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A Galiza é uma naçom
A Galiza é uma naçom no noroeste da Península Ibérica.Aqui houve povoamentos
desde as épocas pré-históricas (3 000 a.C.). Segundo o grego Estrabão (c. 63 a.C. – 24
d.C.) os habitantes deste extremo da península chamavam-se Kallakoi (Calaico). Os
Romanos integraram esta parcela no seu Império já em finais do século I a.C.,
passando a designar-se Gallaecia durante o reinado do Imperador Diocleciano no
século III. Os Kallakoi não devem ser confundidos com os Galos da antiga Gália
1. Os pré-celtas e os celtas da Galiza
O estudo e o ensino deste tema são algo muito complexo, devido sobretudo à opinião
persistente, tão divulgada como errónea, de que esta região fora a mais celtizada da
península Ibérica. Os arqueólogos, historiadores e investigadores de todas as épocas
(os eruditos sérios, face aos achados arqueológicos e com a ajuda dos escritos de
gregos e romanos contam como pode ter sido e em que consistiu a chegada de certos
grupos célticos a esta região. Estes estudiosos da história foram directamente às
poucas fontes que podem manejar, sem se conformarem com traduções anteriores,
muitas vezes mal interpretadas e que puderam ver as numerosas pegadas deixadas
pelos celtas, ao longo e ao largo da Galiza, como os castros.
Parece que alguns grupos (do povo celta que chegara até ao sul península Ibérica), não
se deram bem nestas terras e iniciaram outra viagem migratória, em fases distintas
etapas já tardias, para o norte, através de terras lusitanas. Nesta situação de
emigrantes celtas desde o sul, pelo oeste, rumo ao norte, não chegam a estabelecer-se
na região galaica até ao século I a.C. É o grupo conhecido como sefes, que se move por
volta do século III a.C. quando alguns se situam entre o rio Tejo e o rio Douro e outros,
seguem para a Galicia.
Ao mesmo tempo que isto ocorria, produzia-se nas costas galaicas o desembarque de
gentes nórdicas procedentes da Bretanha. A arqueologia acredita nisto através dos
achados de Punta Neixón na ria de Arousa na Província de Pontevedra.
Os celtas sefes encontraram estas terras bastante povoadas. Estrabão assegura que
havia umas 50 tribos de povos diferentes, enquanto Plínio diz que eram mais de 65. O
professor (historiador, arqueólogo e escritor) Florentino López Cuevillas na sua obra A
civilización céltica na Galiza, depois de expor um estudo exaustivo sobre o aspeto
político e geográfico, assegura que todas estas tribos, na maior parte, não eram celtas.
A lista de tribos pré-célticas é bastante extensa:
– Estrimios (relacionados com os Lígures (e comuns a países bretões, ingleses e
irlandeses), que permaneceram até à chegada dos romanos),
– Albianos, seurros, tiburos, bibalos, caporos, zoelas, nobiagoi, abii, tirii, veasmini,
salassi, rilenii, helenii, grovii, etc., todos estabelecidos desde a Idade de Bronze, antes
de 600 a.C.
Esta é a base da população pré-céltica, que é a mesma que a normanda, inglesa e
irlandesa. Destes povoadores procedem as semelhanças étnicas entre estes povos e
não chegada dos celtas. As analogias entre galegos e irlandeses atuais não provêm
dum parentesco céltico, mas duma comunidade étnica anterior que remonta a 2.000
anos atrás.
As tribos celtas dos sefes recém-chegadas sobrepuseram-se a estas mais antigas e
adaptaram-se bastante bem, crê-se que pelo seu caráter afim indo-europeu. Foram os
celtas os que se acomodaram e a sua influência foi, na maioria dos casos, tardia e
esporádica, segundo se pode saber pela confirmação do estudo da arquitetura e a
metalurgia. A dita povoação autóctone mais antiga conservou a sua destacada
personalidade linguística e cultural e também soube intercambiar aspetos culturais
com a civilização céltica. Houve um verdadeiro intercâmbio de costumes e de
conhecimentos.
