a comprá-las e comi uma no caminho. Depois fui ao mercado, à peixaria e ao sapateiro e estou em casa agora. Vou fazer o almoço, aproveito e faço já o jantar, o almoço de amanhã e se calhar deixo já preparada uma marinada para o fim de semana. Enquanto as batatas cozem aproveito e tricoto uma camisolinha para o meu neto. E tenho ainda tanta coisa por arrumar, hoje vai tudo a eito. Lavar os tetos, arredar móveis e bater tapetes. Está um belo dia para atividades do lar. Vou comer mais umas bananas que são mesmo boas…

Quase em simultâneo o meu amigo José António Salcedo escrevia:
Pelos montes do Gerês ecoam as música pimba emanadas das capelas com instalações sonoras potentes, numa manifestação inadmissível de imbecilidade coletiva, embora as gentes locais possam imaginar que é abençoada pelos seus deuses. Como gosto de referir, “A delusion is a delusion”. Imagino que o volume do som seja ajustado tendo em conta a elevada distância que as superstições locais consideram existir entre cada capela e o ”céu” onde pretenderão ver os deuses a dançar. Por mim, imagino os deuses com rolhas enfiadas nos ouvidos e faço planos para o meu regresso à Noruega, onde o silêncio e a limpeza em Natureza são valores essenciais da sociedade, contrariamente ao que ocorre no Minho, onde nem uma coisa nem outra são apreciadas e, muito menos, mantidas.

Como concordo, citarei agora Zack Magiezi: “Causa mortis: traumatismo craniano. Fruto de mergulho profundo em pessoas rasas.”

Seria esta a mensagem lapidar para o povo deste país que apesar da educação se ter massificado continua generalizadamente ignorante, inculto e abúlico como já Eça de Queirós o definia há mais de cem anos:

Este Povo não presta
Acabava de entrar o ano de 1872. O Ano Novo interrogava o Ano Velho.
– Fale-me agora do Povo; pedia o ano novo.
– É um boi que em Portugal se julga um animal muito livre
porque não o montam na anca e o desgraçado não se lembra da canga; respondeu o Ano Velho.
– Mas esse Povo nunca se revolta?; insistia o Ano Novo espantado.
– O Povo às vezes tem-se revoltado por conta alheia. Mas por
conta própria, nunca; respondia o velho.
– Em resumo, qual é a sua opinião sobre Portugal?; numa
derradeira questão.
– Um país normalmente corrompido, em que aqueles mesmos que
sofrem não se indignam por sofrer.

Este diálogo deve-se a Eça de Queiroz. O mesmo que escreveu sobre o Portugal de então:
O povo paga e reza. Paga para ter ministros que não governam, deputados que não legislam (…) e padres que rezam contra ele. (…) Pagam tudo, pagam para tudo. E como recompensa dão-lhe uma farsa.

Estávamos, então, em 1872. Estamos a falar evidentemente do Povo português. Esta “raça abjeta” congenitamente incapaz de que falava Oliveira Martins. Este Povo cretinizado, obtuso, que se arrasta subjugado, sem lamúrias (a não ser à mesa do café enquanto vê o futebol pois a crise não lhe permite ter TV Sport), sem um lamento, sem um gesto de rebeldia, tão pouco de raiva (nem que seja surda) e muito menos de revolta. Um Povo que se deixa levar, indiferente e passivo, por políticos sem escrúpulos e mentirosos congenitamente compulsivos e por múmias silentes em estado adiantado de decomposição mental, rodeadas de pompa e circunstância e dezenas de servis conselheiros pagos a preço de outro para bajularem.

Afinal, a solução dos seus problemas poderia ser bem simples, a desobediência civil que deitaria abaixo esses castelos de cartas nas nuvens tal como Miguel de Vasconcelos caiu pela janela. Miguel fizera, o que é narrado na história do país (mas poucos conhecem) desde tempos imemoriais, em crise, alinha-te com o vencedor. Assim foi sempre, nas milhentas guerras com o reino de Castela, com a subjugação à douta inquisição e no silêncio cúmplice do salazarismo. Os pobres (de espírito) alinhavam sempre com os que pareciam ter o poder e assim os legitimavam. Sempre comeram e calaram, gratos pelas migalhas, ou moedas que os senhores feudais jogavam pelas seteiras do castelo quando a turba suplicava por tais migalhas para enganar a fome.

Este povo inventou a Padeira de Aljubarrota, a Maria da Fonte, a Velha da Ladeira (guerras liberais, aqui em São Miguel, nos Açores) e outras figuras lendárias para escamotear o facto de se tratar de uma populaça perenemente amodorrada e crassa, capaz de aceitar todos os sacrifícios. Basta atentar na lenda das tripas na defesa de Portucale. Povo de chapéu na mão, e espinha dobrada até a fronte beijar o chão que os senhores feudais, que sempre o espoliaram, pisam. E recuam gratos e venerandos pelas migalhas, bendizendo a generosidade dos seus donos.

