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Uma declaração infeliz
O antigo presidente do Governo Regional dos Açores e presidente do PS-Açores e do PS-Nacional terá dito, segundo a imprensa e as redes sociais, que “os Açores são menos pobres do que se diz”, justificando que “as famílias têm mais rendimento do que a estatística aparenta”.
Vamos a ver se percebi: quando é para pedir dinheiro à República e à União Europeia, os Açores são a região mais pobre de Portugal e uma das mais pobres no espaço comunitário, mas quando estamos em vésperas de eleições legislativas regionais os Açores já são “menos pobres do que se diz”. Em que ficamos, afinal?
Há pobreza nos Açores? Há! E muita! Explícita e envergonhada, todos o sabem e conhecem. E tende a aumentar, devido à pandemia, que está a criar muito desemprego. Não vale a pena dizer o contrário. Se calhar, as estatísticas até pecam por defeito. E tanto assim é que repetidamente o Governo Regional dos Açores tem anunciado e concretizado medidas contra a pobreza, o que é de louvar e reconhecer. De resto, a pobreza está bem traduzida na quantidade de Rendimento Social de Inserção (RSI) que é distribuído no arquipélago. Admito, no entanto, que também exista falsa pobreza, pessoas que se habituaram aos subsídios e que não estão disponíveis para trabalhar, mas isso já é outra questão.
Carlos César ou já não conhece bem a realidade concreta açoriana, os Açores profundos, ou então excedeu-se em linguagem em ambiente eleitoralista. Seja como for, foi uma declaração infeliz. O padre dr. Weber Machado Pereira, considerado o “pai dos pobres”, pelas muitas ações que desenvolve silenciosamente por eles, talvez possa esclarecer melhor Carlos César, por quem tenho respeito e consideração.
A partir de agora, quando o Governo Regional dos Açores e outras entidades açorianas forem solicitar apoios financeiros ao Governo nacional e a instâncias europeias, é de esperar a resposta de que “os Açores são menos pobres do que se diz”…
Carlos César prestou muitos e bons serviços como presidente do Governo Regional dos Açores, é impossível dizer o contrário, embora nem tudo tenha corrido bem nos seus mandatos, mas desta vez prestou um mau serviço, porque a sua declaração não traduz a realidade e cria, obviamente, embaraços às autoridades governamentais açorianas e a outras entidades regionais, porque ficam com menos argumentos para solicitar apoios financeiros no exterior e de que tanto necessitamos.