2. Romanos, suevos e visigodos
Os romanos entraram no ano 137 a.C. encontrando séria resistência, mas acabariam
por conquistar a região que denominariam Gallaecia.
Os suevos, 30.000 pessoas que só tinham 8.000 homens com capacidade para lutar,
concentram-se entre o Douro e o Minho, na zona de influência de Braga. Chegaram no
ano de 409, nomeando rei a Hermérico (409-438), que celebra um pacto ou foedus
com Roma no ano de 410 pelo qual os suevos estabelecem o seu reino na província
romana de Gallaecia e aceitam o imperador de Roma como o seu superior. Depois da
morte de Hermérico reina Requila (438-448), a quem sucederá Requiário (448-456).
Este último adotará o catolicismo no ano de 449. No ano de 456 tem lugar a batalha de
Órbigo, que oporá visigodos e suevos, com a derrota destes últimos e que terá como
consequência o assassinato de Requiário.
Depois da derrota frente aos visigodos, o reino suevo dividir-se-á e governarão
simultaneamente Frantão e Aguiulfo, desde 456 até 457, ano em que Maldrás (457-
459) reunificará o reino para acabar sendo assassinado depois duma conspiração
romano-visigoda que finalmente fracassará. Apesar de a conspiração não ter alcançado
os seus verdadeiros propósitos, o reino suevo viu-se novamente dividido entre dois
reis: Frumário (459-463) e Remismundo (filho de Maldrás) (459-469) que reunificaria
novamente o reino do seu pai no ano 463 e que se veria obrigado a adotar o
arrianismo no ano de 465 devido à influência visigoda.
Após a morte de Remismundo entra-se numa época escura, que durará até ao ano de
550, durante a qual desaparecem praticamente todos os textos escritos. O pouco que
se sabe desta época é que mui provavelmente Teodemundo governou a Suévia.
A época obscura terminará com o reinado de Karriarico (550-559) que se converterá
novamente ao catolicismo no 550. Suceder-lhe-á Teodomiro (559-570) (não se
confunda com Teodomiro, rei dos visigodos) durante o reinado do qual terá lugar o Iº
Concílio de Braga (561). Miro (570-583) será o seu sucessor. Durante o seu reinado
celebrou-se o IIº Concilio de Braga (572). Aproximadamente no ano de 577 inicia-se a
guerra civil visigoda na que intervirá Miro que no ano 583 organizará uma expedição
de conquista a Sevilla a qual fracassará. Durante o regresso desta expedição o rei
morre. No reino suevo começam a produzir-se muitas lutas internas. Éborico (também
chamado Eurico) (583-584) é destronado por Andeca (584-585) que falha a sua
intenção de evitar a invasão visigoda dirigida por Leovigildo que se tornará efetiva
finalmente no ano de 585, convertendo assim o rico e fértil reino suevo em mais uma
região do reino godo.
3. Reino independente
Afonso I das Astúrias (739 – 757) foi o primeiro príncipe que começou a expansão do
Reino Cristão. Desta forma a integração do Reino da Galiza no Reino das Astúrias
ocorre entre o seu reinado e o de Ramiro I que a estende até Tui (854).
Em 813, Afonso II o Casto, rei das Astúrias e Galiza, é informado pelo bispo Teodomiro
de Iria Flávia da aparição duma luz sobre uma antiga capela. O rei chega a Santiago de
Compostela e manda edificar uma igreja. Começa a lenda do Caminho de Santiago e
Santiago de Compostela converte-se num centro de peregrinação da Cristandade.