Eu vivi nesse país, nesse “sítio” de que falava Eça, nessa “piolheira” a que El-Rei Dom Carlos se referia (Um país de bananas governado por sacanas), também eu fui governado por gente como o douto Conde de Abranhos
“Eu, que sou o governo, fraco mas hábil, dou aparentemente a soberania ao povo. Mas como a falta de educação o mantém na imbecilidade e o adormecimento da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito …” Ontem como hoje. O verdadeiro esplendor de Portugal.

É por estas e outras que eu e tu, meu caro José António Salcedo, seremos sempre parte intrínseca de uma elite pensante e culta, em total desacordo com quem vota os destinos do país e não adianta uma pessoa queixar-se.
Se os ateus – como eu – têm dores nas cruzes, não devemos dizer “a culpa é do tempo”. O tempo está bom, nós é que estamos mal…”
Ah! Esta eterna mania portuguesa de culpar sempre os outros.

Por outro lado, é verdade que não nos devemos autodiagnosticar com baixa autoestima ou depressão quando estamos rodeados por idiotas.
É como aquela alegoria de que toda a gente fala de amor mas poucos sabem amar…e é isso que nos falta hoje em dia, a capacidade de amar, a capacidade de acreditar (em nós apenas, que dos outros sabem eles).

Sabes, José António, isto das festas e da fé, é um assunto complicado e mesmo sem música pimba – atualmente indissociável das mesmas – é um tormento.

Quando cheguei aos Açores, há uma década, analisei assim o que aqui se passava em termos de festas religiosas (respigado de ChrónicAçores, uma circum-navegação, volume 2):

SENHOR SANTO CRISTO DOS MILAGRES E. D. HELDER DA CÂMARA.
6.1. O CULTO OCULTO
No primeiro ano que JC estava presente nas festas resolvera estudá-las. A festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres celebra-se no quinto domingo após a Páscoa (a Quinta Dominga). A história do culto alegadamente começa no Convento da Caloura em Água de Pau, uma das mais antigas freguesias da ilha. A documentação oficial cita a sua existência desde o século XVI. Diz-se que foi aqui, no lugar de Porto de Carneiros, que o infante D. Henrique mandou lançar o primeiro gado, aquando da colonização de S. Miguel.
Data do início do séc. XVI a fundação do Convento em Vale de Cabaços. Este foi, provavelmente, o primeiro Convento de religiosas na ilha. Um grupo de jovens decidira viver em clausura numa ermida junto à pequena baía da Caloura.
O Convento deveu-se à devoção das filhas de Jorge de Mota, de Vila Franca. A comunidade necessitava da Bula Apostólica para autorizar a constituição do convento e duas religiosas foram enviadas a Roma. Em 1521, D. Manuel I dera ao templo o hábito de Cristo, como galardão pelo comportamento no Oriente dos filhos da terra.
O mesmo monarca elevou-a à categoria de vila em 28 de Julho de 1515, com “meia legoa de termo em redor”.
O seu brasão de armas é um escudo bipartido, num lado as armas portuguesas e no outro a imagem de Nossa Senhora dos Anjos. Construído sobre rochedos à beira-mar, este pequeno convento de arquitetura simples, tem uma igreja anexa dedicada a Nossa Senhora das Dores. A fachada com duas torres sineiras tem um nicho com a imagem de Nossa Senhora da Conceição. O corpo da igreja é revestido por um raro conjunto de azulejos oitocentistas policromados, com um retábulo de talha dourada com curiosos anjos de bigode.
Em Novembro 1522, um grande sismo derrubou a igreja paroquial, que foi reconstruída três anos depois.

É pouco credível esta lenda que atesta que o Papa Paulo III (1534/1549) atribuiu a Bula e alegadamente lhes ofereceu a imagem do “Ecce Homo” para o novo mosteiro, a qual foi trazida pelas duas religiosas e colocada num nicho, em Vale de Cabaços, lugar ermo e exposto às incursões dos piratas.
Devem colocar-se interrogações quanto ao facto de duas religiosas irem dos Açores a Roma entre 1534/1549. Não devem ter ido à boleia num qualquer barco com desconto do “Cartão Jovem” e paragens em Albergues da Juventude ao longo da jornada. A viagem de Lisboa a Roma nesses dias era tarefa difícil e demorada, além de não ser fácil obter uma audiência papal, mas é assim que se constroem mitos e lendas. E, definitivamente, este veio para ficar e dificilmente se pode extirpar dos panfletos e dos livros que o perpetuam.

