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A ILEGÍTIMA GUERRA CONTRA A UCRÂNIA
1. Participei, ontem, com centenas de pessoas, numa vigília de solidariedade para com o povo ucraniano, organizada pela AIPA – Associação dos Imigrantes nos Açores e pelo Núcleo Regional da Amnistia Internacional, e que ocorreu nas Portas da Cidade, com o apoio institucional da Câmara Municipal de Ponta Delgada e do seu Presidente. Figuras públicas e cidadãos anónimos juntaram-se para expressarem solidariedade para um povo que sofre com uma guerra ilegítima, para pedirem o regresso da paz, mas também para protestarem pela violação do Direito Internacional Público, que assegura a soberania de cada Estado e pelo facto das organizações humanitárias de ajuda às vítimas da guerra não poderem realizar a sua acção humanitária. A guerra contra a Ucrânia merece um forte repúdio por aquilo que ela representa: um ataque a um Estado soberano e um ataque à democracia e à liberdade.
2. Os acontecimentos relacionados com a guerra contra a Ucrânia ocorrem a uma velocidade vertiginosa, com os países ocidentais a reagirem de um modo inesperado, mas muito eficaz. Para além de um conjunto de sanções económicas aplicadas à Rússia, que se estenderam ao sistema Swift (sistema de compensações no mercado interbancário), a União Europeia, os EUA e o Canadá decidiram congelar as reservas financeiras russas depositadas em bancos ocidentais, numa decisão muito rara, mas de enorme alcance económico e financeiro. Com este bloqueio, a Rússia está impedida de recorrer aos seus fundos em moedas internacionais – dólares e euros, especialmente – para financiar o seu esforço de guerra e manter a cotação do rublo, que está em queda nos mercados internacionais. Para além disso, a União Europeia, de modo rápido, disponibilizou recursos financeiros para a Ucrânia poder comprar armamento e financiar o esforço de guerra, num acto inédito.
Se Moscovo esperava uma reacção moderada dos países ocidentais, as vigorosas sanções económicas aplicadas e a pronta condenação desta invasão, demonstraram o erro de cálculo russo.
3. A invasão da Ucrânia é uma significativa etapa da evolução do pensamento político e estratégico de Putin e impõe uma mudança no paradigma do conceito de segurança na Europa, obrigando também os EUA a reverem o seu posicionamento face à segurança no continente europeu. Entre 2021 e 2022, a distância entre as forças militares russas e as da NATO diminuiu centenas de quilómetros, sempre por iniciativa de russa. Se, do ponto de vista meramente militar, a guerra contra a Ucrânia é um conflito regional – para utilizarmos uma tipologia clássica – a natureza do invasor e a sua dimensão (militar, a começar pelo facto de dispor de um arsenal nuclear, económica, territorial e populacional) coloca-a num plano diferente: uma resposta militar directa de um país ocidental, membro da NATO, geraria um conflito mundial que todos os protagonistas quererão evitar. A dúvida permanece: quais são os objectivos últimos de Vladimir Putin? Qual a extensão da invasão militar? A retórica oficial de Moscovo indica que pretende a capitulação do poder político em Kiev e a “desmilitarização” e “desnazificação” da Ucrânia.
As negociações diplomáticas são a única via para uma solução deste conflito, embora devamos recordar as palavras imortais de Tucídides: “os mais fortes fazem o que podem, enquanto aos mais fracos fazem o que devem”.
(Publicado a 2 de Março de 2022, no Açoriano Oriental)
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