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O grande problema é dentro dos Açores
Exportação de meloa de Santa Maria para os EUA está a ser um sucesso
É uma história de sucesso a exportação de meloa de Santa Maria para os EUA, que começou este ano. Por incrível que pareça, o grande problema é a sua distribuição internamente, na nossa Região, devido ao problema crónico dos transportes, que piorou nestes últimos anos devido ao fim da linha amarela da Atlânticoline. O Diário dos Açores foi ouvir o Presidente da Agro- mariensecoop – Cooperativa de Produtores Agro Pecuários da Ilha de Santa Maria, CRL.
Como é que foi a produção de meloa este ano?
A campanha de meloa no presente ano foi influenciada muito negativamente pelas condições climatéricas adversas quer da Primavera, muito chuvosa e fria, o que provocou atraso na preparação dos terrenos e consequentemente na época de plantação, e também pelo mês de Julho anormalmente frio e chuvoso, que teve como consequência uma diminuição da floração, menos fruto e fruto inicialmente de menor calibre que o normal.
Posteriormente, e já no presente mês de Setembro, as chuvas das últimas 2 semanas, em dias consecutivos tiveram também uma influência muito negativa, estragando muita fruta e diminuindo drasticamente a sua qualidade e durabilidade no pós colheita, pelo que se pode dizer que não foi um dos melhores anos da produção, sendo que, mesmo assim, derivado ao nosso controlo de qualidade interno, ainda foi possível comercializar mais de 90 toneladas de meloa e garantir a qualidade mínima, em termos de açúcares e aromas que os consumidores tão bem apreciam.
Este foi o primeiro ano em que exportaram para os EUA. Como é que foi? Que quantidades? Que repercussões tiveram?
A exportação para os EUA tem vindo a ser preparada nos últimos 2 a 3 anos, sendo este um processo difícil do ponto de vista burocrático e em termos de exigência de qualidade que os EUA sempre colocam à entrada de produtos agroalimentares de outros países.
Esta exportação teve carácter experimental, no sentido de se limar todas
as arestas que eventualmente fossem colocadas.
Este processo só foi possível por termos encontrado um parceiro nos EUA que se empenhou e quis muito ter a nossa meloa e que foi quem desbloqueou alguns constrangimentos que se nos colocavam, tendo assegurado todo o processo logístico, nomeadamente dos transportes, e burocrático.
Felizmente o processo teve muito sucesso, tendo a meloa sido toda vendida e uma grande procura, superior às quantidades que foi possível enviar, e que foram de cerca de uma tonelada em duas fases.
A principal repercussão prende-se com a notoriedade que o processo dá à meloa, à sua qualidade, tendo em conta as exigências conhecidas que os EUA sempre colocam a estes processos, e o ficar a porta aberta, para, no próximo ano de aprofundar esta parceria e aumentar as quantidades exportadas para aquele país.
Como se procedeu nos transportes até lá? Foi complicado?
Não foi tão complicado como inicialmente se previa.
Atendendo que Santa Maria possui uma gateway para Lisboa, foi possível colocar a meloa naquele aeroporto através da Azores Airlines e, posteriormente, através de um voo da Delta colocar a mesma em Boston.
O problema é o tempo que isso demora, sendo que desde a saída de Santa Maria até à chegada a Boston levou cerca de 4 dias, o que mesmo assim é muito bom, quando comparado com o tempo de expedição para Lisboa que é superior a isso.
O outro fator que terá de ser limado é o custo do transporte, que é de facto elevado e não há alternativa ao avião.
E sobre os transportes, temos os adequados internamente para expandir a meloa por todas as ilhas e para o exterior?
Esse tem sido o calcanhar de Aquiles de quem, numa ilha como Santa Maria, tenta expedir ou exportar produtos do agroalimentar e, logo, perecíveis.
Não é um problema novo, nem recente, mas nos últimos 3, 4 anos piorou significativamente, devido ao fim da linha amarela da Atlânticoline.
Atendendo ao facto da meloa ser muito perecível, tínhamos um acordo com aquela empresa para colocar a meloa no Grupo Central, o que passou a ser efectuado por avião, com um custo dez vezes superior e limitado à dis- ponibilidade de carga.
Pontualmente era ainda expedida meloa para Ponta Delgada, nos navios da Atlânticoline, para posteriormente ser enviada para Lisboa, o que também deixou de ser possível.
Actualmente a logística dos transportes de mercadorias, para a expedição de meloa, são as mesmas que eram há 20 anos ou mais, sendo que Santa Maria tem vindo a aumentar as suas “exportações” quer de meloa quer de carne.
O facto do navio porta contentores só escalar a ilha de 15 em 15 dias, é incompatível com a produção de meloa.
A empresa Parece Machado, Lda., tem sido um bom parceiro, fazendo o que pode, mas apresenta também limitações pelo tipo de embarcação que dispõe, que leva apenas 1 contentor de frio, estando algumas vezes cheio com outra mercadoria.
Já o temos defendido, um “upgrade” ao tipo de embarcação da empresa Parece Lda., com maior capacidade e mais flexivel, viria resolver muitas destas situações referidas.
Acresce que muitas vezes é extremamente difícil encontrar contentores de frio disponíveis, o que é inadmissível. Todo o processo logístico para escoamento de produtos da ilha, com destino ao mercado continental leva no mínimo entre 6 a 7 dias, o que para produtos perecíveis é um problema e
impede o crescimento das produções. Não obstante, com alguma criatividade temos conseguido chegar aos mercados e aos consumidores.
O que falta para internacionalizar mais a meloa de Santa Maria?
Muita coisa, a principal já foi referida na questão anterior, mas também não há produção suficiente para aumentar as exportações e falta mão-de-obra para trabalhos na agricultura, muito em particular na meloa, que requer algum saber.
Estamos no entanto a trabalhar para aprofundar o mercado dos EUA e, eventualmente, entrar também no Canadá. Mas mais do que a quantidade, preocupa-nos a qualidade e a valorização do produto, sendo certo que, sem perder aqueles, se pretende também aumentar a produção.
O futuro dirá se conseguimos.
Para terminar, dizer apenas que estamos a chegar à meloa um milhão, desde que a mesma foi certificada como IGP, o que por si só não é importante, mas se disser que em termos de receita bruta, de verbas que essa meloa fez entrar na ilha, já ultrapassou o valor do apoio público (Comunitário e Regional) que a construção do Centro Logístico Agro Alimentar da Agro-mariensecoop teve, aquando da sua implementação, é para nós gratificante e estimula a trabalhar mais e melhor pelas nossas produções.
(Diário dos Açores de 25.09.2022)
Kathleen Rita and 21 others