O Mosteiro de N. Sra. da Esperança foi o primeiro Convento de Freiras em Ponta Delgada. A sua construção foi iniciada em vida do fundador, o Capitão Donatário Rui Gonçalves da Câmara II.
Após o terramoto de 20 de Outubro de 1522, que arrasou Vila Franca do Campo, passou a residir em Ponta Delgada, que já era vila desde 1499. Sua mulher, D. Filipa Coutinho concluiu as obras em Outubro de 1535.
Petronilha da Mota, com uma amiga e irmãs menores, saíra de casa em 1522 e fora para a Caloura. Quase 10 anos depois foram para Vila Franca para o Convento de Sto André, entretanto acabado, enquanto outras religiosas foram para o Convento da Esperança em 1541, quando a freira galega Madre Maria Inês de Santa Iria levou para lá a imagem do Santo Cristo.
O Convento foi habitado por freiras até 1541, ano em que foram substituídas por uma comunidade religiosa masculina, devido ao constante ataque de piratas.
Por seu turno, o Mosteiro da Esperança foi construído em terrenos doados por Fernando Quental e sua mulher, Margarida de Matos.
Fora Cristóvão de Matos Quental quem mandara construir, em 1609, a ermida de N. Sra. da Ressurreição, conhecida por Senhora da Soledade. No lado poente, no início do séc. XVI, já havia uma ermida de N. Sra. da Conceição onde foi erguido o primeiro convento de franciscanos, como se lê na “Crónica da Província de S. João Evangelista”, de Frei Agostinho de Mont”Alverne. As obras começaram em 1709.
Com a extinção das ordens religiosas, em 1834 foi hospital da Santa Casa da Misericórdia. Em 1830 vieram as Visitandinas, a que se seguiu a Congregação de S. José de Cluny. Constituído o seu colégio, coube às Religiosas de Maria Imaculada ocuparem o Convento, em cuja recuperação trabalharam como operárias, ocupando o lugar das Clarissas, ali presentes de 1541 a 1894.
Em 1723, havia na Esperança 102 freiras e 57 noviças. Em 1821, eram 108 senhoras e em 1865, 72 senhoras. A última, Madre Abadessa Vicência Cabral, faleceu em Dezembro 1894. Já havia “recolhidas” que vestiam hábito e continuavam os usos conventuais, não obstante os reparos da imprensa periódica, presa aos decretos antimonásticos de Maio de 1832.
Em Abril de 1959, o Bispo de Angra declarou Santuário Diocesano a Igreja do Santo Cristo.

Outra personagem muito citada e estudada como exemplo da fé açoriana foi Madre Teresa da Anunciada nascida em 1658, em S. Pedro (Ribeira Grande). Entrou para o Convento da Esperança e iniciou o noviciado em 1681, tendo feito os votos solenes em 1683. Morreu, com fama de santidade, em Maio de 1738.
Quando Teresa chegou à idade de aprender a ler, veio do Brasil o irmão, Frei Simão do Rosário, para descansar e restabelecer-se das extenuantes missões pelo sertão. Ensinou a ler as irmãs e Teresa deliciava-se com a vida de santos. Quando entrou para o Mosteiro da Esperança, estava no coro baixo, num pequeno altar, uma imagem do Senhor, no passo do “Ecce Homo”, que tinha um registo a tapar a abertura do peito, pois outrora servira de sacrário. Teresa conseguiu um novo altar para a Imagem, mas o teto, formado pelo soalho do coro alto que era velho, tinha muitas frinchas. Conseguiu que fosse construída uma capela. A seu pedido, D. Pedro II, por alvará de 2 de Setembro de 1700, concedeu tença de doze mil réis, para manter acesa, dia e noite, uma lâmpada de azeite diante do altar. Nenhuma das capelas chegou aos nossos dias. Foi então que Madre Teresa desejou que a Imagem do Senhor saísse em procissão, passando por todas as igrejas e conventos da cidade.

O escritor micaelense Daniel de Sá (recentemente falecido) tem assinalado a incorreção da referência à procissão de 1700 com o duplo erro de a confundir com a primeira e acrescentar detalhes da procissão dos tremores (1713):
1698 – Naquela que é considerada a primeira procissão do Senhor Santo Cristo dos Milagres, embora a intenção fosse apenas a visita da imagem aos outros conventos de Ponta Delgada, as ruas foram atapetadas com flores de um modo espontâneo, tendo participado o clero, a nobreza e o povo. Persistem opiniões diferentes acerca do ano em que teria acontecido este cortejo. Seguindo Urbano de Mendonça Dias, a maioria aponta 1700 como aquele em que teria ocorrido. Outros, e conforme investigação de Luciano da Mota Vieira, aceitam 1698.
Sabemos que o cortejo foi a 11 de Abril.
Eis o que diz o biógrafo de Madre Teresa:
“Em último lugar ia o pálio com o Santo Lenho, a que acompanhava uma tão numerosa multidão de povo, que os oficiais deixaram o trabalho, os mercadores as lojas e os forasteiros as vilas e lugares circunvizinhos.”
Esta descrição anula a hipótese de que essa procissão se tivesse realizado num Domingo. 11 de Abril de 1700 foi um Domingo da Páscoa. Era impensável que os “oficiais ” estivessem no seu trabalho ou os mercadores com as lojas abertas.
Não deverá haver grandes dúvidas de que a procissão terá sido numa sexta-feira que Madre Teresa honrava sempre, dia da Paixão do Senhor. Foi o que aconteceu com o lançamento da primeira pedra e início da construção da segunda capela.
Frei José Clemente, diz a propósito da sua morte: “Era o dia de sexta-feira, dia dedicado ao Senhor e de tanta devoção para a venerável Madre, que sempre nele recebia de Deus algum favor especial…”
A sexta-feira, 11 de Abril, em que aconteceu aquilo que é considerado o milagre do pão, foi anterior à procissão, encontramos deste modo as datas de onze de Abril de 1682 como o dia do dito milagre, e a sexta-feira, onze de Abril de 1698, o da primeira procissão.

