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A segunda vaga
À hora em que escrevemos este editorial desconhecemos se já terão sido anunciadas novas medidas, mais restritivas, nos Açores, relativamente ao aumento preocupante do número de casos positivos de covid-19.
Em Portugal já se percebeu que a pandemia está descontrolada e que houve muito relaxamento por parte da população, mas também muito desleixo por parte das autoridades de saúde, que já sabiam que a segunda vaga vinha aí e, segundo avisaram os especialistas, ia ser pior do que a primeira.
A impreparação das nossas autoridades foi de tal ordem que até o Primeiro-Ministro, António Costa, disse esta semana que a segunda vaga tinha chegado mais cedo do que se esperava!…
Fica por saber se a ingenuidade é genuína ou é para enterrar a cabeça na areia, como é padrão deste governo.
Nos Açores seguimos exactamente a cartilha, sem preparação para o que aí vinha, com uma Secretaria da Saúde desaparecida do combate, que nem tão pouco conseguiu pôr em marcha o número de vacinas suficiente para a gripe.
Relaxou-se nas medidas, quisemos ser originais no ajuntamento de multidões para o futebol, mas aconselharam-se as criancinhas a não cumprirem a tradição do Pão por Deus, permitiu-se a realização de competições internacionais em Trail Run, mas aconselharam-se restrições nas idas aos cemitérios, mandam-se encerrar salas de espectáculos, mas permite-se a abertura de bares e restaurantes, enfim, critérios pouco credíveis e demonstrativos de alguma desorientação.
A jusante, outra grande falta de preparação na criação de condições para os profissionais de saúde nos postos de recolha de testes, sem que, nestes meses todos, depois do Verão, se substituíssem as tendas sem condições para enfrentar o inverno; as linhas telefónicas das Unidades de Saúde congestionadas; a falta de testagens; doentes que ainda aguardam contacto para remarcar consultas; doentes que já morreram a serem contactados para consultas; número de óbitos desde Março acima da média dos últimos anos; umas escolas fecham e outras não; autarcas a queixarem-se de que a Autoridade de Saúde não atende os seus telefonemas; falta de comunicação com os Delegados de Saúde, e por aí fora.
É preciso, urgentemente, mudar a estrutura da Autoridade de Saúde, torná-la independente e instalá-la com profissionais de saúde e cientistas das áreas da saúde pública, infecciologistas e intensivistas.
Como muito bem alertou o nosso colaborador, Dr. Mário Freitas, “a evolução de casos nos Açores assume um padrão preocupante: triplicou o número de casos, desde início de Agosto, e duplicou desde o início de Outubro. Em particular, nas últimas 2 semanas a curva de evolução epidemiológica é estranhamente acentuada!”.
A esta estranheza junte-se a ausência de medidas, o que é ainda mais preocupante.
Como bem avisa o médico especialista em saúde pública: “É importante perceber que o padrão de evolução epidemiológica desta doença é claro: o crescimento rápido e exponencial exige, para redução de número de casos, medidas duras, durante um período longo! Verifique-se o que está a acontecer agora em Portugal continental…”.
Muito trabalho vai ter o próximo governo.
(
Osvaldo Cabral
– Diário dos Açores de 15/11/2020) — with
Osvaldo José Vieira Cabral
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