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in diálogos lusófonos
Escrito por Eduardo Affonso
Ele desaba para um lado, com o suor escorrendo na testa.
Ela toma fôlego, e murmura, ainda arfante.
– Uau! Você foi formidável…
– Sério? Tão ruim assim?
– Não. Foi formidável. Sensacional.
– Ah, tá. É que “formidável” vem do latim “formidabilis, e significa “o que causa medo, terrível”.
– É? Não sabia. O que eu quis dizer é que você foi bárbaro.
– Desculpe. Não quis ser grosseiro com você.
– Mas não foi!
– Você disse que fui bárbaro. E bárbaro, do grego “barbaros”, quer dizer “estrangeiro, estranho, ignorante”.
– Imagina! Eu te achei ótimo. Um homem com pegada, porém intelectualmente sofisticado…
– Como assim? Eu não sou falso!
– Não falei que você é falso!
– Falou. Disse que sou sofisticado, e “sofisticado” vem de “sophisticare”, que é o mesmo que “alterar, adulterar, modificar com má intenção”, e de onde, inclusive, vem a palavra “sofisma”.
– Não! Eu quis dizer é que você é um homem ao mesmo tempo viril e fino (no bom sentido, claro!), do tipo que a gente não pode deixar escapar.
– Mas eu não estou usando capa.
– Hã?
– “Escapar” vem do latim “excappare”, de “ex” (movimento para fora) + “cappa” (capa) e o sufixo “are” (que indica ser um verbo). Ou seja, escapar é livrar-se da capa. A menos que você se refira à camisinha…
– Não, não. Já estou até arrependida de ter pedido para você pegar essa famigerada dessa camisinha.
– Mas famigerada – que é uma palavra latina, composta de “fama” + “gerere” – quer dizer algo afamado, que goza de boa reputação. E saiba que achei você muito esquisita
– Esquisita? Eu? (Cata as roupas no chão). Tô fora!
~ Espere! “Esquisito” tem origem no latim “exquisitus“, “procurado com atenção”, portanto, “de escolha especial, coisa muito boa” e… (ela bate a porta). Droga, de novo!
~
Moral da história: nunca vá para a cama com um etimologista. Ele sempre dará um jeito de explicar a origem das palavras – e acaba por complicar tudo. Aliás, “complicar” e “explicar” têm a mesma raiz, do latim “plicare” (ato de dobrar um papel), com os prefixos “com” (em companhia de) ou “ex”(para fora de), e é de onde também vieram suplicar, duplicar, explicitar e até de “cúmplice”, no sentido de… ok, deixa pra lá.
[Fonte: www.eduardoaffonso.com]
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Ludwig Wittgenstein (1889-1951)
Enviado por: Isac Nunes <puigllum@gmail.com>
A opinião é um adversário infernal que conta com a cumplicidade, enfim, da própria vítima./Raul Pompéia
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PRATIQUE A RECIPROCIDADE NA TROCA DE MENSAGENS.
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