Os despojos mortais de Madre Teresa conservam-se numa pequena urna na Capela do Santo Cristo no Mosteiro da Esperança. Em finais do século XIX, o bispo de Angra mandou abrir a caixa. Removida a respetiva cobertura, logo se evolou um magnífico e inexplicável aroma.
O prelado da Diocese de Angra deu início ao processo jurídico sobre a Vida e Virtudes de Madre Teresa, tendo circulado um abaixo-assinado, dirigido ao Santo Padre:
“O povo dos Açores tem um grande amor e devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres…que ultrapassaram em muito as fronteiras da região…em todos os países da diáspora açoriana se celebram festas em honra do Senhor Santo Cristo e são muitos milhares os que, de todo o mundo, se deslocam todos os anos em peregrinação de súplica ou ação de graças.
Tudo começou com a Clarissa Madre Teresa da Anunciada que, no silêncio do convento, recebeu um apelo especial para honrar e desagravar o Senhor na Sua Flagelação representado na Imagem do Ecce Homo. A partir de 1700, o culto tomou tal grandeza que nunca mais esfriou. As graças e os milagres têm sido uma constante. Monja de vida austera é tida como modelo de santidade e considerada a grande intercessora junto do Senhor. Por isso, imploro a Vossa Santidade seja concedido o “nihil obstat” para a organização do Processo de Beatificação da Serva de Deus a fim de ser elevada à honra dos altares”.

Numa ilha de vulcões ativos e sismos frequentes, a devoção foi sempre o principal, se não único, refúgio do povo pelo culto do Divino Espírito Santo e do Santo Cristo dos Milagres.

Deslocam-se anualmente a Ponta Delgada milhares de peregrinos para pagar as suas promessas. As oferendas, acumuladas durante anos, constituem um tesouro de valor incalculável. O culto ao Senhor é a segunda maior procissão em Portugal. Na tarde de sábado, há pessoas de joelhos sobre as pedras da calçada, à volta da praça ou, então, carregadas de círios de cera, em agradecimento pelas graças.
No domingo, milhares de pessoas incorporam-se na procissão. A abrir, o pendão com a coroa de espinhos dourada, duas longas filas de homens com opas e grossos e pesados círios votivos, outros descalços, no cumprimento de promessas, interrompidos por grupos de filarmónicas. Seguem-se associações juvenis com pendões de cores garridas, crianças vestidas de anjos e alunos do seminário, precedendo a imagem sob um dossel de veludo e ouro, num trono de flores de seda e pano, tecidas no séc. XVIII.
Depoi,s vão os dignitários da Igreja Católica, representantes das congregações religiosas de S. Miguel. A fechar o cortejo, as autoridades militares e civis, representações e associações sociais e desportivas.

A procissão recolhe após cinco horas de circulação pelas ruas de Ponta Delgada. O corpo principal do tesouro é constituído por Resplendor, Coroa, Relicário, Cetro e as Cordas.

O Resplendor é a peça mais rica e foi considerada, num congresso em Valladolid, a mais valiosa do género em toda a Península Ibérica. Em platina cromada de ouro, pesa 4850 gramas e está incrustado de 6842 pedras preciosas (topázios, rubis, ametistas, safiras, etc.).
A Coroa é a mais delicada, 800 gramas de ouro, 1082 pedras preciosas. O Relicário é a mais enigmática, permanentemente colocada no peito da imagem, serve para guardar o Santo Lenho, que se crê ser uma farpa da cruz em que Jesus foi crucificado. O Cetro, a quarta peça, tem 2000 pérolas que formam uma maçaroca de cana, 993 pedras preciosas ao longo do tronco e no conjunto de brilhantes com renda de ouro na base, onde está a Cruz de Cristo. As Cordas, com 5 metros, constituem a quinta peça. Duas voltas de pérolas e pedras preciosas enroladas em fio de ouro.
Possuem valor incalculável. Os “registos” são a mais antiga forma de arte dedicada ao Senhor dos Milagres. As suas origens são incertas. Reza a história que a arte começou nos conventos, quando a Imagem estava na Caloura. Os primeiros cunhos alusivos à Imagem datam do séc. XVIII.
Datada de 1843, a primeira capa foi encomendada e oferecida ao Senhor Santo Cristo pelo coronel Nicolau Maria Raposo de Amaral, homem de fé e devoção. Ornamentado com belíssimas joias, a capa revela um pouco do tesouro do “Ecce Homo”. Pedras preciosas e diamantes encastrados no manto vermelho representam ofertas de crentes.
O culto ultrapassa os limites da nacionalidade e da geografia. Desde há trezentos anos, os fiéis têm oferecido joias de grande valor, como tributo por graças recebidas, por intenção de intervenções milagrosas ou pura devoção. Considerado como um dos mais valiosos, o tesouro do Senhor Santo Cristo não tem preço.

