A língua dos mapas ao contrário

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Revisito com frequência a obra de José Saramago, pelo gosto de o (re)descobrir, como se regressasse à casa primordial, sempre familiar e, ao mesmo tempo, sempre renovada e acolhedora. Uso excertos das suas obras nas minhas aulas, para mostrar os diferentes níveis de compreensão e análise que um texto pode conter: de cada vez que retiramos uma casca, há outra por baixo, sempre mais tenra e suculenta, de sabor mais delicado. E para mim os livros de Saramago têm intermináveis camadas. Ainda esta semana, usei um excerto de A Jangada de Pedra, com o objetivo de demonstrar que, para obter uma cabal compreensão de um texto, não basta conhecer bem a língua escrita e dominar a estrutura do texto, mas é também imprescindível que a informação que ele nos traz possa dialogar com o nosso conhecimento prévio do mundo e encontrar repercussão. É por isso que pessoas mais cultas gostam mais de ler e é também por isso que os textos de Saramago merecem sempre ser revisitados.

Source: A língua dos mapas ao contrário