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Espero e desejo que na próxima edição da Eurovisão, Portugal apresente uma canção em língua mirandesa. Creio que a canção ” Molinera ” interpretada por Luís Represas do Trovante está em língua mirandesa. Espero não estar errado.
1 – Afinal o que é o Mirandês
A língua mirandesa é o nome oficial que recebe o asturo-leonês em território português, e possui status de língua oficial em Portugal desde 1999.
Não existem dados que permitam quantificar com precisão o número atual de utilizadores desta lingua, pelo que os números apontados variam entre 7.000 a 10.000 utilizadores distribuídos principalmente por uma área de 550 km², conhecida como Terras de Miranda e formada pelo concelho de Miranda do Douro e freguesias de Angueira e Vilar Seco, no concelho de Vimioso.
A inclusão de Caçarelhos (atualmente denominada por Caçarelhos e Angueira) na área deste domínio linguístico mirandês é no entanto também defendida por diversos autorese historiadores tais como Amadeu Ferreira por exemplo.
O mirandês tem três subdialetos (central ou normal, setentrional ou raiano, meridional ou sendinês) e possui um dicionário, gramática e ortografia próprios, os seus utilizadores são em maior parte bilíngues, trilíngues ou até mesmo quadrilíngues falando muitos deles o mirandês, o português. o castelhano, e alguns deles também o galego.
As associações como a SIL International outorgam um código próprio a esta língua, enquanto que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por seu lado enquadra-a no contexto do asturo-leonês.
Os textos recolhidos em mirandês mostram a envolvência de traços fonéticos, sintáticos ou vocabulares das diferentes línguas, mas o português é mais reconhecido pelos mirandeses, porque é considerado uma língua culta, fidalga, por isso importante.
2 – Situação actual:
A língua mirandesa, tal como já foi referida anteriormente, é falada por, sensivelmente, 7 000 a 10 000 pessoas no extremo nordeste de Portugal, sendo desde 1999 considerada como segunda língua oficial do país.
A preservação da língua mirandesa deve-se sobretudo à geografia e ao isolamento das designadas Terras de Miranda onde os rios e as cordilheiras acabam por ser factores cruciais para a criação de uma “fronteira linguística”.
No caso das Terras de Miranda, o rio Sabor teve uma influência, que convém realçar por isolar a área da influência da língua portuguesa, no entanto outro factor para a preservação desta língua acaba por ser também a proximidade e a acessibilidade a Espanha, pois esta região tem uma grande vertente comercial destinada aos espanhóis que outrora faziam parte do Reino de Leão, ou seja, muitos deles ainda falam o asturiano, língua de origem do mirandês.
Na práctica o mirandês chegou aos nossos dias quase intacto, devido quer a esta acessibilidade e ao contacto constante a uma Espanha que fala, essencialmente, o asturiano quer a um isolamento das populações locais face ao português.
Há muitos anos que o mirandês não era falado no coração da comarca de Miranda do Douro, mas, nos últimos anos, a deslocação das pessoas das aldeias para a cidade trouxe o mirandês de volta, porque nas aldeias rurais era onde se conservava mais o mirandês, e este êxodo rural acabou por trazer a língua mirandesa novamente à cidade.
A língua mirandesa está numa situação de diglossia, isto é, quando duas línguas coexistem mas uma prevalece sobre a outra, nesta caso com a prevalência do português, mas a disseminação do mirandês por razões extralinguisticas mas sobretudo de afirmação cultural, tem conquistado cada vez mais os habitantes das Terras de Miranda.
A atitude dos falantes em relação à sua língua autóctone também leva a uma relação de diglossia, como exemplo, tem-se “Lição de Mirandês: You falo como bós i bós nun falais como you” de Manuela Barros Ferreira (do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa) em que é evidente a desvalorização da língua mirandesa face ao português.
Segundo diversos estudos os habitantes desta região não falam o mirandês quando estão em situações formais, como por exemplo, na relação professor-aluno onde de uma forma geral, é a língua portuguesa que prevalece. Há também alguns complexos com a língua, reservando-a a contextos mais familiares, do quotidiano ou mesmo contextos de extrema intimidade, e todos estes fatores levam a língua a uma situação de diglossia.
3 – Medidas de defesa
O mirandês é ameaçado atualmente pelo desenvolvimento, a vida moderna, a televisão, e as pressões do português e do castelhano.
Em sua defesa, foram tomadas as seguintes medidas:
. ensino em mirandês, como opção, nas escolas do ensino básico do concelho de Miranda do Douro, desde 1986/1987, por autorização ministerial de 9 de setembro de 1985.
. publicação de livros sobre e em mirandês, pela Câmara Municipal de Miranda do Douro.
. realização anual de um festival da canção e de um concurso literário, pela Câmara Municipal em mirandês.
. uso do mirandês em festas e celebrações da cidade e, ocasionalmente, nos meios de comunicação social.
. publicação de dois volumes da série de banda desenhada Astérix.
. tradução de todas as placas toponímicas da cidade de Miranda do Douro, efetuada em 2006 pela Câmara Municipal.
. criação de uma Wikipédia em mirandês, a Biquipédia.
. disponibilização de sites de computador em mirandês, entre eles Photoblog e WordPress em mirandês.
Fontes:
«Mirandese». Ethnologue
«Linguagens Fronteiriças: Mirandês». Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.
Wikipédia – A lingua mirandesa
Ferreira, Manuela Barros – Lições de Mirandês
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