Nos primeiros meses de 2014 enorme controvérsia surgiu com a ida do Resplendor para Lisboa, para uma exposição ou para uma eventual reparação, com o clero local a opor-se ao bispo que decidiu sobre a ida. Posteriormente, veio a descobrir-se que faltavam sete pedras precisas, uma das quais foram substituídas por uma pedra falsa…

Também na diáspora, em Fall River, EUA, o culto está vivo na Imagem, que percorre as ruas das paróquias portuguesas, numa mensagem de dor e de paz. Um mar de gente com promessas.
No Canadá, as Festas do Senhor Santo Cristo são consideradas as maiores do género no país. Realizam-se em Toronto, na mesma data em que se celebram em Ponta Delgada. As festas são celebradas desde 1966, reunindo na igreja de Santa Maria milhares de fiéis, alguns vindos de terras distantes dos Estados Unidos, Canadá e Bermudas.

6.2. D. HÉLDER DA CÂMARA (1909-1999) E UM CERTO PADRE MÁRIO

A trajetória de vida do “arcebispo dos pobres”, não se afastou nunca da meta de elevar os pobres e miseráveis à categoria de cidadãos. Os anos do Concílio Vaticano II (1962-1965) iriam transformá-lo, do pouco conhecido arcebispo auxiliar do Rio de Janeiro, num dos personagens mais influentes na cena internacional da igreja contemporânea. JC expressa simpatia pela obra e pensamento daquele clérigo pois durante o Concílio, Dom Helder Câmara surpreendeu e movimentou cardeais e bispos de todo o mundo a favor da inserção da Igreja nos setores populares. Fez mais: propôs ao papa João XXIII entregar o Vaticano e as suas obras de arte à UNESCO, como património cultural da humanidade, enquanto o Papa passaria a morar, na qualidade de bispo de Roma, numa paróquia da capital italiana.

Noções radicais mas deveras justas, segundo a conceção de equidade que norteava JC desde o Liceu. Ali fora altamente influenciado pelo célebre Padre Mário.
O então professor de Religião e Moral, preso pela polícia política (PIDE), escrevera vários livros contestatários da linha oficial do Vaticano. Não fazia sabatinas como o velho Padre Brochado do outro liceu.
De 1965 a 1967, fora seu professor no 6º e 7º ano do Liceu. Mário de Oliveira tornou-se no famoso padre de Macieira da Lixa (Felgueiras). Fora enviado como Capelão Militar para a Guiné em Novembro de 1967. Ali esteve, cinco meses apenas, até Março 1968, acabando por ser expulso de capelão militar por pregar o direito dos povos colonizados à autonomia e independência. No Liceu falava de temas que os jovens compreendiam e lhes interessavam. Estava sempre muita gente à porta do seu quarto num anexo do (atual) Hospital Infantil de Maria Pia a falar com ele. As aulas eram partilhadas com o despertar duma consciência cívica e política que mais tarde marcaria a vida de JC. Ainda hoje lhe chamam o Padre vermelho pela suas pregações contra a fabricação do mito de Fátima e o materialismo da Igreja.

Dom Helder da Câmara sonhava com uma Igreja menos imperial e mais parecida com a comunidade dos pescadores da Galileia. Dentre milhentas citações esta tocava-o: “O verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos, e que os pobres devem atribuir a sua pobreza à vontade de Deus.”

Isto para JC simbolizava bem aquilo que gostaria de ter visto nas Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres mas não vira. As suas expetativas eram elevadas. Lera que a fé e o catolicismo da ilha não tinham paralelo nem em Portugal nem noutros continentes. Deparara-se com mais uma manifestação daquilo que mais abominava na igreja de Roma.

Fizera uma curta pausa, tentando encontrar, como sempre fazia, uma explanação histórica ou racionalização para o que observara. Esta é a terra que sempre aceitou a escravatura, a inquisição e mais recentemente se deitou na cama do alegado fascismo «soft» português do século XX e continua a virar a cabeça quando se fala da praga da pedofilia…

Sabia que era o momento alto das festividades religiosas. Da ilha. Do arquipélago. O tempo nublado ameaçava a fúria dos elementos, os mesmos que lhe deram origem. Iria presenciar o que diziam não ter paralelo noutras paragens. Apesar da chuva, milhares de pessoas concentravam-se nas ruas circundantes ao Convento da Esperança. Agradeciam as suas esperanças. Cumpriam promessas, lenços na cabeça em devoção. Joelhos desnudos na calçada. Transportavam pesados círios. Um ou vários de uma só vez, consoante os auspícios. Havia em tudo e todos, um misto de catolicismo e paganismo. Era notório que a população sentia arreigada a tradição centenária, transpirava-a pelos poros calejados do trabalho escravo. À mente porém afloravam imagens distintas: as flagelações islâmicas sunitas no Iraque.