No ano de 910 Ordonho II converte-se em rei da Galiza (ver também Reino da Galiza)
No ano de 997 Almansor inicia uma expedição de saques em terras cristãs e chega até
Santiago de Compostela
No ano de 1035 Fernando I O Magno herdou o reino de Castela do seu pai Sancho III O
Maior, rei de Navarra, e no 1037 a sua esposa Sancha herdou os reinos de Leão e
Galiza do seu irmão Bermudo III. (ver também Reino de Leão). À sua morte em 1065
repartiu as suas possessões entre os seus 3 filhos: entregou Castela ao seu filho
Sancho, Leão a Afonso e Galiza a Garcia. Mas em 1072 Afonso VI de Leão matou
Sancho II de Castela e aprisionou por toda a vida Garcia de Galiza governando assim
sobre os reinos dos seus irmãos até à sua morte em 1109
O Reino da Galiza surgiu após a retirada muçulmana da zona que pouco antes ocupara
o reino dos suevos. Em muitos momentos da sua história viu-se unido ao Reino das
Astúrias e/ou ao Reino de Castela sendo nalguns casos difícil diferenciá-los.
Oficialmente manteve-se como reino até 1833 ano em que foi dividido em quatro
províncias e desaparecendo assim dos mapas.
3. Outra visão da Galiza e de Portugal por Alexandre Banhos (2009)
PODEMOS OS GALEGOS RECLAMAR O NOME DE GALEGO PARA A LÍNGUA COMUM?
Comunicação no IX Colóquio da Lusofonia, Bragança 2009, Alexandre Banhos Campo
Galiza e o seu projeto ibérico
Nos feitos históricos há sempre um fator de oportunidade e outro em não pequena
medida de azar. Mas nos fatos históricos há uma lei de ferro, -o que não se produzir no
momento em que as circunstâncias são ou eram favoráveis ou propícias, nesse
momento no que as ondas da história sobem a favor, já não há de se fazer. É dizer, que
aquilo que não se faz no seu momento, muito difícil será alguma vez voltá-lo a fazer;
ademais passado o momento mudam sempre as circunstâncias e estas som muito
difíceis de reconstruir, e já nunca serão as mesmas.
A Galiza foi de sempre um poderoso elemento da história europeia, o principal ator
político peninsular, foi o primeiro reino independente constituído dentro do império
romano no ano 411, foi muito pronto um dos grandes impérios da cristandade, junto
ao império Bizantino e ao sacro-império Romano-Germânico, foi quem guiou e liderou
a luta da “reconquista” frente a Espanha.
Os galegos da velha Galiza Árta bra e Astúrica do norte do Cordal, os que nunca foram
subjugados pelos muçulmanos, tinham-se pelos primeiros entre todos os peninsulares
e não se abaixavam ante ninguém; a Galiza o território peninsular mais densamente
povoado, inçado de linhagens nobres com os seus castelos e com capacidade para
terem as suas forças de homens de lança (exércitos privados nobres de entre 100 e
1000 lanças) que se tinham a sim próprios como iguais ao rei, eram o ator mais
poderoso no jogo peninsular. As numerosas forças galegas eram o fator mais temível
da península ibérica e já desde muito cedo senhores muçulmanos acabaram pagando
tributo e aceitando o seu domínio.
Os reis da Galiza não eram simples reis, muito cedo usufruíram o nome de
imperadores e para quem é tão grande a própria Galiza originária resultava pequena, e
assim todos os dias estavam a alargar os seus domínios para o leste e para o sul e com
eles avançava o domínio da cruz frente ao da meia-lua. E nas cabeças dos reis da Galiza
desde cedo estava o coroarem-se com a península ibérica toda como projeto
“nacional” galego.
A capital histórica da Galiza sempre foi Braga (por algo segue a ser a cidade primaz de
Portugal), e pelos séculos VII e VIII eram os de Braga os galegos por antonomásia. Ao
princípio do avanço muçulmano a cabeça da Galiza é trasladada desde Braga, a capital
da Galiza desde que a Galiza existir como entidade política, para a cidade ártabra de
Lugo, e os bispos de Lugo passam a ser cabeça da Galiza por delegação da vero caput
Braga.
O quadro político no que se insere o nascimento do reino de Afonso Henriques.
Desde muito cedo o separatismo castelão, é dizer do convento oriental da província
romana da Gallaecia de Diocleciano, Clunia, é algo que informa a política do reino da
Galiza.
