a escrava açoriana DE ALMEIDA MAIA

 

crónica 463 a escrava açoriana DE ALMEIDA MAIA

crónica 463 a escrava açoriana de ALMEIDA MAIA 25.6.2022

A escrava açoriana de ALMEIDA Maia lê-se em dois fôlegos, dos grandes, umas primeiras 80 páginas ou tal, que se estranham pelo estilo diverso de livros anteriores, mas com a mesma eficiente recriação histórica ao detalhe.

Até um determinado ponto o enredo parece previsível de tão plausível que é, numa viagem pela saga heroica dos homens e mulheres que fizeram parte do Brasil e o construíram à força de trabalho, imigração ilegal, vontade de alforria como se a própria escravatura fosse melhor que a vida no arquipélago.

Depois, o enredo complica-se e entra numa montanha russa de mais uma centena de páginas até final com mais reviravoltas que um “roller-coaster” gigantesco de emoções, acontecimentos reais visitados e ficcionalizados, numa teia intrincada de emoções e sensações, independentismo, emancipalismo, femininismo, republicanismo sempre com volte-face de emoções e situações inesperadas e imprevisíveis, prendendo o leitor na espera de um desenlace que nunca surge como se antecipa, numa total antítese do que se esperava nas primeiras oitenta páginas.

Uma vez mais aqui e ali os mil e um detalhes da época, de cada época específica em que a ação decorre.

A magistral entrada em cena do quadro “Os emigrantes” de Domingos Rebello é de uma maestria soberba de imaginação.

Nada é forçado, nada é desfocado, nada é despropositado nesta narrativa empolgante, como já nos habituou o autor, que ara as palavras como quem cuida de colher filigranas. um livro a não perder de um autor que tem de – forçosamente – almejar a lugar cimeiro da escrita contemporânea em língua portuguesa, eivada da riqueza única da açorianidade literária, de uma universalidade sem fronteiras.

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