Gente de joelhos esfolados às voltas na calçada, em troca de promessas feitas a uma divindade. Podia ser católica, apostólica e romana. Não parecia. Não era fé, era paganismo primitivo. Sabia que estava a ser politicamente incorreto. Aquelas cenas incomodavam. Não a tradição em si, que grande parte deve ser preservada.
Era desumano e degradante para a condição humana. Só faltava ver os fanáticos da Opus Dei, de silício em punho, vergastando a carne por ser fraca e ter cedido a tentações. Careciam as imagens dum oráculo, vaticínio miraculoso. Poderia acontecer outro milagre. Faltava o impacto mediático de uma nova Joana d’Arc a ser queimada na pira, para arrebatar a multidão bramando aos céus por tal revelação. Que nestas coisas de fé nunca fiando.

Depois da transmissão de um programa televisivo “Atlântida,” onde JC falou do sucesso do último Colóquio da Lusofonia, foi a vez da imagem ricamente ornada dar a volta à praça. Quedou-se depois à porta da Igreja aguardando que a procissão de crentes a pudesse observar. Ou idolatrar? Durante horas as pessoas desfilaram, em silêncio, perante a rica efígie. Esta homenagem e a riqueza do ícone eram contrárias aos ensinamentos de Jesus que desprezava as riquezas materiais. Todos o alertavam para a necessidade de ver ali a mensagem do Santo Cristo. Dizem que o “verdadeiro rosto do Deus vivo e verdadeiro, revelado por Jesus, é o Amor que se faz próximo, que partilha a dor e se faz gratuito e solidário”.

Lamentavelmente, nada disso conseguira ver. Assistira à autoflagelação de crentes, arrastando-se na calçada em cumprimento de promessas. Seria um resquício da Idade Média em pleno século XXI? Contaram-lhe que muita gente compra fatos e vestidos novos, para usar na procissão. Soava a exibicionismo pequeno-burguês. Apanágio de meios pequenos como Ponta Delgada, da própria ilha e mesmo do arquipélago. Era quase como quando se compra fatiota nova para um casamento, batizado ou comunhão solene. Tudo menos devoto do que lhe queriam fazer crer. Se a fé é assim tão grande para quê fatiotas novas? Estavam ali para manifestarem a fé ou para mostrarem o sucesso das preces transformado em bens materiais? Pena não poderem mostrar os carros topos de gama para todos invejarem. Tiveram de os estacionar longe que a multidão se comprimia a mostrar a sua fé. Para que todos os vissem e à sua fé. Quão crentes eram!

O dinheiro das joias, duas mil pérolas, 993 pedras preciosas e brilhantes com renda de ouro na base…podia amenizar ou aliviar mais o sofrimento dos pobres e carenciados. Enfim eram esses os valores não propugnados pela Santa Igreja. Todos em silêncio à espera do Senhor Santo Cristo dos Milagres, como esperam o Espírito Santo ou o Divino se é que não Nossa Senhora de Fátima. Provavelmente ainda no inconsciente, à espera de umas sacas de roupa oferecidas pela América, agora em versão de subsídio de Bruxelas.
Eram a mesmíssima população que faz manifestações e abaixo-assinados a favor de alegados criminosos, pedófilos, violadores de crianças. Gente que tudo calava em silêncio. Talvez isso explique o atraso, a falta de progresso civilizacional e cultural de que ninguém ousa falar nas ilhas. Basta a aparência de riqueza e de progresso. Mais umas tantas obras a inaugurar e umas estatísticas para enganar. Possivelmente cada povo terá o que merece. Ou podem estas tradições encerrar algo de mais sinistro do que numa primeira abordagem nos é dado observar?

Quando nos confrontamos com a preservação de tradições centenárias podemos deparar-nos com situações antagónicas como esta. A extrema religiosidade açoriana assenta nas mesmas premissas que tantas outras de que enferma a sociedade portuguesa em geral. A religião é ainda hoje o ópio do povo.
Já António de Oliveira Salazar dizia algo parecido com “quanto mais ignorantes mais felizes”. Assim é, de facto. Se nada se contestar pode-se obter uma aparência de felicidade, de fé e até de religiosidade. A tradição é, afinal, quem mais ordena, seja ou não, a preservação da sujeição à superstição e à escravatura. Exige-se, simultaneamente que seja aceite pelo obscurantista e opressor como parte do sistema que lhe permite toldar a verdade e, desse modo, perpetuar a opressão.
As pessoas que nada mais conhecem além dos cantos da sua ilha, ou freguesia, sentem-se aflitas em relação ao mundo. Nunca sabem o porquê dos acontecimentos. Sejam eles geológicos ou sociais. Nem sequer são esclarecidas quanto aos seus direitos e deveres.
As criaturas ignorantes dificilmente têm a capacidade de mudar a sua situação e começarem a ser agentes ativos na transformação da sociedade. Ficam inteiramente passivas. Por seu turno, os que possuem saber, agem em suas vidas de modo mais eficaz, têm uma maior capacidade de mudar a sua realidade e transformar o meio em que vivem.
É verdade que os mais eruditos sempre almejam mais, mas não são mais ou menos felizes por isso. Os mais inteligentes sabem que cada conhecimento é único e deve ser usado ao máximo, tal como cada ocorrência da sua vida. Possuem mais esperança de mudança e uma autoestima muito mais elevada.
Sendo assim, a ignorância não é um Dom, mas sim algo que deve ser revertido por quem a possuir.

