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Decorria o ano de 1958.
No dia 8 de dezembro, à noite, os alunos do Seminário Menor de Ponta Delgada (1º e 2º anos), então instalado no Edifício do Colégio dos Jesuítas, desceram a Rua do Colégio em direção à Igreja Matriz para cantar as vésperas em honra de Nossa Senhora da Conceição.
O templo, lindamente engalanada e iluminado, estava repleto de fiéis. Parecia que a ilha tinha desembarcado toda ali para saudar a padroeira dos comerciantes e ver as montras primorosamente decoradas com produtos para a quadra.
Retenho dessa cerimónia litúrgica, o ar simpático e dinâmico do pároco, Pe Artur Botelho de Paiva e a exemplar piedade do Pe Rebelo, figura carismática muito respeitada pelos alunos do liceu.
Esta quarta-feira, ao entrar na Matriz de São Sebastião, encontrei, durante a celebração eucarística, uma igreja escura e quase deserta. A chuva e o vento impediram, certamente, muitos fiéis de irem à novena da Festa, mas verdadeira razão está na dessacralização e na descristianização que imperam na sociedade secularizada, apesar do ainda elevado número de batizados.
Só passaram cerca de quatro décadas, mas são visíveis as transformações de uma sociedade aparentemente católica, que mantém algumas tradições religiosas em momentos chave da vida.
Há ainda uma forte implantação do fenómeno religioso, mais no mundo rural que na vivência urbana.
Até há bem poucos anos, recorria-se ao nome dos santos, dos oragos ou padroeiros para dar o nome aos filhos. Com essa designação pretendia-se colocar os bebés sob a proteção do santo ou santa da preferência dos pais e padrinhos.
Nossa Senhora foi sempre a mais preferida, tivesse a invocação que tivesse. Uma das mais comuns era Conceição, embora exista uma diversidade de invocações, como as que integram a Ladaínha.
Cada localidade tinha o/a seu/sua padroeiro/a.
Em São Miguel, das 65 paróquias, 34 têm Nossa Senhora como padroeira com invocações por vezes repetidas noutras localidades.
É o caso de Nossa Senhora da Conceição. É padroeira da paróquia dos Mosteiros, da Lomba da Fazenda, Nordeste e da Conceição da Ribeira Grande.
O mesmo acontece com a invocação de Nossa Senhora do Rosário: é padroeira da Achadinha, Nordeste, da Lomba da Maia e do Rosário da Lagoa.
Senhora dos Anjos é padroeira da Fajã de Baixo e da Vila de Água de Pau.
Nossa Senhora da Ajuda, padroeira da Ajuda da Bretanha e da Covoada.
Sob a invocação de Nossa Senhora da Graça estão as paróquias do Faial da Terra, Povoação e Porto Formoso, Ribeira Grande.
Nossa Senhora da Luz é padroeira das paróquias da Pedreira, Nordeste e Fenais da Luz e a Senhora dos Remédios das Paróquias dos Remédios, Capelas e Remédios – Lomba do Louçã, Povoação.
As restantes paróquias micaelenses têm invocações muito diferentes:
Nossa Senhora da Penha de França (Água Retorta),
Nossa Senhora da Anunciação (Achada,Nordeste),
Nossa Senhora do Amparo, Algarvia,
Nossa Senhora dos Milagres, Milagres, Arrifes,
Nossa Senhora da Saúde, paróquia da Saúde, Arrifes,
Nossa Senhora das Necessidades, Atalhada, Lagoa,
Nossa Senhora da Misericórdia, Cabouco, Lagoa,
Nossa Senhora das Candeias, Candelária, Ponta Delgada,
Nossa Senhora da Oliveira, Fajã de Cima,
Nossa Senhora de Fátima, Lagedo, Ponta Delgada,
Nossa Senhora do Livramento, Livramento, Ponta Delgada,
Nossa Senhora da Estrela, Matriz da Ribeira Grande,
Nossa Senhora Mãe de Deus, Povoação,
Nossa Senhora da Apresentação, Capelas,
Nossa senhora dos Prazeres, Pico da Pedra,
Nossa Senhora do Pilar, Pilar da Bretanha,
Nossa Senhora da Piedade, Ponta Garça,
Nossa Senhora das Neves, Relva.
Não deixa de ser curioso que existem várias invocações de Nossa Senhora relacionadas com a quadra natalícia: Anunciação, Conceição, Mãe de Deus, Livramento, Luz, Estrela, Candeias e Apresentação que se podem associar à invocação de outros padroeiros: Santos Reis Magos (Fenais da Ajuda e São Nicolau (Sete Cidades).
Na Ilha Terceira a paróquia da Terra Chã tem por patrono Nossa Senhora de Belém, o que revela a compreensão dos fiéis pelo Mistério da Encarnação, a importância da vinda do Messias, bem como o papel desempenhado por Maria, ao aceitar ser a Mãe de Jesus-Salvador.
Recorde-se o papel dos Frades Franciscanos na propagação da devoção à Imaculada Conceição, que a tinham como padroeira dos templos anexos aos conventos.
Nas 165 paróquias açorianas existem templos com a invocação da Imaculada Conceição.
Na Ilha Terceira a paróquia da Conceição de Angra é também santuário Diocesano e há mais seis paróquias com invocações marianas.
Na ilha de São Jorge, há 3 , no Pico há 5, na Graciosa 2 e em Santa Maria 3.
No Faial, a paróquia da Conceição, Horta, celebra também a festa da sua padroeira em 8 de dezembro e há mais 6 paróquias com invocações marianas.
Nas Flores, na Vila de Santa Cruz das Flores, Nossa Senhora da Conceição é Padroeira,(1) e outras cinco paróquias têm invocações da Virgem.
No Corvo, a vila celebra no verão a Senhora dos Milagres, cuja invocação na Serreta, Ilha Terceira, transformou a respetiva paroquial em Santuário Diocesano.
As diversas invocações à Virgem padroeira de 68 paróquias açorianas permitem-nos afirmar que, religiosamente falando, Ela é, com toda a propriedade, a Senhora das Ilhas.
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