a paz zen do eduardo bettencourt pinto

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1. a paz zen do eduardo bettencourt pinto (lomba da maia, out.º 2011)

 

não esqueço as tuas palavras

o tom suave da tua fala

lavrador de verbos

com medo de ferir as terras

arando sentenças

como se fossem seres vivos

de bem contigo e com o mundo

pacifista de vocábulo fácil

nem na imagética és agressivo

entras a medo

como quem pede desculpa

e sais fotografando

sorrateiro para não incomodar o ar

que respiras sem sofreguidão

 

tens o sofrimento e a dor

na alma em sulcos profundos

reclusos da poesia

que ainda não escreveste

prisioneiros invisíveis

carregas a dor de muitos mundos

oculta em véus diáfanos

falas mansamente para não ofender

lentas palavras na construção do mundo

não acalentas raivas ocultas

dialogas com as tuas fotos

condescendes com os humanos

partilhas a felicidade de estar e de ser

únicas certezas que transportas

mas também sorris

como a criança que não foste

como o adolescente que não pudeste ser

como o jovem adulto que te obrigaram a viver

convertes mágoas em alegrias

partos difíceis e resignados

alquimias de amarguras

das aves sabes o voo tangencial

das plantas o ciclo vital

das ondas que são o teu leito

avistas as estrelas que te alimentam

 

a poesia é questão de minorias

só os privilegiados leem

menos ainda a entendem

dizem que escrevê-la é fácil

mas difícil é o que fazes

vives a poesia no teu dia-a-dia

a ti, irmão da palavra

obrigado por acreditares

em ti, como em Gedeão

o sonho comanda a vida

já o disse antes

e repito aqui

para que o saibas

 

(ah! como eu gostava

de ser poeta

como tu

viver outras vidas

utopias).

 

Comentários

Um comentário a “a paz zen do eduardo bettencourt pinto”

  1. Avatar de CHRYS Chrystello
    CHRYS Chrystello

    Amei o poema! O melhor retrato poético que já li.