A CADA 4 ANOS ZONA FRANCA

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Açoriano Oriental, 8.8.2021
ZONA FRANCA
Tácticas
A apetência por cargos políticos consegue operar verdadeiros milagres. Cada vez que nos aproximamos de um acto eleitoral, com especial relevância para as Regionais e para as Autárquicas, somos surpreendidos por incríveis fenómenos.
Começando pelos Partidos, a cada quatro anos parece que surge algo inesperado: umas eleições. Tal como os alunos que se lembram de estudar apenas na véspera do exame, os Partidos descobrem a necessidade de encontrar candidatos só quando faltam cerca de três meses para o dia da ida às urnas.
O livro “A arte da guerra”, de Sun Tzu, descreve um general cujas qualidades são o segredo, a dissimulação e a surpresa. As tácticas para combater os inimigos mais perigosos, os do próprio Partido, obrigam à dissimulação para manter uniões de fachada, enquanto se espetam punhais nas costas. O segredo encobre as promessas de cargos e posições no xadrez político, colando cacos. A surpresa acontece a cada coelho que sai da cartola em jogadas de ataque ou defesa, sempre com o intuito de manter as lideranças. É importante vencer, desde que o vencedor não tenha ambição e condições para ameaçar a liderança partidária.
Nos jornais locais vão surgindo novos cronistas com uma legítima vontade de partilhar ideias e ter uma participação cívica. Na maioria das vezes, são actividades efémeras que duram somente no período pré-eleitoral ou enquanto têm assento na Assembleia Regional. Provavelmente, as ideias esgotam-se ou passam do prazo de validade.
Há pessoas com quem já nos cruzámos centenas de vezes sem que tenha havido um aceno de cabeça, subitamente descobriram que existimos e passam a cumprimentar-nos de forma efusiva. Essas mesmas pessoas, que nem sabíamos serem utilizadores do Facebook, enviam-nos pedidos de amizade e repetidos convites para que gostemos das suas páginas de candidatura. São comoventes acessos de afecto.
Surgem notícias, com demasiada frequência, acerca de Associações e Instituições em risco de encerrarem as suas actividades por falta de quem as lidere. São inúmeras as dificuldades em cativar voluntários para trabalharem em prol das comunidades em que vivem. Várias são as que se encontram encerradas. Invariavelmente, as desculpas para essa falta de disponibilidade para a causa pública passam pela falta de tempo.
A quantidade de gente que exerce cargos públicos sem nunca ter prestado qualquer serviço em prol da comunidade é uma afronta. De deputados a Presidentes de Câmara, são inúmeros os exemplos de quem nunca exerceu qualquer actividade de voluntariado. Alguns até gozam reformas com vencimentos vitalícios pelos cargos ocupados, mas não encontram tempo para apoiarem as instituições locais.
Os culpados de todas estas situações não são os políticos e os candidatos a políticos, mas sim quem se demite da sua função de votar e de exigir o cumprimento das obrigações de quem é eleito. A pouco mais de um mês de novas eleições, estamos muito a tempo de nos inteirarmos do perfil e das propostas de quem se apresenta a votos.
Temos de votar para conseguirmos a vitória do nosso progresso, mas como escreveu Sun Tzu: “Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível.”
luisvasco@susiarte.com
*ZONA FRANCA discorda ortograficamente
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