Os castelãos não aceitam muito pacificamente a dominação ocidental, a galega; e os
castelãos com Sancho III rei de Navarra, chamado pelos historiadores castelhanoespanhóis
Sancho I rei de Castela -o primeiro com esse nome, quem a médio de uma
simples boda com a herdeira do Condado de Castela separou o território, o qual falanos
do fraco controlo que o arredismo castelão impusera ao controlo galaico.
Os castelãos com ele sentiram por primeira vez um seu desenvolvimento longe do
controlo galaico. A geopolítica que os colocou no espaço central peninsular ajudou de
seguida, não pouco, ao seu sucesso.
À sua morte – de Sancho III – o seu filho Fernando herda o reino de Castela, porém o
azar e a fortuna farão que venha a ter a posse tamém do reino da Galiza –do império-
(Galiza-Leão). A inércia e superior domínio cultural galaico fazerem há não pouco, para
trazer de novo o centro cultural para o ocidente.
Fernando I segue a sua morte a doutrina do seu pai e reparte territórios e posses aos
seus cinco filhos, três reinos aos filhos: Sancho mais velho Castela; Afonso Leão. E
Garcia, o mais novo, à Galiza do aquém dos Montes de Leão. Para as suas duas filhas:
Urraca e Elvira foram respetivamente as cidades de Zamora e Toro.
Garcia como rei dessa Galiza cujo nome já não abrangia todo o espaço cristão norte –
ocidental peninsular, e sim estava limitada ao leste pelos Montes de Leão adota no seu
reino, várias medidas: a primeira restaurar Braga como centro do reino e levar a
cabeça de Lugo a Braga como correspondia, já não existiam razões para Lugo agir por
delegação de Braga.
Nessa Galiza de Garcia, Compostela a urbe que respondia ao projeto cristianizador de
Carlo Magno suplanta a Iria Flávia como cabeça do maior bispado da Galiza, e é essa
Compostela, a quem o Apostolo está a encher de Ouro e de ambições, quem, digamolo
suavemente, não gosta de Garcia e a sua política bracarense.
O reino da Galiza não era já um pequeno espaço no norte, pelo sul há já tempo que
tem incluída a região conimbricense, e tem já por zonas a sua extrema no rio Tejo.
Cobra ademais tributo das poderosas taifas de Badalhouce e Sevilha.
Afonso quem herdara o reino de Leão, com o seu centro curial, pronto se sente
imperador, e num golpe de mão com engano e colaboração de Sancho desfam-se de
Garcia encerra preso ao seu irmão Garcia e fai-se com a Galiza ocidental. O seu apoio a
Compostela e o abandono da política bracarense do seu irmão, pronto lhe dá
poderosos apoios na Galiza ártabra (e não é por casualidade que de Afonso VI o
imperador, venham a repousar os seus restos em Compostela).
Sancho o mais velho dos irmãos reis é não menos ambicioso que o seu irmão tamém
ambiciona todo o de Afonso com o que de seguida não tudo é entendimento, mas as
guerras constantes que o seu reino tem que levar contra Navarra e Aragão por
determinar as extremas, facilitou o trabalho de Afonso, porém o feito de estar sempre
em guerra preparou-o para se enfrentar a qualquer conquista, e acabou fazendo-se
com todos os territórios do irmão, mas com eles não durou nem um ano. Assaltando
Zamora, a fortaleça da sua irmã Urraca muito fidel de Afonso, faleceu, e Afonso
acabou recuperando o velho império todo do seu pai já bastante alargado.
