A DÉBIL ECONOMIA AÇORIANA

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Açores têm apenas 6 mil empresas. Taxas de rentabilidade são metade das empresas a nível nacional
Um estudo do Banco de Portugal, agora divulgado, analisa as empresas com sede na Região Autónoma dos Açores, revelando que, em 2018, tinham sede na Região 6 mil empresas, o correspondente a 1,3% das sociedades não financeiras a operar em Portugal.
Estas empresas eram responsáveis por 1,2% do volume de negócios das empresas portuguesas (4,7 mil milhões de euros) e 1,4% das respectivas pessoas ao serviço (43 mil pessoas).
Mário Fortuna, Presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, analisou o estudo e comenta que, com 2,4 % da população portuguesa, os Açores têm apenas 1,3% das empresas, “metade do que devia ter”.
“Este é um indício de uma fraca organização empresarial dos negócios e porventura de um elevado grau de informalidade nas actividades desenvolvidas. Seja qual for a razão, trata-se uma realidade que penaliza a geração de valor acrescentado na economia. Ficamos com uma economia pouco dependente da produção transacionável e muito de um sector público, por sua vez dependente de transferências do exterior. Trata-se de uma economia muito pouco autossuficiente”, observa Mário Fortuna.
Os serviços (comércio e outros serviços) representavam 79% das empresas da região e agregavam 68% o volume de negócios e 66% do número de pessoas ao serviço (75%, 61% e 64% no total das empresas, respectivamente).
Para o líder dos empresários açorianos, esta “dependência elevada dos serviços é por causa do turismo, mas, em parte, também por virtude das compras do sector público”.
86% são microempresas
Cerca de 86% das empresas sedeadas na Região Autónoma dos Açores eram microempresas (89% no total das empresas).
As pequenas e médias empresas, representativas de 14% das empresas desta região, eram responsáveis por 60% do volume de negócios e 57% das pessoas ao serviço.
Por classes de maturidade, a estrutura das empresas da região era similar à observada no total das empresas: 56% das empresas em actividade tinham menos de 10 anos (55% no total das empresas).
Em 2018, 3% das empresas da Região Autónoma dos Açores realizaram exportações e 1% dessas empresas integravam o sector exportador.
Este sector assumia menor relevo face ao registado no total das empresas: em 2018, 8% do volume de negócios das empresas da região foi gerado por empresas ligadas ao sector exportador, valor que compara com 35% no total das empresas.
Entre 2014 e 2018, o peso do sector exportador aumentou marginalmente na região, ainda que o volume de negócios gerado por estas empresas tenha diminuído 2 pp no mesmo período.
“Estes valores da exportação estão, naturalmente enviesados porque grande parte da produção dos Açores para venda no exterior é remetido para o continente, não fazendo, formalmente, parte das estatísticas da exportação. Existe uma lacuna nesta estatística por não haver dados dos fluxos inter-regionais de comércio em Portugal. Esta estatística seria particularmente interessante para o caso dos Açores e da Madeira”, explica Mário Fortuna.
O número de empresas em actividade na região aumentou 1,2% entre 2017 e 2018, crescimento inferior ao observado no total das empresas (3,1%).
Esta situação verificou-se pelo terceiro ano consecutivo.
Para o Presidente da Câmara do Comércio, “pese embora a dinâmica trazida pelo turismo na altura, os Açores evidenciaram uma dinâmica empresarial menor do que o resto do país, o que se explica com a absorção de recursos e oportunidades no sector público que “invade” o mercado tornando as actividades privadas menos competitivas”.
Empresas vivem sufoco
O volume de negócios das empresas da Região Autónoma dos Açores aumentou 5,6% em 2018, valor abaixo do observado pelo total das empresas (6,5%).
A subida do volume de negócios foi determinada, essencialmente, pelo mercado interno, com as exportações a representarem 4% do volume de negócios na região, o que, segundo Fortuna, significa que o crescimento inferior do volume de negócios está consistente com uma dinâmica económica inferior.
Já no que diz respeito às exportações aplica-se o comentário anterior sobre esta atividade. Muito do que vendemos para fora vai para Portugal Continental não sendo considerado exportação.
Entre 2017 e 2018, os gastos da actividade operacional das empresas da Região Autónoma dos Açores aumentaram 6% (7% no total das empresas).
O custo das mercadorias vendidas e das matérias consumidas (CMVMC) era a principal componente dos gastos da atividade operacional das empresas da região (61%), seguindo-se os fornecimentos e serviços externos (FSE) (23%) e os gastos com o pessoal (16%).
“Na estrutura de custos das empresas os custos com pessoal são menos do que 20% o que evidencia que políticas apenas de manutenção de postos de trabalho, sendo uma ajuda também para as empresas, deixa de fora os outros 80% dos custos de estrutura. Esta é uma conclusão importante para avaliar a suficiência/insuficiência das políticas delineadas para lidar com a pandemia”, alerta Mário Fortuna.
Em 2018, o EBITDA gerado pelas empresas da região diminuiu pelo segundo ano consecutivo (2%).
A rendibilidade dos capitais próprios das empresas foi de 4%, valor inferior ao registado no total das empresas (8%).
“Esta conclusão confirma o sufoco em que vivem as empresas dos Açores, com taxas de rentabilidade que são metade das que têm as empresas a nível nacional. O ambiente para asa empresas acaba, assim, por não ser bom quando comparado com o resto do país, pese embora todos os sistemas de apoio existentes. Melhorias na fiscalidade poderiam, seguramente, melhorar esta situação. Esta conclusão é também afectada por um número expressivo de empresas que registaram resultados negativos substanciais na esfera do sector público empresarial”, avança o Presidente dos empresários.
A autonomia financeira das empresas da Região Autónoma dos Açores ascendeu a 38% (35% no total das empresas), em 2018.
Fragilidades das empresas
Mário Fortuna, depois de analisar este estudo, conclui que, para o período em análise, que coincide totalmente ou em parte com o boom do turismo, “os Açores evidenciam fragilidades consideráveis do contexto empresarial”.
E explica: “Os indicadores mais sintéticos do desempenho das empresas, o EBITDA e a rentabilidade dos capitais próprios, evidenciam uma situação mais frágil a reclamar ação específica de correcção para uma melhor competitividade face à realidade nacional. Marcante nos resultados são alguns impactos negativos que só podem ser associados a empresas do SPER, assim como um impacto negativo expressivo dos pagamentos em atraso na estrutura de financiamento das empresas. Nos Açores o ambiente empresarial evidencia-se, através dos resultados, piores”.
Para o líder dos empresários, “esta situação deve ser corrigida com um contexto empresarial melhor, passando pelo equilíbrio indispensável no SPER e pela despenalização fiscal transversal à economia, em sede de IVA e de IRC, por exemplo”.
E acrescenta: “A pandemia de 2020 vem agravar ainda mais esta situação em todos os sectores, mas com especial incidência no cluster do turismo, recentemente endividado em novos projectos de investimento e actualmente a sofrer de gigantescos constrangimentos impostos pela gestão sanitária que tem vindo a ser aplicada. Com cerca de 2,4% da população e 1,3% das empresas nacionais, os Açores evidenciam um ambiente menos propício ao desenvolvimento da iniciativa empresarial privada, pese embora todos os sistemas de incentivos e os mais variados apoios ao emprego. Em geral, a competitividade é baixa e o contexto difícil, resultando num baixo nível de empreendedorismo, patente numa baixa dinâmica empresarial, uma situação que reclama mudanças estruturais verdadeiramente significativas e conhecidas”.
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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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