A IMPORTÂNCIA DA MULHER

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O artigo que saiu na sexta-feira no Tribuna das Ilhas foi dedicado ao dia de hoje, o Dia da Mulher (foi escrito há uma semana, pelo que entretanto já tiveram lugar os acontecimentos descritos na nota final).
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|| Sr. Diretor Regional, sabe porque é que a mulher tem valor? Porque existe. ||
Na próxima terça-feira celebra-se o Dia Internacional da Mulher. No dia 11 de fevereiro celebrou-se o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Tive o prazer de participar, a convite do Observatório do Mar dos Açores (OMA), na Conversa Entre Mulheres da Ciência, a partir da qual se produziram um conjunto de episódios que estão a ser divulgados nas redes sociais do OMA e da Fábrica da Baleia.
De entre os temas da conversa estiveram as questões de carreira da mulher cientista, o célebre teto de vidro das instituições (há mais mulheres na ciência do que homens, mas apenas 23% ocupam lugares de influência – dados de 2019 para o universo EUA e Europa). As questões da maternidade, os machismos e micromachismos no ambiente de trabalho, o que as mulheres podem trazer para a ciência e para as instituições científicas e a importância do conhecimento científico para a emancipação das mulheres.
Tivemos a honra de contar com a participação de uma investigadora jubilada, a Dra. Helen Martins, que nos pôde comprovar, na primeira pessoa, que de facto, muita coisa mudou desde que ela era a única mulher na sua turma de uma universidade norueguesa, nos anos 50. No entanto, foi unânime a percepção de que ainda há muito caminho por percorrer, muitos direitos que ainda não passaram do papel para a realidade e, sobretudo, ultrapassar questões socio-culturais utilitaristas que ainda colocam a mulher num papel de subalternidade.
Nesse seguimento trago aqui o (péssimo) exemplo dado, nem mais nem menos do que pelo nosso atual Diretor Regional da Cultura (o que agrava o cenário) há cerca de um mês atrás (a 5 de fevereiro), no “Correio dos Açores” e no “Diário Insular” e que tem por título: “O prodígio feminino: da realidade à cultura do reconhecimento”.
Deixo aqui algumas pérolas exemplificativas: “As mulheres detêm (…), no âmago do seu ser, aparentemente frágil” (mas quem é que acha que as mulheres têm uma aparência frágil?). Ou quando diz que as mulheres são “ontologicamente “belas”: princesas, rainhas e imperatrizes; incontornáveis, imbatíveis e insuperáveis” (mas de que servem às mulheres estes exageros, se as mulheres só querem ter acesso a direitos iguais e nem isso lhes dão?). Depois ainda diz que “com feminina probabilidade, aquele rol de virtudes ter-se-á desenvolvido na “ausência do homem”” (porque estando o homem presente daria ele conta do recado, coisa que, só por acaso, nunca aconteceu na História da humanidade?), e por aí continua…
O que é mais extraordinário nesse texto é que ele tenta dar valor à mulher, mas falha redondamente na sua proposta pois está todo ele assente na ideia de um reconhecimento por parte do homem (e quem mais pode reconhecer alguma coisa à mulher se não o homem, não é verdade?) da utilidade que a mulher tem (e sempre teve) para ele.
Sr. Diretor Regional, a mulher não tem valor por ser útil, bela, imperatriz, princesa, boa, mãe, irmã, namorada, esposa, filha, neta, colega, chefe ou empregada de um homem, como o senhor afirma. A mulher não tem valor por ter dedicado séculos a tratar de vacas ou da casa ou por continuar a acumular às tarefas do trabalho, as de casa, como o senhor alega. Fique sabendo que a mulher tem valor porque existe. Ponto final. Mesmo que seja considerada feia, preguiçosa, chata como o raio e não tenha utilidade para homem algum.
E é este princípio, tão simples, que ainda não foi assimilado pela nossa cultura e que está na base da desigualdade de género que tanto tem prejudicado as mulheres.
Nota: Este texto foi escrito antes da publicação da nota sobre a exoneração do Doutor Ricardo Tavares do cargo de Diretor Regional da Cultura.
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