Os Borgonhois
Afonso VI tem vários matrimónios (5), concubinatos e relações com várias mulheres,
do que ao final só vão resultar filhas sobreviventes. Do matrimónio-concubinato com a
viúva do rei de Córdoba (a muçulmana Zaida – ainda que a historiografia cristianizou-a
como Isabel) terá um filho e duas filhas. O primeiro Sancho a quem muito amava e era
o seu olho e a quem queria de herdeiro, morre na batalha de Ucles (ano 1108) e isso
dá-nos para conhecermos na crónica De Rerum Hispaniae do bispo de Toledo (cidade
que Afonso conquistara), o pranto do rei pelo seu filho – o qual aparece inserido no
texto latino na nossa língua galaico-portuguesa, o que nos vem a falar de qual era a
língua do poder e da corte.
Um dos matrimónios de Afonso VI, o segundo, foi com Constança de Borgonha (do que
sobreviveu a filha Urraca), o que levará a ter certas relações com Borgonha e que de
acolá venham ao reino nobres borgonhois como Raimundo e Henrique.
O Rei Afonso casou a sua filha e herdeira Urraca, com Raimundo de Borgonha (ano
1090), a quem se lhe garante o reino da Galiza, e a Teresa, uma rapazinha ainda muito
nova, a quem tivera dumas relações com Jimena Nunes, com Henrique (ano 1095),
quem é submetido a Raimundo com a obriga da guarda do limes sul da Galiza.
Raimundo muito faz para gosto de Afonso, desde a fortificação da cidade de Castela
conhecida por Ávila e nos textos antigos como A Vila, por ser território de fronteira, e
alargando os territórios para o sul pola extrema do reino da Galiza (a Estremadura). Foi
conquistando Santarém, assaltando as suas muralhas, que Raimundo de Borgonha
faleceu.
A Urraca viúva com o seu filho Afonso acha apoio protetor no poderoso bispo Gelmires
de Compostela, e quando esta casa com Afonso o Batalhador rei de Aragão, pronto
Gelmires -apoiando-se na vontade de Afonso VI faz rei da Galiza à criança (Afonso VII –
Reimundes – no ano de 1111) filho de Raimundo e Urraca, pois nele tem Gelmires um
instrumento das suas ambições políticas.
Afonso Henriques
Na Braga restaurada por Garcia não gostam da política imperial e desconsiderada da
recém chegada Compostela e começa a dar-se uma conjunção de interesses entre as
classes dominantes e o bispo de Braga.
Henrique de Borgonha como conde de Portucale o condado ao sul da velha Galiza tem
a inteligência política de passar despercebido, e ir construindo ali um governo local
tranquilo, no que age e a vez não discute a autoridade real. O Bispo de Braga e desde
muito cedo contrário a Compostela. A Compostela de Gelmires chegará a fazer uma
expedição a Braga para roubar o espólio de santos ali depositado –Pio Latrocínio – e
ganhar assim prestigio da vero caput para Compostela, frente a Braga, e ante o Papa.
Henrique de Borgonha com Teresa (designada na historiografia como de Leão) tem um
filho Afonso Henriques. E aceita-se que desde o ano do seu nascimento, 1109 até o
1128 viveu em Guimarães.
A mai estava muito ligada a nobreza do norte poderosa na corte de Leão e verdadeiros
pares do rei.
Porém a igreja de Braga e a nobreza local, que defendem os seus interesses empurram
ao puto (14-15 anos) contra a mai para terem assim um maior controlo local,
Em 1120, sob a direção do arcebispo de Braga, o puto Afonso tomou uma posição
política oposta à da mãe, quem apoiava o partido dos Travas (poderosa família galega
mui ligada a Gelmires nessa altura). O bispo, forçado a emigrar, levou consigo o infante
que em 1122 se armou cavaleiro em Tui.
Restabelecida a paz, voltaram ao condado. Entretanto, novos incidentes provocaram a
invasão do Condado Portucalense por Afonso Reimundes (VII) da Galiza, Leão e
Castela, quem em 1127 cercou Guimarães, onde se encontrava Afonso Henriques,
sendo-lhe prometida a lealdade deste pelo seu aio Egas Moniz, Afonso VII desistiu de
conquistar a cidade.
Mas alguns meses depois, em 1128, as tropas de Teresa e Fernão Peres de Trava
defrontaram-se com as de Afonso Henriques na batalha de São Mamede, tendo as
tropas do nosso puto de 17 anos com a bênção do bispo de Braga saído vitoriosas – o
que consagrou a sua autoridade no território portucalense, levando-o a assumir o
governo do condado.
Consciente da importância das forças que ameaçavam o seu poder concentrou os seus
esforços em negociações junto da Santa Sé, Afonso Henriques sempre bem guiado
pólo arcebispo de Braga Pedro (primaz da Galiza) com um duplo objetivo: alcançar a
plena autonomia da Igreja portuguesa e obter o reconhecimento do Reino.
Em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha de Ourique contra um forte
contingente mouro, D. Afonso Henriques recebe a coroa e a consagração de Rei de
Portugal do bispo de Braga João Peculiar.
Afonso VIII da Galiza e Leão
Em 1230 morre em Sárria Afonso VIII com 82 anos e trás mais de sessenta anos de
reinado na Galiza -na parte norte ou Ártabra desse território histórico – e Leão. Afonso
estava velho e canso, vinha de passar os últimos 16 anos da sua vida em guerra com o
seu filho Fernando, pois foi contra o parecer do pai proclamado rei de Castela, e para o
seu pai esse feito equivalia a renuncia de quaisquer direitos sobre as coroas de Galiza e
Leão
Afonso VIII casara com duas parentes de segundo grau, Teresa de Portugal. prima
direta, com quem tem duas filhas Sancha e Dulce (e um filho Fernando que faleceria),
matrimónio que a igreja rompe e obriga a novo casamento (por detrás está
Compostela). Rutura a que muito se resistiu pois estava fundamente namorado da sua
esposa e logo com Berenguela filha de Afonso VIII de Castela, tamém prima direta,
com quem tem a Fernando, mas este matrimónio a igreja consente e apoia pois estava
na linha do programa imperial peninsular da Galiza e Compostela.
O seu testamento é claro, as herdeiras dos seus tronos são as filhas de Teresa: Sancha
e Dulce (cada uma o seu); e como garantes, a sua mai, o Rei de Portugal e a Ordem de
Santiago. Qualquer solução incluída a união com Portugal é valida mas em nenhum
caso a unificação com Castela.
Fernando reclama (e paga muito). A Igreja da Galiza e de Leão está muito dividida e na
maioria e contrária a Fernando, mas a intervenção do bispo de Compostela e os de
Castela são decisivos para que o Papa declare ilegítimo o testamento do bom rei.
Compostela e certas camadas nobres galegas sentem que com Fernando III controlam
o centro peninsular, que o seu projeto imperial vai avante.
Portugal nunca aceita o ilegítimo acordo.
Com Fernando III, rei muito abençoado pola Igreja, que acabou por fazê-lo santo, o
projeto central castelhano avança, a reconquista avança até o estreito de Gibraltar, em
Sevilha e Toledo vai estar a corte sob a capa duma corte de nobres galegos, de língua
galaico-portuguesa, com galegos que se enriquecem neste processo, de filhos dos
nobres cortesãos que enviam os filhos a educarem-se com aios na Galiza, como o filho
do rei e futuro rei Afonso X.
Afonso X que brilhou nas nossas letras, porém foi quem impulsionou o primeiro
estatuto dominante para a escrita da chancelaria em castelhano. Sancho IV seu filho
ainda vai continuar ligado a tradição cultural galaica. A chegada ao trono com 9 anos
do seu filho Fernando apaga não pouco essa tradição, sob novos tutores e aios o
predomínio e domínio galaico da corte esvai-se, A nobreza galega e a igreja de
Compostela será firme no apoio a este rei como ainda um dos seus e assim como ao
seu filho Afonso XI e neto Pedro I.
Os interesses imperiais de Castela e a sua visão peninsular triunfam definitivamente
sobre os galaicos com o assassinato de Pedro I pelo mercenário bretom Douglesclin, e
com a chegada ao trono de uma dinastia limpidamente castelhana sob o nome galaico
dos trastámaras. As tropas galegas que se batem a prol de Pedro saem coa sua
nobreza dirigente muito diminuída em influência.
