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Joel Neto
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ENTRETANTO, NOS AÇORES…
É uma ironia retorcida e triste que, no mesmo dia em que o país mais poderoso do mundo depõe epicamente o populista mais inspirador do planeta, os Açores vejam indigitado um governo com o apoio decisivo da extrema-direita.
Evidentemente, este arquipélago, liderado há 24 anos pelo mesmo partido, precisava desesperadamente de alternância. De mudança! Mas não desta.
Movem-na os milhões da bazuca europeia, que ninguém quis ver nas mãos dos socialistas. Mas os custos serão muito maiores do que os proventos.
José Manuel Bolieiro, um homem decente (e um bom autarca) que o partido conseguiu convencer a vender a alma ao diabo, vai ser traído as vezes que forem necessárias até cair – por vontade de um dos parceiros da engenhoca (de dentro ou de fora da coligação) ou até por sua própria vontade.
O único amigo que o PSD tem nesta equação – se o tem – é o PPM, com um deputado e meio. O CDS (3,5) é inimigo visceral. A Iniciativa Liberal (1), não só tem uma agenda de afirmação própria, mas é representada por um canhão à solta.
E o Chega (2), se não fosse tudo o mais que é – populista, demagogo, racista, incivilizado, desprovido de empatia, membro de uma família política europeia medieval e tudo o resto que já se sabe que é mas ainda lhe falta mostrar em toda a respectiva extensão –, fê-lo comprometer-se a reduzir os apoios sociais.
Reduzir os apoios sociais são um ideal que urge aos Açores cultivar, de modo que, antes disso, se possa criar economia, educação e ética de trabalho suficientes para mais pessoas poderem viver sem eles. Reduzi-los agora, sem um novo modelo de desenvolvimento estrutural, é não só sociopatia, mas suicídio político.
Que o Chega não se importa nada de praticar a sociopatia, está mais do que provado. Que o PSD/Açores queira cometer suicídio no seu primeiro mandato após 24 anos na oposição, já é difícil de acreditar.
Mais fácil será crer, pois, que a promessa não passe de uma mentira.
E, em qualquer dos casos, não há maneira de o projecto resultar. Ou se aplicam as medidas acordadas a cinco e a derrota em 2024 será colossal; ou não se aplicam e será só um pouco mais pequena.
É o pior cenário para os Açores e é também o pior cenário para Bolieiro, que a uma semana das eleições dizia em entrevista que, quanto a acordos com o Chega, nem pensar. Para melhor lado não poderia dormir André Ventura: daqui a quatro anos, ele será o único dos cinco a crescer no Parlamento.
Porque será sempre ele. Nunca nenhuma das marionetas que usar nas ilhas, recolhidas pelas esquinas (como estas) ou escolhidas com algum critério.
Talvez então percebamos a dimensão da trapalhada que acabámos de fazer. Mas não haverá muito tempo para pensar nela: já teremos pela frente desafios muito maiores.
Helena Castro Ferreira
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Opinião de Joel Neto: