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1 May at 07:57
“Mosteiro dos Jerónimos: desabou tudo com estampido idêntico ao do trovão subterrâneo [com a impunidade do costume!]
Parte do antigo mosteiro arruinado ameaçava desabar: havia anos que tinha resolvido reedificá-lo. Era um corredor comprido e estreito que nos tempos primitivos deveria ter servido de passeio reservado aos frades. (…).
A direcção dos trabalhos foi conferida a um pintor cenógrafo do Teatro de S. Carlos, o sr. Cinati, sem dúvida homem de talento, mas que, inexperiente no género de trabalhos que era chamado a superintender; traçou um plano fantástico e deficiente e imaginou levantar na base desse organismo decrépito uma enorme torre quadrada, pesada, maciça, ornamentada de decorações incorrectas e absolutamente deslocadas (vd 2a foto) (…).
No dia 18 de Dezembro de 1878, (…) , desabou tudo com um estampido idêntico ao do trovão subterrâneo, soterrando e matando (…) nove ou dez operários. Se o sinistro tivesse ocorrido [a outra hora] o número de vítimas ascenderia a cem ou cento e cinquenta.
Acto contínuo propalou-se o boato de que ia proceder-se a um inquérito. A notícia fez sorrir maliciosamente os que sabiam avaliá-la e conheciam a índole do país. Se algum crédulo teve a ingenuidade de acreditar que desse inquérito resultaria a punição dos culpados, ou mesmo a simples demonstração pública da sua incompetência responderei certificando que não houve inquérito nem solução de espécie alguma.
N.B. Em 1882 propunha-se a construção de uma nova torre de 60 metros de alto, projecto que não prosseguiu; em 1891-92 dirigia as obras de restauro o arquitecto Domingos Parente, depois Raimundo Valadas e finalmente Rosendo Carvalheira. Foi este arquitecto que fez concluir um corpo central mais modesto, mas mesmo assim desproporcionado, o qual em 1940 foi reduzido de altura nos pináculos (vd 3a foto) pela Direcção Geral de Edifícios e Monumentos (arquitecto Baltazar Castro). [Araújo 1944].”
Fonte: Lisboa de Antigamente

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