É a dinastia castelã dos Trastámaras a que vai tentar se apoderar de Portugal, que
renasceu logo triunfante em Aljubarrota frente a Juam I de Castela (trastámara).
Que houvesse passado se Afonso Henriques não fosse quem de iniciar um reino.
A monarquia portuguesa frente ao modelo imperial do norte, sempre com aspirações
peninsulares, centrou-se sobre sim própria e em consolidar pouco a pouco o seu
território, que ficava de costas a península, mas aberto ao mar. Sancho I, Afonso II,
Sancho II, esforçam-se nessa linha de conduta.
Se o puto Afonso Henriques e a sua cabeça pensante, o bispo de Braga, nom fossem
quem de achar um destino para o sul da Galiza alongado de projetos imperiais
peninsulares, hoje teríamos a Galiza unificada desde a extremadura ao norte, mas a
sua vida cultural e linguística não seria sequer tão pobre como a da Galiza atual. Seria
muito semelhante a que se vive no âmbito asturo-leonês-mirandês é dizer no velho
galaico-oriental (galor em palavras de Cosériu).
Essa visão que Portugal tinha de sim próprio é a que o levará a ser um centro dum
império com as costas viradas a península.
O português da Galiza
O galego da Galiza até para o mais ferrenho isolacionismo foi muito vivificado pólo
português universal e da corte de Lisboa. O português da Galiza tirado o muito que
sugou e continua a sugar do português, estaria limitado a uns dialetos rurais bastante
fraturados e os seus utentes só teriam para beber e encher os ocos criativos do mesmo
o castelhano, como é o que se passa nos restos que ficam do asturo-leonês.
O sucesso da nossa língua e cultura (ao norte e ao sul do Minho) deve-se ao projeto
que encetou Afonso Henriques virado de costas ao projeto imperial e originário
galaico. Não temos direito a reclamarmos nada sobre o nome internacional da língua,
já que se não fosse por Portugal nada seriamos nem nada teríamos ao norte e ao sul
do Minho
Afonso Henriques, da Galiza do sul fiz um Portuscale, um reino, e o galaico ou galego
desse reino acabou por ter por nome o do próprio reino, o galeguíssimo nome de
Portugal – português-.
O português da Galiza está na situação que está, por não sermos quem de assumirmos
que as falas galegas só podem viver no português universal, e que falarmos de galego
como contraposição ao português universal -o verdadeiro galego – e seguirmos
pagando as portagens imperais de Castela-Espanha.
Assumirmos a língua como português da Galiza é o melhor jeito galego de chamarmos
ao galego da Galiza para que poda ser ele mesmo e libertarmo-nos do ferrete
esmagador castelhano, pois o futuro do galego-castelhano é só um só – espanhol -.
APONTAMENTO FINAL
Faz bem Portugal em estar sempre à espreita e com receio do que vem do norte do
Minho, pois muito matute espanhol e espanholista se vende sob presunto galeguismo
e muito projeto imperial espanhol ainda paira em cabeças galaicas no avanço cara a
nada e cara nengures.
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Barros, Carlos. Mentalidad Justiciera de los Irmandinhos, Siglo XV. SIGLO XXI DE
ESPAÑA EDITORES 1990
Barbosa Alvares, José Manuel. Atlas Histórico da Galiza. Edições Galiza 2008
Merecem especial menção por terem sido os seus trabalhos muito influentes na
perspetiva destas reflexões historicistas, Os múltiplos artigos e eflexões de Ernesto
Vasquez Souza, e alguns trabalhos divulgativos do presidente da Associação Fala Ceive
do Berzo, Xavier Lago Mestre.
(Traduzido para português europeu. In Wikipédia 12 Dezembro 2005)
coloquioslusofonia@gmail.com /lusofonia@sapo.pt
Rede: http://www.lusofonias.net