Embora autores clássicos tenham pesquisado e escrito sobre religião, a análise às festas populares, não é considerada prioritária. Dada a escassez de recursos de investigação disponíveis, há outros temas julgados mais urgentes. Religiosidade e festas populares parecem, para muitos, um tema de menor importância.
Para o povo anónimo e anódino, religião e festas, são temas enaltecidos na vida diária, como se pode constatar no quotidiano popular. Nos locais mais remotos de Portugal e em especial aqui nas ilhas, religião e festas constituem assunto capital na vida de muitas pessoas.
A rotina diária é interrompida muitas vezes ao longo do ano, pela organização ou participação em diversas festas, que assinalam a quebra periódica da monotonia da rotina. Para os que as organizam, as festas não representam momentos de lazer, mas de trabalho, intenso e prazenteiro no seu preparo e na sua realização.
Dizem que esta celebração pagã associada ao culto dos solstícios serviu durante séculos para a propagação da espécie. Durante todo um ano se faziam sacrifícios para juntar, amealhar o suficiente para caiar as casas, comprar vestimentas novas e dar saída às frustrações acumuladas durante um ano de árdua labuta e desenfreada exploração do trabalho braçal. Dizem também que as jovens moças casadoiras se abonecavam todas para encontrar um marido. Era a época do ano em que os namoros eram tolerados e havia tempo suficiente para essas divagações. Depois, acertava-se a data do casório e esperava-se novo ano para que este se realizasse com pompa e circunstância no decurso das festas.

A relação estreita entre religião e festas foi aludida por Durkheim (As Formas elementares da Vida Religiosa. S. Paulo: ed. Paulinas, 1989), para quem (1989: 372), “nos dias de festa, a vida religiosa atinge grau de excecional intensidade”. As festas teriam surgido da necessidade de separar o tempo em dias sagrados e profanos (1989: 373).
Referindo-se ao descanso religioso, lembra Durkheim (1989: 372/273) que “o caráter distintivo dos dias de festa corresponde, em todas as religiões conhecidas, à pausa no trabalho, suspensão da vida pública e privada à medida que estas não apresentam objetivo religioso”.
Para este autor, as festas surgiram pela necessidade de separar no tempo, “dias ou períodos determinados dos quais todas as ocupações profanas sejam eliminadas” (id. 373). Adiante afirma: “O que constitui essencialmente o culto é o ciclo das festas que voltam regularmente em épocas determinadas”.(id. 419).
A repetição do ciclo das festas constitui, para Durkheim, elemento essencial do culto religioso. O mesmo autor também salienta a importância dos elementos recreativos e estéticos para a religião, comparando-os a representações dramáticas e mostrando (1989: 453), que “às vezes é difícil assinalar com precisão as fronteiras entre rito religioso e divertimento público”.
Este autor estabelece portanto, “relações íntimas entre religião e festas, entre recreação e estética, mostrando o parentesco entre o estado religioso e a efervescência, o delírio, os excessos ou exageros das festas.”

Enquanto a Igreja for quase só isto continuará JC a não ser cristão. Fora educado como tal, na catequese e no liceu. Educação Cristã. Católica. Apostólica Romana. Por opção própria, desistira. Ninguém o obrigara a continuá-la, no ápice em que concluíra que a religião institucional se sustém no obscurantismo e no seguidismo acrítico. Retirara algumas lições muito positivas dessa experiência. Nomeadamente, valores [cristãos] que retivera. A compaixão e o respeito pelo próximo.
Na noção de igualdade, ia mais longe, sem discriminar entre sexos, ao contrário da Bíblia. Se lhe fora fácil descrer do cristianismo, isso se devera à gritante discrepância entre a teoria e a prática do mundo cristão. Cristo era um pacifista e, provavelmente, um “comunista”. A maioria dos seus seguidores não. Não sendo JC um fiel, não tinha grandes problemas em discordar e afastar-se de algumas dessas ideias. Não era pessoa para dar a outra face facilmente, quando confrontado pela desonestidade, injustiça, corrupção, e tantas outras maleitas sociais ou de caráter com que se defrontara já. Quando agredido, sentia-se no direito de se defender. Ripostando, se fosse o caso, ou usando outros meios mais vantajosos.

