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Luís Aguiar-Conraria and Nuno Falcao Marques shared a post.
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A COVID-19 é uma doença muito contagiosa e potencialmente mortal, para a qual ainda não há (ainda) vacina nem tratamento eficaz. Entendo por isso que o vírus que a causa, o SARS-CoV-19, meta medo.
No entanto, o pânico que se instalou no mundo parece completamente desproporcionado face à ameaça que esta epidemia verdadeiramente representa: uma doença grave mas que praticamente só é perigosa para pessoas de idade avançada e com outros problemas de saúde.
Sou, como toda a gente hoje em dia, um mero epidemiologista de bancada. Procuro, portanto, quem saiba mais do que eu. O editorial do New England Journal of Medicine – um dos mais reputados jornais científicos de medicina – de 26 de março, de que é co-autor Anthony Fauci, diretor do National Institute of Allergy and Infectious Diseases nos Estados Unidos, avalia o grau de perigo da COVID-19 da seguinte forma:
“This suggests that the overall clinical consequences of Covid-19 may ultimately be more akin to those of a severe seasonal influenza (which has a case fatality rate of approximately 0.1%) or a pandemic influenza (similar to those in 1957 and 1968) rather than a disease similar to SARS or MERS, which have had case fatality rates of 9 to 10% and 36%, respectively.”
Perante esta ameaça – séria, mas não catastrófica! – a população mundial entrou em pânico. Pânico do desconhecido. Pânico da “peste” que julgávamos conquistada. O pânico de que Franklin Roosevelt tinha medo. O pânico que leva os lemingues a correr para o abismo…
Potenciado por media alarmistas – if it bleeds, it leads – e redes sociais que impõem uma pressão conformista que não via desde a quarta classe, este medo levou governos por todo o lado a instaurar medidas inauditas: quarentenas, fecho de escolas e do comércio, trabalho remoto, proibição de andar na rua, pacotes orçamentais e monetários de triliões…
São medidas inconcebíveis, tomadas por líderes que apenas reagem à opinião pública. Medidas tomadas com pouca informação; sem sequer testar a população para conhecer a verdadeira extensão da epidemia ou a taxa de mortalidade da doença. Medidas totalitárias, inspiradas pela China, e aceites de forma acéfala por todos. Medidas que talvez atrasem a progressão do vírus e “achatem a curva”, mas que seguramente paralisam a economia, com consequências trágicas para os mais pobres e mais desprotegidos!
Escrevo estas linhas do conforto da minha casa, espaçosa e aquecida, sem estar preocupado com o sustento da família nos próximos meses. Presumo que a maioria dos decisores políticos e quem me lê no Facebook olhe para esta epidemia de um ponto de vista de semelhante conforto.
Mas quem não tem educação ou emprego seguro é que mais sofre com a paralisação da economia. O quê que acontece quando ficam sem trabalho? Mesmo neste país comparativamente rico em que vivemos, há mais de um milhão de pessoas com empregos precários. Gente que trabalha nas obras e nas limpezas, nos restaurantes e no comércio. Gente para quem o tele-trabalho não é opção. Gente que não tem poupanças. Gente com filhos sem acesso à “tele-escola”.
Só daqui a alguns meses veremos os efeitos da crise económica chegar à classe média, com uma catadupa de despedimentos e falências, com mais um “enorme aumento de impostos”… Mas aí será tarde demais!
Governados pelo pânico, tomámos medidas extremas, sem precedentes em tempo de paz. Está chegada a altura de voltar a olhar para o problema, considerar a evidência, recolher mais informação se necessário e mudar de rumo. Tomar medidas com frieza racional e não como reação ao medo atávico da pestilência.
Volto a defender o fim da quarentena generalizada e substituí-la por uma quarentena direcionada a proteger os mais vulneráveis. Uma quarentena que concentre todos os recursos na proteção dos idosos e doentes, mais suscetíveis à epidemia. Mas que, ao mesmo tempo, permita reabrir a economia antes que, receio bem, seja tarde demais…
Concordem ou não, é importante ler opiniões diferentes da corrente dominante.