Como escrevera (2008) o seu ex-professor de Religião e Moral, o célebre padre proscrito Mário de Oliveira http://padremariodalixa.planetaclix.pt):
“De Jesus, o de Nazaré, sim, a Igreja Católica afastou-se quase cem por cento. Também se afastou quase cem por cento de Cristo, mas apenas daquele Cristo Crucificado pelo Império e pelo Templo, que era, afinal, o próprio Jesus de Nazaré, pelo menos, no desassombrado testemunhar das suas discípulas e dos seus discípulos, que não hesitaram em colar para sempre esse título messiânico, libertador, ao seu nome histórico. Jesus, como testemunha o Evangelho, resistiu até ao sangue contra o Império e as suas seduções. A Igreja, ao contrário, acabou por cair nos braços do Império e disse sim a todas as suas seduções. Felizmente, sempre houve, através dos tempos, Igreja que resistiu até ao sangue contra o Império, concretamente a Igreja dos mártires assassinados e de muitos outros mártires incruentos, alguns deles, martirizados como “hereges” pela perseguição assassina da própria Igreja oficial, amancebada com o Império e que, numa postura de manifesta traição, aceitou transformar-se de via ou caminho de libertação para a liberdade, que inicialmente era, em religião, e, depois, pior ainda, em religião oficial do Império. Foi uma Igreja em estado de completa traição ao Evangelho, que acabou a identificar Jesus, o Crucificado pelo Império, com o Cristo divinizado pelo Império. É por isso que o que hoje chamamos Cristianismo é sobretudo Paganismo, melhor, Cristianismo paganizado. Quase não tem nada a ver com Jesus, o de Nazaré, que o Templo e o Império mataram, depois de o prenderem e julgado sumariamente. É neste ponto que estamos hoje.”

A religião contribuía para este debate interior de JC, com mais temas interessantes nalgumas páginas de jornais portugueses, fortalecendo o seu ateísmo. Era notícia pelos pecados dos seus padres a arquidiocese de Braga, esse baluarte do catolicismo mais jurássico, notabilizado infamemente pela fé “explosiva” (de bombas) do cónego Eduardo Melo (falecido em 2008). JC acreditava piamente na máxima de “Uma diocese que não comprova a virtude dos seus clérigos não convence os paroquianos da bondade do seu Deus.” Segundo o “Correio da Manhã” e o jornal regional “Terras do Homem” havia “sacerdotes afastados do múnus”.

http://www.terrasdohomem.com/visualizar.php?id=3121&Cid=15&Sid=0
“O Pe. Nuno Melo, de 29 anos, gosta de carros de luxo, jantaradas e diversões noturnas. A gula, a vaidade e a luxúria são três pecados capitais que qualquer confissão bem feita aliviaria mas o dinheiro esportulado pelos paroquianos não é dívida que se possa remir com padres-nossos e ave-marias. O promissor apóstolo está num retiro em Santo Tirso, enquanto «as dívidas já começaram a ser pagas, por intermédio do arcipreste de Amares”. Aqueles pecados explicam o afastamento ‘compulsivo’ do pároco das freguesias de Caires, Portela e Torre, do Arciprestado de Amares. “Como padre, era excelente”. Todos parecem concordar: “era jovem, sozinho e tinha alguns desequilíbrios.” 2006/05/23

Inadmissível porém é que não houvesse retiros para pessoas como o ex-Presidente George W. Bush, que no seu longo reinado a todo o momento se socorrera de valores cristãos para sustentar a suposta “superioridade moral” perante “O Eixo do Mal” e se afastava grosseiramente de uma das sentenças mais paradigmáticas do cristianismo. Não se recordava de ter lido que Cristo tivesse incitado os seus discípulos a matarem os que O não seguissem.

No longínquo dia 15 de Maio de 1252, o Papa Inocêncio IV editou a bula “Ad Extirpanda”, que criou o primeiro Tribunal da Santa Inquisição (em Portugal 1536). A partir desse momento passou a ser autorizado o uso da tortura para se conseguirem declarações, verdadeiras ou falsas. Mais tarde, George W. Bush invocando outros poderes iria repetir a autorização de tortura. Tudo em nome da luta contra o terrorismo. Em nome da paz universal.

Prevendo que leitores, familiares e amigos se sintam incomodados por estes escritos, em especial o presente capítulo, JC pedia a mesma tolerância que tinha para com eles: aceitação e compreensão. Nem todos são iguais nem acreditam nas mesmas coisas. Viva o direito à diferença! Como se poderá depreender, depois das transgressões adolescentes, que para aqui não são chamadas nem ouvidas, JC sentia uma qualquer espécie de contrição. Assim, debruça-se sobre um tema espiritual e religioso, normalmente arredado de suas preocupações quotidianas. Estas foram as suas primeiras Festas do Santo Cristo. Provavelmente as últimas.

Nunca concordara com as riquezas imensas do Vaticano e com os bens acumulados pela Igreja ao longo dos séculos. Só muito levemente se falou neste aspeto na queda do Banco Ambrosiano. Em 1982, personalidades do Vaticano foram envolvidas no escândalo da falência fraudulenta daquele banco. As relações do Vaticano com o Estado italiano pioraram em 1987, quando a Justiça da Itália ordenou a prisão do cardeal Paul Marcinkus, secretário de Estado do Vaticano e diretor do Instituto de Obras Religiosas (IOR), instituição financeira envolvida no escândalo. Lá como cá, nos termos da concordata, a Itália não tem jurisdição sobre o Vaticano e o Supremo Tribunal italiano absolveu o cardeal.

(continua)

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